No lado esquerdo do peito, bate esse tambor silencioso
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
- Category : Clipping
“Atenção atleta Pernalonga, compareça à pista com sua rotina inicial”. Na fila de espera, Irton Silva, o skatista de 16 anos que não era o Pernalonga, se perguntava se seu nome havia sido riscado na lista de seu primeiro campeonato de skate, no centro do Recife, em 1989. Enquanto isso, compareciam Dr. Louco, Tapuru, entre outros apelidos cômicos, em vez do nome que amansaria a ansiedade batendo em Irton, novato no campeonato e incerto quanto ao segundo nome que lhe escolheram para participar. “Atenção atleta Batman, compareça aqui com sua rotina inicial”. O Batman não foi. “Como assim tem alguém com o apelido do meu ídolo? Ele deve ter uma coleção de gibis muito maior do que a minha”, pensava. “Atenção: segunda chamada pro atleta Batman”, insistia o locutor. Por fim, a última chamada impaciente “Quem é esse filho da mãe chamado Irton? Tá surdo, rapaz?”.
Era provavelmente a primeira vez (ao menos pública) que Irton, batizado como Batman naquele momento, era associado a surdos. Batman não é surdo, o apelido que lhe era desconhecido. É provável que ele tenha surgido no momento em que, durante inscrição do campeonato, Irton se justificava a uma fila de competidores inquietos que o segurança o barrava por não ter nome pra disputa. Ao virar-se de costas para o segurança, deixou escapar do bolso da bermuda a aparição de um gibi do herói, que costumava lhe acompanhar em qualquer andança pelas calçadas da Rua da Harmonia e por fora dela.
Hoje, aos 41 anos, 1,85 metros, rasta e com longos dreads que deram origem ao seu sinal entre a comunidade surda, a faceta do atleta de skate foi ofuscada pela do músico criador da metodologia das MusiLibras – método que encontrou para trabalhar elementos que compõem o ritmo com os surdos, que inclui, entre outras coisas, uma espécie de metrônomo para explicar tempo (andamento musical) e intensidade da música, quando substitui partituras por lâmpadas de diferentes cores e tamanhos. O nome sobrevivente de seu histórico nas pistas de skate, seguido pelo título de griô, ainda é coerente com a figura do herói engenhoso e apreciador do silêncio que estampava a marca do morcego pintado por ele mesmo em suas camisas, quando criança.
Fonte: Folha-PE
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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