Em Brasília, ‘concurseiros’ apoiam greves de servidores

Fernando Freitas e Thiago Fassanaro (Foto: João Fellet/BBC Brasil)A greve que se alastrou por cerca de 30 órgãos federais e deve nesta terça-feira levar à Esplanada dos Ministérios pelo menos mil servidores que pleiteam aumentos salariais tornou-se assunto recorrente nas rodas de candidatos a cargos públicos.

À porta de um dos maiores centros de preparação para concursos em Brasília, o Gran Cursos, estudantes engrossavam o coro dos manifestantes.

“Se estivesse lá, também faria greve”, diz a aluna de pedagogia da Universidade de Brasília (UnB) Cecília de Souza, 22, que busca um cargo técnico no Ministério da Fazenda. Segundo ela, aumentos salariais tendem a motivar os servidores, melhorando a qualidade dos serviços públicos.

“A hora de batalhar é agora”, diz Fernando Freitas, 25 anos, que prestará concursos para as polícias Civil e Militar do Distrito Federal (ambos os órgãos têm feito paralisações em prol de melhores condições).

“O governo diz que não tem dinheiro, mas abre os cofres para organizar uma Copa do Mundo. O mundo hoje tem um outro olhar sobre o Brasil, a máquina pública não pode ficar obsoleta”, afirma à BBC Brasil.

Também em busca de um cargo no setor de segurança pública, Thiago Fassanaro, 29, cita outros argumentos em defesa do movimento. “O crescimento da economia e a ascensão da nova classe média exigem mais serviço público.”

Aumento do setor público

Souza, Freitas e Fassanaro integram um grupo cada vez maior de brasileiros que buscam ingressar em carreiras públicas, atraídos pelo aumento de vagas e pelas vantagens concedidas nas últimas décadas ao setor.

Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), 155.534 pessoas foram contratadas em concursos públicos da administração federal, número três vezes maior que os 51.613 ingressantes na gestão Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

De acordo com o órgão, porém, a saída de servidores por aposentadoria fez com que o número de funcionários ativos na administração federal em 2010 (631 mil) ficasse abaixo do pico medido em 1992 (680 mil). Em 2011 e 2012, o número de funcionários se manteve estável.

Segundo o empresário José Wilson Granjeiro, dono do Gran Cursos, cerca de 5 milhões brasileiros prestavam concursos públicos anualmente no início da década de 1990. Em 2011, diz ele, o número subiu para 30 milhões.

Nos últimos anos, diz Granjeiro, a concorrência pelas vagas aumentou com a ascensão dos brasileiros mais pobres. Hoje, segundo ele, metade dos que se preparam para concursos públicos pertencem às classes C e D.

Granjeiro afirma que a procura por cargos públicos também cresce motivada pela crise econômica mundial, que gera maior instabilidade na iniciativa privada. “Eles (candidatos) querem a certeza do contracheque no fim do mês.”

Afinidade

O empresário diz que uma enquete entre seus alunos revelou que, ao pleitear cargos públicos, os candidatos buscam, por ordem de importância, estabilidade profissional, salário maior que o do setor privado, benefícios e status conferido pelo posto.

Embora a estabilidade continue a ser considerada a principal vantagem do setor, ele afirma que com o aumento da oferta de carreiras públicas, boa parte dos candidatos têm cada vez mais levado em conta afinidades pessoais ao optar por disputar um concurso. “São pessoas predispostas a contribuir com o seu talento para o engrandecimento da administração pública.”

Granjeiro diz que esses profissionais se concentram em órgãos que têm implantado gratificações por produtividade e remunerações iniciais mais altas. “A partir de 1995, constituímos verdadeiras ilhas de excelência em órgãos como o Ministério Público Federal, Receita, Polícia Federal, Banco Central, Itamaraty, Magistratura e Advogacia Geral da União”.

No entanto, segundo ele, ao elevar os salários iniciais das carreiras nobres para torná-las mais atraentes, o governo reduziu a variação entre as remunerações inicial e final desses servidores, gerando queixas entre as categorias.

De acordo com cálculo da Folha de S.Paulo, a despesa média mensal com servidores do Executivo saltou de R$ 2.840 per capita, no início da gestão Lula, para R$ 7.690 hoje, alta de 170% num período em que a inflação foi de 70%.

“Como o aumento dos salários iniciais foi muito maior do que a inflação, o governo parou de dar recomposição (aos demais servidores) para equilibrar os gastos. Isso mobilizou as grandes categorias”, diz Granjeiro.

Regulamentação

Nem todos os candidatos a cargos públicos entrevistados pela BBC Brasil, porém, apoiam as greves. Para o administrador Adriano Prado, 29, que busca cargo no setor financeiro do governo , “é preciso separar o joio do trigo”.

“Alguns setores têm razão, como professores e profissionais da saúde. Outros já ganham muito bem.”

Segundo Prado, a ausência de regras sobre o direito de greve dos servidores fez a mobilização fugir do controle. Um projeto de lei sobre o tema tramita no Congresso há vários anos, mas não há sinais de que seja votado num futuro próximo.

“O Legislativo deveria regulamentar a lei de greve do servidor, assim a população seria menos prejudicada.”

Fonte: BBC Brasil

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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