Em crise com sindicato em S. José, GM põe modelos em outras fábricas

A General Motors do Brasil e o Ministério da Fazenda vão discutir nesta terça-feira (31) sobre 1.500 demissões previstas na fábrica de automóveis em São José dos Campos (SP). Com direito a “recado” da presidente Dilma na última sexta (27), o governo tem se manifestado contra o corte, porque a empresa tem previsão de alta de vendas e lucro para este ano, além de receber crédito do BNDES para investimentos e o benefício do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

A montadora argumenta que o problema em São José é pontual e uma consequência de falta de acordo com o sindicato local. Segundo ela, novas vagas de emprego são criadas em outras unidades.

O complexo industrial da GM de São José abriga 8 fábricas com cerca de 9 mil funcionários, que produzem, separadamente, automóveis, a picape S10 e o utilitário Blazer, além de kits desmontados para exportação, motores e transmissão. A montadora afirma que apenas o setor de automóveis (MVA) enfrenta o problema com negociações sindicais para a implementação de novos projetos. Ali trabalham cerca de 1.500 pessoas.

No MVA eram fabricados os modelos Zafira, Meriva, Corsa HatchCorsa Sedan e Classic. Hoje, só a última linha funciona: a produção dos 3 primeiros automóveis cessou recentemente. A da Zafira e a da Meriva, neste mês. A do Corsa, na semana passada. Eles deram (ou darão) lugar a outros automóveis no portfólio da Chevrolet, que lançou 9 carros novos desde 2009 e renovou outros 3. Há outros lançamentos previstos para este ano.

Desses, só as novas gerações da picape S10 e da Blazer (esta ainda sem data de estreia), ficarão em São José, mas pertencem a outro setor que não o MVA; entre os automóveis, nenhum novo modelo tem previsão de ser produzido lá.

Para onde foram os carros
As minivans foram substituídas pela recém-lançada Spin, que tem versão com 5 ou 7 lugares e é fabricada em São Caetano do Sul, no ABC paulista, onde fica a sede da GM do Brasil.

Um outro lançamento de peso para a renovação da GM será o Ônix, nome do projeto de hatch e sedã que serão fabricados em Gravataí, no RS. Primeiro chegará o hatch, ainda neste ano, para ocupar o lugar deixado pelo Corsa. Depois, o sedã deverá substituir o Prisma, cujaprodução da versão 1.0 foi encerrada em fevereiro passado.

A renovação da GM começou em 2009 com outro hatch, o Agile, trazido da Argentina (sem taxa de importação e com IPI “normal” devido ao acordo comercial entre os países) e posicionado acima de Celta e Corsa. Depois vieram os sedãs Cruze e Cobalt (feitos em São Caetano), o hatch e o sedã Sonic (trazidos do México também sem taxa de importação), oCruze Sport6, versão hatch do sedã (também produzido de São Caetano), e a Spin. Fora esses, houve a renovação dos comerciais leves S10 e Montana, e a volta do Omega, importado da Aústralia.

A situação em SJC
Depois de uma reunião sem acordo na semana passada, uma nova rodada entre a montadora, o sindicato e a prefeitura de São José está marcada para o próximo dia 4 -até lá, a GM se comprometeu a não demitir.

A montadora argumenta que, desde junho de 2008, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região não fecha acordo para a entrada de novos projetos na fábrica. O último foi o anúncio de R$ 800 milhões no investimento em outro setor, para S10 e Blazer que, 2 anos depois, teve de ser revisto porque o sindicato não quis renovar o acordo, segundo a montadora.

Ao G1, o presidente do sindicato, Antonio Ferreira de Barros, disse que nenhuma proposta de novos projetos foi apresentada depois disso e que a entidade briga para manter os funcionários antigos na empresa. “Eu quero que a GM prove que ela encaminhou essa discussão [de novos projetos] para o sindicato. A empresa queria que a gente fizesse uma série de mudanças, mas não estavam atreladas a novos investimentos”, declara Barros. Entre as alterações estaria a criação de banco de horas, a exemplo do que já existe nas outras fábricas.

Segundo ele, 25% dos funcionários da planta foram demitidos para a contratação de pessoas mais jovens que aceitaram salários 30% menores. “Não queremos que aconteça em São José o que aconteceu em São Caetano, onde 75% dos funcionários antigos foram substituídos.”

O que diz o sindicato
O sindicato pede ao governo federal que o aporte do BNDES e o desconto do IPI (que terminará em 31 de agosto) sejam cortados caso a GM demita os funcionários do setor MVA. Do outro lado, a montadora afirma que os postos de trabalho foram realocados para outras unidades, como a de São Caetano, que ganhou 2 mil vagas com os novos modelos.

Os representantes dos trabalhadores, no entanto, divulgaram na noite desta segunda (30) um estudo do Dieese da região que avaliou os dados de empregos ligados à fabricação de automóveis, camionetas e utilitários nas 3 cidades onde GM exerce essas atividades. Nesses locais, diz o levantamento, foram cortados 1.189 postos entre julho de 2011 e junho de 2012, e só Gravataí tem resultado positivo de contratações. Ainda segundo o estudo, em São José, foram fechadas 1.044 vagas no período, sem contar os “356 trabalhadores que aderiram ao Programa de Demissão Voluntária (PDV)” aberto pela GM em junho passado.

Para “salvar” o setor de automóveis da unidade, o presidente do sindicato defende 4 novas propostas: início da produção local do Sonic, hoje importado da Coreia do Sul; transferência da produção do Agile da Argentina para São José; retomada da linha de caminhões; e transferência de toda a produção do Classic (hoje dividida entre Rosário, na Argentina, São Caetano do Sul e São José dos Campos).

O que diz a GM
Todas essas propostas foram rejeitadas pela GM. Segundo a montadora, o Sonic está em teste de aceitação do mercado brasileiro e já tem previsão de ser fabricado no México, por estar atrelado ao acordo comercial entre os dois países. Já a produção brasileira do Agile é inviável porque todo o investimento foi feito na Argentina, o que não justifica um novo aporte, que traria ociosidade à linha no país vizinho.

Sobre a retomada da produção de caminhões em parceria com a Isuzu, braço da GM de veículos comerciais, a montadora afirma que se trata apenas de um estudo e nada está consolidado, o que dependeria também de decisões da matriz nos Estados Unidos. Por último, 25% da produção do Classic só está em São José dos Campos para dar sustentação técnica à linha que, agora, deixou de produzir Zafira e Meriva. Ou seja, a expectativa é a de que o Classic não seja mais produzido na unidade.

A única proposta do sindicato acatada pela GM foi a criação do terceiro turno para a linha da S10, medida que já era prevista pela montadora com o lançamento da nova geração do modelo.

RS e SC recebem investimento
A falta de acordo entre a empresa e o sindicato também levou ao corte de investimentos na fábrica de motores e transmissão de São José. Quem ganhou a linha mais moderna foi Joinville, em SC, com a construção de um novo complexo industrial. Ao todo foram R$ 350 milhões na construção somente da fábrica de motores. No local também haverá uma unidade fabril de transmissões, mas as obras dessa planta foram suspensas temporariamente por conta da retração do mercado europeu, destino de boa parte da futura produção. O complexo industrial na cidade está orçado em mais de R$ 1 bilhão.

Já a planta de Gravataí (RS) foi uma das que mais receberam investimentos. Ali também são produzidos o Celta, que deverá continuar a ser vendido mesmo com o lançamento do Ônix, e o Prisma. A fábrica de Gravataí foi alvo de expansão a partir de 2010, para aumento de 65% de sua capacidade de produção, de 230 mil para 380 mil veículos por ano, a fim de comportar o projeto Ônix. Na época, a montadora informou que destinaria R$ 1,4 bilhão à unidade gaúcha.

Setor não tem previsão de crise
O impasse da GM é visto pelo mercado como algo pontual. A perspectiva é de crescimento para todas as montadoras, embora o ritmo tenha diminuído por conta da esperada acomodação do mercado. “A perspectiva é muito positiva”, afirmou o presidente da Fiat do Brasil, Cledorvino Belini, durante o lançamento do novo Punto, no último dia 20. Ele é também o presidente da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea).

O momento positivo para as montadoras com fábrica no Brasil é confirmado por analistas do setor. De acordo com o sócio-diretor da Roland Berger Strategy Consultants e especialista no segmento automotivo, Stephan Keese, a situação econômica do Brasil é boa, com consumo forte, aumento de salário e de renda. “Acho que nos próximos anos vamos ter um crescimento mais lento, mas é um crescimento de qualquer forma, com desenvolvimento da economia em geral”, avalia. “Com o crescimento do PIB, acho que temos uma condição bem agradável para a indústria automobilística nacional”, ressalta o consultor.

Fonte: G1

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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