Cresce o número de crianças infectadas no Nordeste
A força do laço entre mãe e filho não pode ser negada. Sejam as questões do sangue, da convivência ou do amor materno pura e simplesmente, a ligação entre esses dois seres é sempre muito intensa. O que dizer, então, das mães e filhos que, além disso, dividem também o diagnóstico positivo para o vírus do HIV? Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento do HIV e Aids e das frequentes campanhas de prevenção, foi constatado no Nordeste, em 2010, o aumento nos casos de bebês que já nascem com o vírus. Infectadas durante a gravidez, o parto ou mesmo a amamentação – transmissão chamada vertical -, essas crianças compartilham histórias de rejeição, preconceito, mas, acima de tudo, superação.
De acordo com o Boletim Epidemiológico 2011, elaborado pelo Ministério da Saúde, para cada 100 mil habitantes da faixa etária de 0 a 5 anos no Nordeste, no último ano, 3,4 possuíam o vírus da imunodeficiência humana. Em 2009, esse valor era 2,6 para cada 100 mil. Tal crescimento também foi observado em Pernambuco, onde a taxa de incidência saiu de 3 em 2009 para 3,4 em 2010. No Brasil, já passa dos 14 mil o número de crianças com menos de 5 anos infectadas desde 1980. Em Pernambuco, são 421 casos até junho de 2011, colocando o Estado em segundo lugar no Nordeste e o oitavo no País em número de infecções Como explicar esse aumento, uma vez que o número de transmissões verticais tem caído no Brasil de uma maneira geral? Feminização da Aids, falta de informação por parte das mães, negligência médica, falta de estrutura na rede pública de saúde e até mesmo o medo de rejeição e preconceito figuram entre as causas desse crescimento, avaliam prossionais de saúde e ativistas ligados à causa.
TRÊS DÉCADAS
Desde a descoberta da Aids, há 30 anos, muitas alterações já foram observadas no perfil da doença. Tida antigamente como “a praga gay”, já se sabe hoje que essa é uma epidemia global, que atinge homens e mulheres de todas as faixas etárias e classe sociais. A cada ano, inclusive, tem diminuído a razão entre os casos de homens e mulheres soropositivos. Se em 1983, ano do primeiro caso confirmado de Aids em Pernambuco, eram 40 homens para cada mulher infectada, em 2010 esse número caiu para 1,7 homens para cada mulher. Além disso, 28,8% das brasileiras portadoras do vírus do HIV não completaram o ensino fundamental – têm de 4 a 7 anos de estudo -, dificultando a adesão ao tratamento e às formas de prevenção.
Despreparo das equipes médicas e falta de estrutura da rede pública também contribuem para o aumento dos casos de transmissão vertical, afirmam os próprios profissionais de saúde, com a demora do diagnóstico das mães sendo um dos principais problemas. Com isso, a profilaxia correta durante a gravidez, parto e lactação não são feitas, e as crianças são expostas ao vírus e às suas possíveis complicações. Entretanto ainda há casos de mulheres que, mesmo informadas sobre sua sorologia e os cuidados que devem ter no pré-natal e pós-parto, recusam o tratamento ou não seguem as orientações. Grande parte dessas mães tem a mesma motivação para essa atitude: o medo do preconceito e da rejeição. Não sabendo lidar com as pressões dos amigos, parentes e conhecidos, elas preferem levar uma vida dita “normal”, negando a doença, a correr o risco de terem a sua condição descoberta.
Por Thamillys Rodrigues
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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