Recife, a capital do Brasil
Na antiga Mesopotâmia, um grupo de migrantes construiu uma imensa torre que teria o céu como limite. Tomando o gesto como afronta, Deus destruiu a edificação e confundiu os homens, criando vários idiomas e raças. A narrativa bíblica, agora, tem a sua releitura na Região Metropolitana do Recife (RMR). É nesse pedaço de território que pessoas de diversos estados do Brasil e até de outros países estão se concentrando, com a ambição de conquistar uma vida com mais qualidade. São homens e mulheres atraídos pelas recentes oportunidades geradas pelo desenvolvimento econômico da região, que chegam com a expectativa de traçar uma nova história. Gente com culturas, hábitos, sotaques e até línguas diferentes que está fazendo da RMR uma nova babel.
Dados da Agência Condepe/Fidem confirmam que a sensação que os pernambucanos têm de estarem vivendo num lugar cada vez mais cosmopolita não existe por acaso. Entre 2009 e 2010, mais de 50 mil pessoas de fora da RMR fixaram residência aqui. Dessas, mais de 30 mil são de outros estados e países. Isso é mais que o dobro da quantidade de nativos que estão tentando a vida no exterior (segundo o Censo 2010, são quase 14 mil pernambucanos morando além das fronteiras nacionais). Os empregos oferecidos pelas empresas que se instalaram no complexo industrial e portuário de Suape, entre Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, são os maiores responsáveis por essa captação.
A chegada desses migrantes tem sacudido a dinâmica social e econômica dos municípios que mais os têm acolhido. Por causa do aumento da procura por moradia e do deficit de ofertas, os valores dos imóveis em Candeias e Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, e em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, pipocaram. Esses são os bairros que têm atraído os trabalhadores com salários mais elevados. As praias do Litoral Sul também têm recebido pessoas com esse perfil. Para se ter ideia, o Sindicato da Habitação de Pernambuco (Secovi) estima que o aluguel de um apartamento em Candeias está custando 100% a mais do que há três anos. Fazer a feira, sair para comer e passear com a família também ficaram mais caros.
Em contrapartida, novos negócios surgiram e outros foram ampliados para cativar a nova clientela. Quem já atuava na região está se adaptando aos gostos dos “estrangeiros”. O gerente da padaria Santo Cristo, em Candeias, Gustavo de Lira, 31 anos, comemora as mudanças. “Nunca vendi tanto bolo-de-rolo como agora. Eram 40 quilos por mês e hoje são cerca de 120”, conta.
O diálogo entre as culturas é um dos pontos positivos dessa miscelânea que se tornou a RMR. A avaliação é do doutor em sociologia e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Diogo Helal. “Está havendo uma troca e uma convivência muito afirmativa de diferentes culturas. Com isso, o Grande Recife se insere no rol de cidades com aspecto cosmopolita, com pessoas de diferentes raças vivendo e circulando por aqui”, analisa. Ele acrescenta que, para os forasteiros, o processo de adaptação costuma ser menos doloroso e mais rápido. “No primeiro momento, as famílias tendem a se dedicar mais ao trabalho. Mas, aos poucos, elas vão procurando criar novos laços de amizade e, para isso, estar aqui ajuda bastante, porque somos receptivos e acolhedores”, pontua.
Ele lembra que São Paulo viveu o mesmo processo durante a expansão industrial. “Estamos falando de um universo menor, mas podemos aprender com o exemplo de São Paulo. O Recife tem o desafio de oferecer infraestrutura e um conjunto de serviços urbanos que o torne atraente não só pelos empregos, mas por ser um lugar bom para se viver”, conclui.
Fonte: Diario de Pernambuco
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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