A proximidade do mar e o alto preço investido nos imóveis dos bairros da Zona Sul do Recife podem parecer sinônimos de qualidade e conforto. A realidade da área, porém, é bem diferente do que as aparências podem levar a concluir. Apesar de estar às margens da principal praia urbana da cidade, o bairro de Boa Viagem, por exemplo, está entre os mais quentes do Recife. É o que aponta um estudo do geógrafo especialista em clima urbano Elvis Mariz, doutorando da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Segundo ele, as temperaturas mais elevadas estão na Zona Sul, especialmente, nos bairros de Boa Viagem e da Imbiribeira. “Eles são caracterizados por um intenso processo de urbanização. O desenvolvimento desordenado é a principal causa para o aquecimento dessas localidades”, revela Mariz. Os moradores da região são os que mais sofrem. Dormir sem ar-condicionado ou ventilador é impensável. Banhos são mais frequentes, e as contas de energia, mais caras. A aproximação do verão, que começa oficialmente em dezembro, já preocupa os que vivem na área.

A publicitária Lorena Gouveia, 28 anos, alugou uma casa em Boa Viagem há 2 anos com a promessa de que o imóvel era bem ventilado. Logo no dia da mudança, ela percebeu que a circulação de ar era péssima. Hoje, quem sofre com o calor é o pequeno Caio, de 6 meses, filho da publicitária. “Ele não consegue ficar sem ventilador. Durante todo o dia, três aparelhos ficam ligados em casa, sendo dois só para Caio, que ainda assim fica suado. Preciso dar de seis a oito banhos nele por dia para que ele se sinta confortável com a temperatura”, conta a mãe. As contas de energia da residência, onde mora a publicitária, o marido e o bebê, ultrapassam os R$ 200 mensais. “Nem nas épocas de frio e chuva podemos deixar de usar o ar-condicionado para dormir. O gasto é muito grande”, afirma Lorena, que planeja se mudar para a Zona Norte do Recife até o fim deste ano. “Vou procurar um bairro mais arborizado, como Espinheiro ou Madalena, pois está muito difícil conviver com o calor de Boa Viagem.”

Há quem pague mais caro para ter um conforto maior. A engenheira Ioná Beltrão Rameh, 39, mora em um apartamento virado para o mar de Boa Viagem. A ventilação do imóvel é boa, segundo ela. Porém, os vizinhos que vivem em unidades voltadas para o lado contrário reclamam constantemente da sensação térmica. “Quando encontro outros moradores do condomínio, eles sempre se queixam do calor, pois a posição do apartamento deles é menos favorável”, diz. De acordo com o vice-presidente do Sindicato da Habitação de Pernambuco (Secovi), Elísio Cruz, essa situação é comum nos edifícios de Boa Viagem. “Os apartamentos chamados nascentes, ou seja, voltados para a praia, chegam a ser cerca de 50% mais caros que os voltados para o poente”, esclarece Cruz.

Saiba mais

Para identificar as ilhas de calor do Recife, foi usado um método consiste num processo de calibração radiométrica de uma imagem de satélite por um software

Uma imagem do Recife feita pelo satélite Landsat 5 TM em 2007 passou pelo software ERDAS Imagine 9.3 (licenciado pelo Departamento de Ciências Geográficas da UFPE)

Além disso, foi feita uma comparação com outra imagem, de 10 de julho de 1984

Isso permitiu a observação da evolução do processo de urbanização e sua consequência no aumento dos índices de temperatura da superfície

O que fazer para conviver melhor com o calor?

Apostar no verde, plantando árvores por perto ou em casa

Construir jardins nas coberturas

Solicitar ao síndico do edifício a implantação de um jardim articifial no topo do prédio

Pintar os telhados de branco também ajuda a diminuir o calor, pois a claridade irradia os raios solares de volta para o ambiente

Beber muita água sempre

Usar leques para economizar energia

Fonte: Diário de Pernambuco

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)