Funcionários do Palácio do Campo das Princesas de malas prontas
Depois de 170 anos, o Palácio do Campo das Princesas deixará de abrigar a sede do governo estadual. Pelo menos temporariamente. O restauro do prédio construído pelo Conde da Boa Vista começa entre fevereiro e março de 2012 e deve durar três anos. Mas o tempo pode ser maior, caso os restauradores descubram mais trabalho do que o planejado. Pela primeira vez, funcionários como a governanta Vitória Maria da Silva e o segurança Iranildo Mendes, ambos com 33 anos de trajetória no lugar, passarão tanto tempo longe dos salões por onde caminharam 115 governadores de Pernambuco.
A recuperação de estrutura e mobília ficará a cargo da Fundação Roberto Marinho, com captação de recursos pela Lei Rouanet. Não se sabe, porém, se ao final o governador Eduardo Campos volta a despachar de seu atual gabinete. Cogita-se transformar o espaço em centro cultural – e o projeto já teria meio caminho andado com a experiência da abertura para a visitação, que teve início em 2007 por iniciativa da primeira-dama Renata Campos.
Se isso acontecer, pode até ser construído outro prédio para abrigar o estafe estadual. Caso retornem, a estrutura administrativa vai diminuir. Por enquanto, são apenas ideias. “Não abrimos essa discussão. Depende do andamento das obras”, encerra o chefe de gabinete do governador, Renato Thiebaut, primeiro entusiasta do restauro e incentivador do tombamento pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), que só se consumou em 2008.
Assim que a reforma engrenar, os cerca de 200 funcionários transferem-se de mala e cuia para o Centro de Convenções, em Olinda. Mas a governanta Vitória Maria da Silva provavelmente terá de se despedir de vez. Às vésperas de completar 70 anos, será jubilada. “Vou me aposentar, mas quero trabalhar até o final desta gestão”, comenta, resignada com o fato de o fechamento das cortinas não se dar no prédio ao qual chegou em 1978, pelas mãos de Margarida Cantarelli, então secretária do governo Marco Maciel.
Poucos conhecem os recantos do prédio como dona Vitória. Sob sua responsabilidade direta fica o terceiro pavimento, a joia do Palácio. É lá que se preserva a residência oficial, mantida mais como patrimônio histórico do que por sua função original. Ninguém dorme ali desde o início da década de 1990, quando Joaquim Francisco deu por encerrada a tradição. Dona Vitória viu e ouviu muitas histórias de dez governadores, memórias guardadas com a discrição que um membro do estafe governamental aprende a cultivar desde o primeiro passo sob aquele teto.
Difícil vai ser acostumar-se às paredes de concreto do Centro de Convenções, admite dona Vitória. “Às vezes me sinto melhor aqui do que em casa.” Não à toa, são incontáveis as madrugadas que adentrou trabalhando ali. Até já pernoitou, para fazer companhia à primeira-dama Ana Maria Maciel, que não gostava de ficar só com os três filhos quando o governador Marco Maciel se ausentava.
Testemunha da história do poder estadual, ela viu de perto chefes de Estado como o rei Carl Gustaf e a rainha Silvia da Suécia, ano passado, e o presidente venezuelano Hugo Chávez. Virou xodó do ex-presidente Lula, de quem guarda um pequeno acervo fotográfico. Mas nenhum momento está tão gravado na memória quanto o velório do ex-governador Miguel Arraes, em 2005. “Estava em casa e vi na TV. Vim correndo na hora”, relembra ela, que vivenciou a volta de Arraes como governador eleito, em 1986.
Outra que suspira de saudades por antecipação é a assessora da administração Elenice Godoy Ramos. É a segunda vez em 20 anos de casa que ela dirá tchau ao Palácio do Governo. Ficou afastada na era Jarbas, cedida à Assembleia Legislativa. Prestes a sair novamente do prédio, começa a sentir falta dos jardins e da agitação do projeto de visitação. “Com as visitas vivemos o processo de cuidar da Casa para receber as pessoas. Faço com prazer.”
Nesse ponto ela pode ficar sossegada. Segundo Renato Thiebaut, os passeios guiados continuam mesmo durante o restauro. Com agendamento, visitas às quintas e sextas. Aos domingos todos podem entrar sem marcar, das 10h às 12h e das 14h às 16h.
Fonte: Jornal do Commercio
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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