Na favela, muitas mulheres, poucos cuidados
A evolução dos indicadores referentes à qualidade de vida da população feminina da Rocinha está sendo monitorada pelo Rio Como Vamos (RCV) e, de acordo com o movimento, os dados são alarmantes. Segundo o Censo 2010 do IBGE, o número de mulheres na comunidade chega a 34 mil, quase metade dos moradores dessa Região Administrativa. No entanto, elas ainda sofrem com problemas básicos, como escolaridade precária, salários baixos e gravidez precoce.
Na Rocinha, por exemplo, vivem cerca de duas mil mulheres analfabetas. A falta de instrução, ou mesmo a baixa escolaridade, tem dificultado a inserção no mercado de trabalho e atrapalha a vida de aproximadamente 7.500 famílias da favela, que dependem da mão de obra feminina. Segundo o Censo do IBGE, cerca de 16 mil moradoras têm renda de, no máximo, dois salários mínimos.
Trabalho doméstico ainda é a principal ocupação
As ocupações, geralmente, estão associadas ao trabalho doméstico. Segundo o Censo Empresarial Rocinha, da Secretaria estadual da Casa Civil (março/2010), na comunidade há 5.600 faxineiras, babás e lavadeiras. Outras mil se dedicam à área de estética. Recepcionistas, secretárias, costureiras e educadoras completam o leque de atividades. Ainda de acordo com o censo empresarial, 43% dos pequenos negócios que prosperam na comunidade são gerenciados por mulheres. As que trabalham fora de casa enfrentam o clássico problema: a quem confiar os filhos enquanto trabalham? Cerca de oito mil crianças de até 6 anos vivem na comunidade, diz o Censo do IBGE.
O atendimento a crianças de até 3 anos em creches públicas ainda insuficiente na Rocinha. As duas creches mantidas pela prefeitura, segundo a Secretaria municipal de Educação, recebem 137 crianças a partir dos 6 meses, número que não se alterou nos últimos anos. Creches conveniadas, em espaços comunitários, são uma alternativa para muitas famílias, pois atendem a cerca de 1.200 crianças.
Diretora do Instituto Superior de Educação Pró-Saber, Cecília Almeida e Silva enfatiza a necessidade de qualidade nas creches e no pré-escolar, pois é nesta fase que a criança começa a desenvolver o seu aprendizado:
— A creche não pode ser um depósito de criança. Antigamente a criança só existia depois do parto. Hoje, todos sabem a importância do pré-natal para a gestação de uma criança saudável. A creche tem a mesma importância no aprendizado. Ela é essencial na construção do conhecimento e no combate à desigualdade entre crianças pobres e as que vivem num ambiente letrado.
Moradora da Rocinha e professora da creche berçário Maria Helena, que é conveniada com a prefeitura, Camila do Valle diz que a maior parte das unidades da região está bem estruturada e a maioria dos professores é especializada:
— A realidade das crianças em seu meio familiar é bem distante da realidade na creche, onde são bem atendidas, estimuladas e valorizadas.
Para saber como está a saúde feminina na Rocinha, o RCV buscou dados na prefeitura e constatou que, entre 2008 e 2011, dobrou o número de coletas de material para exame do colo uterino. As análises mostraram a presença de sífilis em gestantes, mas houve diminuição de 322 casos em 2007 para 237 em 2011.
O alto índice de gravidez precoce e a insuficiência de consultas pré-natal são problemas ainda não resolvidos na comunidade, segundo o Sistema de Indicadores do RCV. Mães com menos de 20 anos de idade tiveram 22% dos bebês nascidos vivos. O índice, considerado elevado, mantém-se praticamente inalterado desde 2006. Em números absolutos, adolescentes entre 15 e 19 anos dão à luz, a cada ano, a cerca de 250 bebês, segundo o Sistema Nacional de informações sobre Nascidos Vivos/SISNAC., do Ministério da Saúde. Há situações ainda mais dramáticas. Cerca de 22 crianças nascem por ano de mães com idade entre 10 e 14 anos.
Número de vítimas de violência está menor
Pelos dados do Rio Como Vamos, o percentual de gestantes que não completaram as sete consultas necessárias a um pré-natal eficiente aumentou de 34% para 52% entre 2006 e 2010.
No que se refere à segurança na Rocinha, há um dado positivo em relação à violência doméstica: reduziu o número de internações de mulheres na rede pública, vítimas de agressão. Desde 2007, quando foram registrados 31 casos, o número de internações vem caindo e chega a 23 casos em 2009, segundo o Instituto de Segurança Pública.
Seguindo a estratégia de monitorar a qualidade de vida da população o Rio Como Vamos vai acompanhar o desdobramento das políticas públicas que, na Rocinha, respondem a esse leque de necessidades das mulheres.
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