O maior exemplo do poder transformador do voluntariado no Estado vem da Rede Feminina responsável pela fundação do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), cuja demanda diária é de mil atendimentos. Doações, oficina de peruca e artesanato, organização de bazar, entre os 15 projetos existentes fazem a diferença há 70 anos.

A instituição recebe a maior parte dos pacientes oncológicos do Estado, por isso virou referência no atendimento voluntário do câncer de mama do Nordeste, em ações e em quantidade de voluntários: 250 pessoas. E, de acordo com a presidente da rede em Pernambuco, Maria da Paz Azevedo Silva, ajuda nunca é demais.

Não são só mulheres integram essa rede solidária, homens também se juntam para dar sua contribuição. Trabalho é o que não falta.

Jean Almeida, 25 anos, seguiu o exemplo da avó voluntária e dá um expediente por semana respondendo a e-mails para a rede com sugestões, pedidos de informação e doações. Como multiplicador, tem influenciado amigos que buscaram engajamento em outros grupos.

Mas o perfil, geralmente é como o de Irene Elza dos Santos, 84. Há 25, a artesã passou por mastectomia na mama esquerda. Após a recuperação sentiu-se impelida a ajudar as mulheres com dificuldades maiores, porque além da doença tinham que se deslocar do seu domicílio para se tratar na capital. Irene começou a orientá-las sobre como se cuidar e fazer a drenagem no braço afetado pelo esvaziamento dos gânglios linfáticos axilares para evitar sequelas.

Já Maria Helena Montenegro Acioly, 62, coordenadora do Bazar da Rede FemininaEstadual de Combate ao Câncer de Pernambuco, não corresponde ao perfil do voluntário acometido pelo mal. Voluntária há 25 anos, Helena é responsável pelo controle de qualidade das doações. Uma parte é destinada aos pacientes internados, uma é vendida no bazar ao preço de R$ 10 e há outra aproveitada pela Comunidade Santa Terezinha, no entorno do HCP.

Entretanto, cerca de 60% das doações são destinadas mesmo ao lixo. A rede chega a receber roupas rasgadas e sujas, inclusive de menstruação; bolsos de roupas com preservativos usados nos bolsos e objetos que não servem nem para reciclar. “Lugar de lixo é no lixo”, lembra Maria Helena.

Uma dica fácil para discernir sobre a qualidade do que doar é fazer o exercício da empatia. Coloque-se no lugar do outro: e se fosse para você ou um dos seus?

As pessoas podem doar utensílios domésticos, roupas usadas ou novas (podem até estar descosturadas, mas não rasgadas), suplementos alimentares, leite em pó integral, alimentos não perecíveis, material de higiene pessoal como sabonete líquido (de preferência neutro), escova e pasta de dente, desodorante, Leite de Rosas, absorvente, colônias, talco e fralda geriátrica. Lenços de cabeça, calçados, roupa de banho, cabelo, meias (para proteger do frio nos pés), sutiãs, calcinhas e robes também são bem-vindos.

Cabelo é matéria-prima do projeto Doe fios de cabelo e troque por fios de esperança, oficina de peruca idealizada pela cabeleireira Silene Dahmnen. Como a quimioterapia provoca queda do cabelo, as mulheres têm como alternativa o uso de peruca. A de fios humanos chega a custar no mercado de R$ 2 a 6 mil. Mas na oficina as peças são doadas às pacientes do HCP, nunca vendidas. Como elas esquentam na cabeça, algumas preferem usar lenço.

Grupos menores cumprem papel igualmente importante no atendimento a pacientes carentes, como a Casa Rosa, que acolhe mulheres procedentes do interior para fazer tratamento no Recife. É o caso de Lidiany de Mineia Santos Nascimento, vendedora, 35, e a pescadora Cleidenir Ferreira de Oliveira, 37. As duas são de Petrolina, onde tiveram acesso a cirurgia e quimioterapia, mas onde ainda falta tratamento radioterápico. Este mês, a instituição, que só hospeda pacientes encaminhados pelos hospitais públicos de referência, está com quiosque solidário no Piso L1 do RioMar, com venda de artigos que serão revertidos para a manutenção da casa.

Fonte: JC