44% das classes A e B têm origem humilde e são a 1ª geração rica da família
A empresária e cabeleireira Beatriz Maria de Jesus, de 68 anos, não nasceu em berço de ouro. Com cinco dias de vida, foi entregue em adoção pela mãe biológica, natural de Curvelo, a uma família humilde de Belo Horizonte. O primeiro emprego conseguido por Bia, como é conhecida pelas cerca de 2 mil clientes que passam semanalmente pelo salão que comanda no Bairro Santo Agostinho – reduto de endinheirados da capital mineira –, foi como faxineira num salão de beleza. De tanto ver a patroa arrumando os cabelos das clientes, Bia foi aprendendo a arte dos penteados e cortes de cabelo. Hoje, garante trabalho para uma equipe de 48 colaboradores, que vão de manobristas a cabeleireiros altamente qualificados.
“Eu lavava os carros das pessoas que frequentavam o salão e, quando a dona saía, de tanto observá-la trabalhando, resolvi imitá-la e passei a arrumar os cabelos das clientes”, lembra a empresária, que por causa de sua profissão já visitou 28 países ao redor do mundo. A última viagem, feita em outubro, foi para Jerusalém. “Foi a grande viagem da minha vida. Fui para agradecer muito a Deus por tudo o que ele fez por mim. Quando fui adotada, minha família era pobre, mas havia muita dignidade na nossa pobreza”, diz emocionada e com a voz entrecortada pelo choro, ao relembrar a sua história.
Assim como Bia, segundo dados do instituto de pesquisa Data Popular, 44% dos brasileiros que fazem parte das classes A e B são a primeira geração de endinheirados da família. Renato Meireles, presidente do instituto, explica que esse movimento de ascensão social é fruto do crescimento e distribuição de renda no país, além do aumento nos níveis de escolaridade. Ele estima que cada ano de estudo pode representar uma elevação de até 15% nos salários. Nos próximos três anos, mais 7,7 milhões de pessoas devem ascender à elite, um crescimento de 29%. “Outro indicador que pesquisamos é que, quanto maior a renda do brasileiro, maior o nível de felicidade”, observa Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).
A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República calcula que a renda familiar média da classe A é de R$ 12.988, enquanto a per capita é de R$ 4.687. Já a renda média das famílias de classe B é de R$ 4.845 e per capita de R$ 1.503. Na avaliação de Meireles, o fator empreendedorismo foi determinante para que mais brasileiros ingressassem nas classes com maior faixa de renda. “Em um país em que o consumo é forte fica fácil empreender”, ressalta.
Apesar da intensa mobilidade social, as pessoas da nova elite mantêm hábitos de consumo herdados dos tempos em que não eram abastadas. Fazem pesquisas de preço, parcelam as aquisições e compram para mostrar que atingiram um padrão sofisticado. Atentas a esse fenômeno, marcas de luxo internacionais adequaram as regras que adotam em outros países na hora de fechar um negócio à realidade brasileira.
Simpatia e garra
Aos 10 anos, Léa Rodrigues Amaral, cansada de ir descalça para a aula e de ter que pedir roupas emprestada, desabafou: “Quando eu crescer, quero ser costureira para ter muitas roupas novas e quero ver o meu nome num letreiro luminoso”. Ao ouvir o desejo da filha, sua mãe fez uma simpatia. Pegou uma tesoura e cortou as unhas das mãos da menina em cima de uma velha máquina de costura que tinha em casa.
Anos depois, Léa garantiu espaço como profissional da alta-costura em Belo Horizonte, onde chegou a ser dona de confecção com roupas vendidas em todo o Brasil. Junto com o marido, morto há cinco anos, formou sua família, transformando inteiramente a dura realidade de outrora. “Meu marido era faxineiro, lavava o banheiro do Banco do Brasil. Estudou sozinho para passar no concurso. Tivemos uma longa parceria na vida. Origem humilde não é nenhum defeito. Você tem que ter força e garra. A dificuldade nos fez ir para a frente, contra tudo e contra todos.”
Fonte: Estado de Minas
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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