Estudo questiona utilidade dos testes de QI
Os jovens vivenciam enormes oscilações de inteligência durante a adolescência, que demonstram que a habilidade intelectual, ao invés de estável, é um processo que acompanha o amadurecimento do cérebro, afirma um estudo, publicado na edição desta quarta-feira da revista britânica Nature.
Segundo a pesquisa, estas oscilações se devem a mudanças na estrutura cerebral e não a picos hormonais, o que desafia a teoria amplamente aceita de que a habilidade intelectual seria estável ao longo da vida.
Esta teoria ampara os testes de inteligência aplicados nas escolas de ensino fundamental e que, muitas vezes, definem a vida de um indivíduo, ao determinar as opções educacionais e profissionais que ele fará no futuro.
Em seu estudo, os cientistas acompanharam 33 adolescentes em 2004, quando os voluntários tinham entre 12 e 16 anos.
Eles utilizaram um teste padrão do coeficiente de inteligência, que mede o “QI verbal”, que avalia habilidades de linguagem, aritmética, conhecimento geral e memória, e o “QI não verbal”, como identificar partes faltantes de uma fotografia ou solucionar um quebra-cabeças visual.
Em um segundo teste, realizado entre 2007 e 2008, eles voltaram a reunir os jovens.
Nas duas ocasiões, os indivíduos foram submetidos a um exame com escâner de ressonância magnética, que captura uma imagem tridimensional do cérebro.
Em alguns casos, o QI dos adolescentes caiu, outras vezes aumentou, 20 pontos neste intervalo, em comparação com colegas da mesma idade.
Surpresa com a descoberta, a equipe recorreu às imagens da ressonância magnética e descobriu que os cérebros dos adolescentes tinham passado por mudanças significativas durante o intervalo de tempo analisado.
Por exemplo, um aumento no QI verbal foi associado com um aumento de densidade de matéria cinzenta no córtex motor esquerdo, parte do cérebro que ajuda a processar a fala.
O aumento do QI não verbal foi relacionado com uma progressão na matéria cinzenta no cerebelo anterior, associado com movimentos das mãos.
A elevação de um tipo de QI não foi acompanhado, necessariamente, pelo aumento em outro.
“Nós descobrimos uma mudança considerável em como os indivíduos se saíram nos testes de QI em 2008 em comparação com (o realizado) quatro anos antes”, afirmou Sue Ramsden, do Wellcome Trust Centre de Neuroimagem da Universidade College de Londres (UCL).
“Alguns tiveram um desempenho claramente superior, enquanto outros se saíram consideravelmente pior. Nós descobrimos uma correlação clara entre esta mudança de desempenho e mudanças na estrutura de seus cérebros, e assim podemos dizer com alguma certeza que estas mudanças no QI são reais”, afirmou.
Estudos anteriores já tinham destacado a maleabilidade do cérebro, um órgão que pode mudar de estrutura durante a vida adulta.
“A questão é, se nossa estrutura cerebral pode mudar durante nossas vidas adultas, nosso QI também pode mudar?”, questionou a chefe das pesquisas, Cathy Price, professora da UCL.
“Meu palpite é que sim. Há muita evidência que sugere que nossos cérebros podem se adaptar e sua estrutura, mudar, mesmo na idade adulta”, acrescentou.
Permanece nebuloso, no entanto, se as mudanças de QI na adolescência se devem ao desenvolvimento remoto ou tardio, ou se a educação influencia.
Se estas descobertas forem confirmadas, as implicações podem ser de grandes proporções.
“Nós temos a tendência de avaliar as crianças e determinar sua trajetória educacional relativamente cedo na vida, mas aqui demonstramos que sua inteligência provavelmente ainda está se desenvolvendo”, disse Price.
“Temos que ser cautelosos para não descartar aqueles com desempenhos piores em um estágio precoce, quando de fato seu QI pode melhorar significativamente alguns anos adiante”, acrescentou.
Fonte: AFP Paris
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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