Imigração cria dilema para candidatos à Presidência dos EUA de olho no voto latino
Com uma fatia de quase 9% do eleitorado americano e o poder de decidir as eleições em várias partes do país, a comunidade latina nos Estados Unidos vem sendo cortejada tanto pelo presidente Barack Obama quando pelos republicanos que buscam a indicação do partido para concorrer à Presidência em 2012.
No entanto, em meio à pressão de setores mais conservadores do eleitorado por uma política de imigração mais rígida, a briga pelo voto latino pode representar um dilema para os candidatos.
O desafio é maior para os republicanos que disputam as prévias para escolher o candidato do partido contra Obama, que concorre à reeleição.
‘O eleitorado que vota nas prévias republicanas é extremamente conservador no que diz respeito a questões sociais, como imigração ou aborto’, diz o historiador político Allan Lichtman, professor da American University, em Washington.
Ala conservadora
‘Neste momento, entre 20% e 30% do Partido Republicano é anti-imigrante, são pessoas que não querem ouvir outra coisa que não seja a deportação de todos os ilegais’, disse à BBC Brasil Lynn Tramonte, vice-diretora da America’s Voice, organização liberal com sede em Washington que faz lobby pela reforma da imigração.
No entanto, segundo Tramonte, esses eleitores representam uma ala radical, e não a corrente principal do partido, o que pode tornar um candidato escolhido por essa parcela dos republicanos menos viável na eleição de novembro do ano que vem.
De acordo com Lichtman, para conquistar o eleitorado mais conservador, os políticos costumam adotar um discurso nas prévias, e outro após escolhidos.
‘Uma vez conquistada a nomeação do partido, os candidatos costumam mudar seu perfil, em busca do eleitorado geral’, afirma Lichtman.
Gingrich
Em meio a um eleitorado que rejeita qualquer anistia a imigrantes ilegais, um candidato surpreendeu recentemente.
Em um debate entre pré-candidatos republicanos, Newt Gingrich, ex-presidente da Câmara dos Representantes, disse que imigrantes ilegais que vivem há muitos anos nos Estados Unidos, tenham laços familiares no país, cumpram a lei e frequentem a Igreja não deveriam ser expulsos.
A reação dos adversários foi imediata, e Gingrich foi acusado de defender anistia a ilegais. No entanto, desde então o nome do candidato não parou de subir nas pesquisas de intenção de voto.
‘Não vamos dizer que foi por causa de suas declarações, mas certamente foi apesar de suas declarações’, diz Tramonte.
‘Há várias pesquisas que mostram que há eleitores (republicanos) até mais liberais que Gingrich em relação a imigração’, afirma.
Obama
Se do lado dos republicanos a dificuldade é equilibrar a postura rígida em relação à imigração com um discurso que conquiste o eleitorado latino, para Obama há o desafio de superar a decepção causada pela falta de avanços na reforma da imigração durante seu governo.
Em 2008, Obama foi eleito com grande apoio da população hispânica e prometeu que promoveria uma reforma nas leis de imigração já no primeiro ano de mandato.
No entanto, a crise econômica e a oposição no Congresso adiaram a reforma, e o problema dos 12 milhões de imigrantes ilegais (grande parte de origem hispânica) continua sem solução.
Além disso, a crise e a alta taxa de desemprego, que é mais alta entre os hispânicos, ajudaram a reduzir o apoio dos latinos a Obama, considerado crucial para a reeleição do presidente.
Estados
É nesse cenário que as campanhas de Obama e dos republicanos se lançam em uma batalha em Estados como Colorado, Nevada, Novo México ou Califórnia, onde o voto latino pode ser decisivo na eleição presidencial.
Segundo o National Council of La Raza (NCLR), grupo de defesa dos direitos civis dos hispânicos com sede em Washington, para vencer a Presidência um candidato republicano precisa de 40% do voto latino. Para um democrata, o cálculo é de 60%.
Em Nevada, onde os latinos representam mais de 25% da população e 15% do eleitorado e ajudaram a eleger Obama em 2008, o Partido Republicano vêm investindo na contratação de diretores regionais encarregados de conquistar o voto desses eleitores e fazer frente à presença dos democratas.
No Arizona, Estado do rival republicano de Obama em 2008, o senador John McCain, a aprovação de uma das mais rígidas leis estaduais contra imigrantes ilegais, no ano passado, abriu uma oportunidade inesperada para a campanha democrata em 2012.
Ativistas já estão instalados nas principais cidades do Arizona e trabalham dia e noite para mobilizar os latinos a votar em Obama em novembro.
No entanto, apesar dos esforços em Estados onde os latinos têm mais força, a batalha de ambos os partidos deve ser árdua.
‘A campanha ainda está muito no início’, disse à BBC Brasil o diretor de comunicações do NCLR, Julian Teixeira.
‘Até agora, a sensação é de que nenhum dos candidatos está fazendo nada para melhorar a situação dos latinos nos Estados Unidos.’
Fonte: BBC Brasil
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
Nenhum comentário