O tapa na cara da Geração X completa 20 anos

Existem várias formas de um grande disco entrar para a história. Romper com os padrões vigentes, som inovador ou ser trilha sonora de uma mudança de comportamento são algumas delas. Nevermind, segundo trabalho do grupo norte-americano Nirvana, não seguiu nenhuma dessas três, mas tem o frescor de um recém-lançamento até hoje, passados 20 anos de sua ida às prateleiras. A indagação “Por quê?” encontra resposta no comportamento dos jovens de ontem e hoje, ironicamente canalizados por Krist Novoselic (baixo), Dave Grohl (bateria) e, principalmente, o vocalista/guitarrista e principal compositor, Kurt Cobain.

Uma geração ao mesmo tempo atônita e apática, que não teve Muro de Berlim, Maio de 68, Vietnã nem Guerra Fria. Não tinha por que nem por quem ir às ruas. O acesso às informações não era grande como hoje, não havia nenhuma rede social para espalhar boato, tampouco ofender e elogiar seus ídolos diretamente.

» Ouça Nevermind

Diante de tamanho marasmo, somente uma barulheira daquelas para fazer alguém tirar as nádegas do sofá. A fórmula do Nirvana não era nova. O próprio Kurt Cobain admitiu, em entrevista à Rolling Stone em 1993, que tentava um som próximo ao dos Pixies, sua banda preferida, quando escreveu Smells Like Teen Spirit, a canção que catapultou o disco e a banda ao mainstream. Além do grupo já citado, o trio formado em Aberdeen, Washington, sofreu muita influência do punk rock, Black Sabbath, Sonic Youth, Melvins, David Bowie e até Beatles.

Essa mistura, com o toque de gênio de Cobain, criou canções fortes, agressivas, incômodas, mas, ao mesmo tempo, com melodias que grudavam na primeira audição. Atire a primeira pedra aquele que não saiu assobiando a introdução de Come As You Are depois de ouvi-la pela primeira vez.

A pancadaria começa com a já citada Teen Spirit e sua irônica letra. Ela está chateada e certa de si/Oh, não, eu sei um palavrão, diz a primeira estrofe. Para chegar ao refrão inesquecível: Aqui estamos/Agora nos entretenha (…) Sinto-me estúpido e contagioso (…) Um mulato, um albino, um mosquito, minha libido. Era o espelho que o Nirvana jogava na cara da garotada. O título da música saiu de uma marca de desodorante para meninas.

A falta de um rumo na vida dá o tom de quase todas as 12 músicas. Obviamente, cada uma passando por ideias diferentes, desde não querer gerar descendência – “Nós não temos que reproduzir/Podemos plantar uma casa/Podemos construir uma árvore/Eu não ligo mesmo“, em Breed -, passando por uso de substâncias para melhorar o humor, Lithium. Até chegar ao mea-culpa de Territorial Pissings (Tenho que encontrar um caminho, de encontrar um caminho, quando eu estiver lá) e Lounge Act (Não me diga o que quero ouvir/Com medo de nunca sentir medo). Uma das que escapou do tédio foi a quase balada Polly, que sutilmente trata de estupro – tema a ser aprofundado em Rape Me, do disco seguinte, In Utero.

HISTÓRIA – Nevermind saiu com uma tiragem inicial de 46.251 cópias nos EUA e outras 35 mil na Inglaterra. Antes, o grupo lançara o álbum Bleach, pelo selo independente Sub Pop. A perspectiva da Geffen para Nevermind era de vender 250 mil discos. Foi melhor que a encomenda. Como se fosse pouco, o pop barulhento de ouro a emergir das faixas, a bolachona tinha uma das capas mais lembradas da história do rock com a fotografia de um bebê, nu, numa piscina pronto para ser fisgado por uma nota presa a um anzol. Guns n’ Roses, Metallica e Madonna foram varridos das paradas.

O disco vendeu 11,5 milhões de cópias nos Estados Unidos e cerca de 26 milhões no mundo todo. Teen Spirit chegou ao sexto lugar na parada da Billboard e o clipe era tocado à exaustão na MTV. Chegou a um ponto que o ciclotímico Kurt Cobain desenvolveu aversão por sua maior criação. Visivelmente irritado por ver os garotos irem ao show apenas para ouvir uma música, deixou de tocá-la diversas vezes. “Eu acho que existem tantas outras músicas que eu escrevi que são tão boas quanto, se não melhores, do que essa tal aí, como Drain You“.

Durante dois anos, a banda colheu os louros de sua obra mais famosa. Mas foi ela, a fama, a jogar tudo por terra. Dono de uma personalidade extremamente sensível, Kurt Cobain começou a perder o controle sobre seus demônios pessoais – leia-se a depressão que o atormentava desde a infância. A exposição da qual foi vítima o deixou ainda mais perdido e isolado. E o corpo reclamou na forma de uma insistente gastrite.

Nesse turbilhão, ele ainda trouxe a banda ao Brasil em janeiro de 1993 para o Hollywood Rock. Tocando tremendamente mal, chamou a atenção por ter cuspido várias vezes nas câmeras de TV que transmitiam o show e pela tentativa de mostrar os genitais do que pela música. Ainda assim, em setembro, o grupo lançou ao mundo In Utero, um álbum denso e pesado, que poderia muito bem servir de epitáfio para o líder.

Finalmente, no dia 4 de março de 1994, Kurt tentou se matar com uma mistura de 50 pílulas de Rohypnol e champanhe. No final do mesmo mês, trancou-se no quarto com uma arma. Sua então esposa, Courtney Love, chamou a polícia, que frustrou suas intenções. Mas ninguém pôde evitar o que aconteceu no dia 5 de abril. O compositor deu um tiro na própria cabeça com uma espingarda. Deixou uma carta-testamento escrita em tinta vermelha. Tinha 27 anos.

No ano seguinte, o DNA do Nirvana renasceu com o Foo Fighters, liderada pelo antigo baterista, Dave Grohl. Ele trocou as baquetas por uma guitarra e alçou belo voo sozinho, chegando a ganhar três vezes o Grammy de melhor álbum de rock. O baixista Krist Novoselic continou como baixista em várias badas e hoje toca na Flipper. Também virou militante do Partido Democrata dos EUA.

Fonte: NE10

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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