Crescimento econômico impulsiona invasão do mercado de luxo no Recife
Há cerca de cinco anos, pensar que o Recife se tornaria uma das rotas principais das mais importantes grifes de luxo do País era praticamente um delírio.
Com exceção de lojas multimarcas como a DonaSanta, a Musa Maison e a Moda Internacional, as opções de compra no estado eram raras.
O estabelecimento físico das marcas internacionais na capital pernambucana – sem contar a experiência de compra pela Internet – era bastante escasso. Mas os tempos de carência de opções luxuosas estão com os seus dias contados.
O ‘boom’ econômico pelo qual o estado passa tem atraído investimentos na área – e 2012 é o marco de uma nova era pra quem mora em Pernambuco e gosta desde as chamadas “fastfashion” (a moda presente em grandes lojas de departamentos) até roupas que têm acabamentos semelhantes aos de uma obra de arte, a exemplo de vestidos que mesclam o trabalho artesanal e a alta costura, como é o caso da grife Carlos Miele, cuja loja foi inaugurada em abril deste ano na 5ª etapa do Shopping Recife, no bairro de Boa Viagem.
“Pernambuco possui o décimo maior PIB do Brasil e Recife é uma das 65 cidades com a economia mais desenvolvida dos mercados emergentes no mundo. Durante a crise de 2009, apresentou um dos melhores desempenhos do País pela pouca dependência que tem do mercado externo. Esses fatores certamente chamaram a atenção de grandes grifes para o potencial lucrativo do estado e contribuíram para que os investimentos aumentassem”, afirmou o estilista, em entrevista exclusiva ao G1.
A chegada das marcas internacionais que inauguram as suas primeiras lojas no Nordeste e no Recife é baseada, claro, em pesquisas e dados econômicos. “Analisamos o crescimento do PIB de Recife nos últimos anos e observamos que é maior, comparado a outras cidades brasileiras”, afirmou Miele.
Lucio Salvatore, artista plástico italiano e sócio da grife de sapatos e acessórios de luxo Constanza Basto, compartilha dessa visão. “Pernambuco vive realmente um período de prosperidade e tem um índice de crescimento acima da média nacional, com um grande fluxo de capitais nacionais e estrangeiros que identificam a área como estratégica em vários setores da economia. Cresce a demanda por produtos e serviços de qualidade, especialmente no Recife. A capacidade lucrativa da região neste momento é uma evidência, não somente no ramo de moda, estilo e beleza: basta andar pela cidade e ver o número de restaurantes de luxo que estão abrindo e que são concorridos. Há um público muito sofisticado no Recife”, explicou Salvatore, também em entrevista exclusiva ao G1.
Cid Lobo, presidente em exercício da Câmara dos Dirigentes Lojistas do Recife (CDL-Recife), reforça a tese. De acordo com ele, a invasão de grifes de luxo acontece porque o Nordeste apresenta um crescimento econômico acima da média nacional, e Pernambuco é o estado com o segundo maior número de milionários do Norte e Nordeste. “Recife é a cidade com o maior PIB per capita do Nordeste, segundo o IBGE. É a sexta cidade mais promissora no mercado de luxo do Brasil e a mais promissora também no Norte e Nordeste”.
Porta do luxo no Nordeste A ebulição e avidez por consumir artigos de luxo é sentida também pelos vendedores. “Fiquei surpreso com o movimento, não tinha noção de que seria assim. Antes, Recife vivia uma escassez de novidades. Sinto que as pessoas estão surpresas com os preços também, porque você vê aqui peças de glamour a preços acessíveis. Desde que abrimos o movimento nunca caiu e, no comércio, tudo oscila muito de acordo com a época do ano. Há clientes que vêm toda semana”, comentou o subgerente de vendas da John John, Fabrício Medeiros, 30 anos.
Além do movimento em alta com a clientela local, o Recife viabiliza o fenômeno em outros estados da região. “O público de Pernambuco está, sim, preparado para receber lojas com o nosso perfil. Estamos expandindo a clientela para pessoas que vêm de João Pessoa, Maceió e também do interior de Pernambuco, sobretudo das cidades de Caruaru e Petrolina”, conta Karla Santos, gerente de vendas da Tânia Bulhões, loja de artigos de perfumaria, aromas, móveis e pratarias.
Ainda de acordo com Lobo, quatro fatores são determinantes para o ‘boom’: a economia em desenvolvimento; as facilidades proporcionadas pelas linhas de crédito, uma característica tipicamente brasileira; a estabilidade econômica, que é uma segurança para investimentos exteriores; e a mudança de foco das marcas internacionais, que começaram a enxergar no Brasil um nicho interessante de possibilidades.
“As grifes de luxo não conseguem expandir seus negócios na Europa que, apesar de ser um mercado maduro, sofre o reflexo da crise econômica, deixando os consumidores em estado de alerta. E a nossa classe média tem maior acesso aos produtos de luxo que, simbolicamente, demarcam sua ascensão social. Baseado nessas premissas, as expectativas são de que o mercado de luxo continue crescendo”, informou Lobo.
Em outubro, o grupo empresarial pernambucano JCPM vai inaugurar o Shopping Rio-Mar, no bairro do Pina, empreendimento com 286 mil metros quadrados, que agrega parques, complexos empresariais, teatro e salas de cinema.
Riqueza cultural em foco Mas não são apenas os fatores econômicos que ampliam a difusão dos negócios de luxo. A riqueza cultural de Pernambuco também transforma o estado em uma plataforma da moda brasileira para o mundo. Para Miele, considerado pela crítica de moda mais respeitada do mundo, Suzy Menkes, do The International Herald Tribune, como o “mestre das cores e estampas vibrantes”, a capital pernambucana representa perfeitamente o ‘lifestyle’ tropical e mestiço do Brasil.
“Adoro o jeito descontraído, mas sofisticado, das mulheres do Recife. A maneira como elas transitam do dia para a noite, a consciência que têm do corpo e como são naturalmente sensuais. É ainda uma das cidades que melhor misturou as influências nativas com as europeias, tendo, portanto, uma das culturas populares mais ricas e contemporâneas do mundo, o que se reflete na música e no trabalho artesanal”, disse o designer, que já realizou várias parcerias com o músico recifense Naná Vasconcellos.
Nos shows e tapetes vermelhos dos eventos mais chiques e badalados do mundos, as criações de Miele costumam vestir Sarah Jessica Parker, Jennifer Lopez, Beyoncé, Eva Longoria, Christina Aguilera, Scarlett Johansson, Alessandra Ambrosio, Florence Welch (vocalista do grupo Florence and The Machine), Rihanna, Sandra Bullock, Blake Lively, Alicia Keys e Camila Belle (eleita a número 1 na lista entre as “10 mais bem vestidas” da Vogue América).
Entre as atrizes globais, Adriana Birolli, Paloma Oliveira, Ísis Valverde, Carolina Ferraz, Angélica, Mariana Ximenes, Thania Kallil e Guilhermina Guinle já usaram os vestidos do estilista, consagrado internacionalmente nas maiores semanas do planeta, como as de Londres, Paris e Nova York. Na novela Avenida Brasil, as personagens Nina (Débora Falabella) e Alexia (Carolina Ferraz) também têm modelos de Miele na trama.
Melhora da autoestimaConsumidora ávida de estilo e moda, a dentista Danielle Ferraz, 40 anos, comprova que a autoestima das pernambucanas anda em alta. De acordo com ela, a confecção local também é um atrativo a mais para os investidores. “O melhor da cultura de luxo ter chegado ao Recife é que agora não temos mais que ir buscar as peças fora, embora eu ache que, em muitos aspectos, a confecção daqui é superior a muitos trabalhos lá de fora. Eu já morei em Paris, e não acho que nos vestimos pior do que as parisienses, por exemplo. Em geral, acho que a moda brasileira não deixa nada a desejar”, disse.
A sensação de exclusividade é um fator que chama a atenção na hora da compra. “Eu gosto de estar arrumada durante as 24 horas do dia. Isso aumenta a autoestima. E com a autoestima elevada, você se posiciona bem em todas as situações”, acredita a consumidora Hermínia Campos, defendendo as benesses de investir em artigos de moda.
Hábitos de consumo Entretanto, a mudança no comportamento de consumo local ainda é vista com parcimônia por alguns consumidores. Aos poucos, a clientela começa a valorizar a experiência de luxo e a abrir portas para investimentos financeiros em setores como moda, beleza e estilo.
Até as pessoas entenderem que não se trata apenas de peças e acessórios caros, mas de uma experiência de consumo com valor agregado, isso vai demorar um pouco. É o que pensa a dentista Danielle Ferraz. “Acho que, por enquanto, ainda é um grupo seleto que está preparado para receber o mercado de luxo nos setores de moda e beleza aqui. Ainda há um preconceito em torno de assuntos como estilo, por exemplo. As pessoas ainda precisam abrir a cabeça, até mesmo a elite. Apesar de muitos terem dinheiro, poucos são os que realmente investem em moda”.
Maria Eugênia Monteiro vê a abertura de grifes internacionais em Recife como o primeiro passo para a chegada de novos investimentos. “Acho que a chegada da cultura de luxo no Recife e no Nordeste ainda está engatinhando. Mas já foi um grande passo a inauguração da quinta etapa do Shopping Recife. As pessoas viajavam e comparavam fora os produtos de luxo. Agora, têm acesso direto a eles”, afirmou.
Com tantos investimentos, uma tradição vanguardista e a prosperidade no cenário econômico atual do estado, a tendência é que se consolide cada vez mais a abertura para uma cultura de consumo de luxo entre os pernambucanos das classes A e B. “A moda reflete o comportamento de uma época”, ensina Miele. E os novos tempos – e estilos a serem revistos e reinventados – parecem ter chegado para ficar em Pernambuco.
Fonte: G1
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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