Estudo sobre violência no futebol nacional indica 2012 como ano com mais mortes na história

São apenas nove meses concluídos, mas 2012 já desponta para o estudo da violência no futebol brasileiro como ano com maior número de mortes. O levantamento é do sociólogo carioca Mauricio Murad, que se dedica há duas décadas à compreensão social de incidentes envolvendo torcidas e que acaba de lançar um livro a respeito do tema.

Até o final de setembro, o Brasil registra 17 mortes comprovadamente relacionadas a conflitos entre torcedores. No entanto, segundo Murad, a tendência é que a estatística complete o ano com mais óbitos registrados.

“Podemos dizer que 2012, somente até o final setembro, ainda com um trimestre pela frente, tem comprovados 17 mortos. Nunca se matou tanto torcedor no Brasil como em 2012. Isso porque só contabiliza como morto aquele homicídio cujo inquérito policial aponta consequência de briga entre torcidas organizadas. Não tem achismo aí. O número pode aumentar ainda, pois temos cinco possibilidades de óbitos, em inquéritos que não foram concluídos, mas cujos sinais apontam mortes em conflito de torcida. Pode aumentar de 17 para 22”, afirmou o sociólogo, autor de “Para entender a violência no futebol“, da Editora Benvirá.

Os dados acima não constam na obra recentemente lançada pelo sociólogo, cujo período de análise se restringe a dez anos, entre 1999 e 2008. Mas já neste período Murad destaca o crescimento exponencial de casos que terminam em mortes no embate entre torcidas [ver tabela acima].

Na pesquisa, o especialista detecta o fenômeno de descentralização de casos de metrópoles rumo a capitais de médio porte, que antigamente não figuravam com relevância no mapa de incidentes. Murad trata especificamente a cena em Goiânia e Fortaleza como alarmantes, mas ressalta que os números acompanham índices gerais de violência nestes locais: “As duas cidades apresentam índices altíssimos de violência no futebol. Mas estes números vêm acompanhando um altíssimo grau de violência no geral, com avanço em agressão a mulheres, deficientes, agressão sexual, assassinatos de gays”.

A obra do sociólogo fala ainda sobre a tendência atual de infiltração do tráfico de drogas em torcidas organizadas e descreve como as facções operam internamente, às vezes com hierarquia de moldes militares, com pelotões e destacamentos, ou em padrões mafiosos, dividida em “famílias”.

Murad ainda critica a passividade do estado em relação à desvantagem na contenção da violência no futebol. O autor sugere uma articulação nacional que integre diferentes esferas de atuação pública.

“Vejo necessário um plano estratégico nacional. O Rio já avançou muito nisso, diante da demanda recente, mas o Nordeste, por exemplo, ainda está extremamente atrasado. Você vê casos de torcedor entrar armado no estádio, passar pela roleta armado, sem nenhum tipo de controle. É preciso que exista uma rede entre as policiais do país, em ligação com órgãos da Justiça, do Ministério Público de cada estado. Tudo com a articulação do Ministério Esporte e o da Justiça”, opina.

“Eu já ofereci estes estudos a autoridades. É preciso que elas assumam suas obrigações constitucionais, na luta para redução destes dados dramáticos de insegurança e agressão no futebol brasileiro”, acrescenta.

O estudioso sugere no livro um processo que combine punição, prevenção e reeducação. O sociólogo fala em trabalho de inteligência na contenção de casos e joga luz especificamente sobre a necessidade de atuação na internet para a prevenção de conflitos.

“A internet tem que ser monitorada. O rastreamento eletrônico já provou ser um sucesso. E tem legislação para isso, a lei do crime organizado, de 1995. Ela permite o rastreamento de redes sociais, a quebra sigilo telefônico e eletrônico. Basta um órgão policial solicitar ao juiz, e, se ele entender como um ato necessário, autoriza. Existem as delegacias de crimes eletrônicos. É uma atuação mais do que necessária para que se desmonte esses grupos delinquentes”, argumenta.

Sociólogo formado pela UFRJ, onde criou o núcleo de sociologia do futebol em 1990, Murad atualmente é professor titular da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), em Niterói. O acadêmico trabalhou na Uefa por dois anos e meio, durante a década de 90, em estudos sobre a violência de torcidas em 16 países filiados à entidade europeia.

ESPECIALISTA CRITICA ABORDAGEM PADRÃO DA MÍDIA NA COBERTURA DA VIOLÊNCIA

Um dos capítulos mais controversos do livro “Para entender a violência no futebol” é o que convida à reflexão sobre o papel da mídia como interlocutora da sociedade no tema. O autor diz entender que a imprensa deveria enfrentar um processo de reeducação para evitar o cenário de sensação de insegurança e de sensacionalismo no trato das rivalidades.

“Às vezes, no imediatismo da notícia, precisa-se evitar a irresponsabilidade. A mídia dá destaque aos violentos. No trabalho de campo ouvi muitas vezes de torcedores que é bom aparecer na televisão para ‘ganhar as menininhas’. Se faz glamourizado do movimento neste jogo mercantilista da mídia”, diz Murad.

“Mas, em defesa da mídia, devemos dizer que ela não produz o fato. Ela é uma janela aberta para a realidade. Só é preciso que a edição seja correta, ela é fundamental. Com a sensação de insegurança, os pacíficos se afastam, e os agressivos acabam ocupando esse espaço nos estádios”, complementa.

Fonte: Uol Notícias

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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