Greenpeace: 20 anos em ação

Dia 26 de abril de 1992: a tripulação do Rainbow Warrior, navio símbolo do Greenpeace, rumou para Angra dos Reis. Lá, 800 cruzes foram afixadas no pátio da usina nuclear, simbolizando o número de mortes ocorridas no trágico acidente de Chernobyl, ocorrido seis anos antes. Essa ação marcou a fundação oficial do Greenpeace no Brasil.

“Quando chegamos por aqui, o ativista era um ecochato”, diz Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace Brasil. “Hoje, o ativismo é um exercício de cidadania”, analisa.

Os últimos 20 anos foram suficientes para o Brasil aprender com a organização a levar mais a sério o debate ambiental. Por outro lado, o Greenpeace também aprendeu muito com o Brasil: a proteção ao ambiente não pode deixar de lado a justiça social.

O Greenpeace trouxe ao Brasil uma pauta ambiental inédita, por exemplo, com a eliminação de lixo tóxico ou com o debate das mudanças climáticas. Mas a realidade do país mostrou à organização que os problemas ambientais e sociais caminham juntos. “O Brasil tornou mais amplo o olhar do Greenpeace”, diz Furtado.

Hoje, o Greenpeace Brasil possui três escritórios (São Paulo, Manaus e Brasília) e mais de cem funcionários que trabalham para dar suporte às duas campanhas atualmente em curso: Amazônia e Clima & Energia. Tudo isso só é possível graças às doações de mais de 32.500 colaboradores ativos espalhados por todo o país e de aproximadamente 300 voluntários que levam nossas mensagens e campanhas Brasil afora.

Apesar de muitos avanços e vitórias, os desafios do Greenpeace cresceram juntamente com o Brasil. O ritmo do desmatamento na Amazônia vem caindo, mas ainda é alarmante – e por isso a organização lançou uma iniciativa popular para aprovar uma lei pelo Desmatamento Zero. Por outro lado, o Brasil, que tinha tudo para aproveitar seus recursos naturais para se tornar uma potência energética de matriz quase 100% limpa, ainda quer investir em energias sujas e perigosas como petróleo e nuclear – e por isso a organização faz campanha pelo incentivo e pelo investimento em fontes renováveis de energia, como eólica, solar e biomassa.

Muitas histórias para contar

A primeira grande vitória da organização no Brasil se deu um ano após a inauguração do escritório no país, com a proibição da importação de lixo tóxico. Ainda na década de 1990, tiveram início as campanhas contra o uso dos gases CFC – que atacam a camada de ozônio – e de transgênicos. Também foi o Greenpeace que publicou o primeiro Guia do Consumidor, em que apontava quais produtos continham organismos geneticamente modificados, além de conseguir a aprovação de uma lei para a rotulagem de transgênicos.

Para a redução das emissões de gases do efeito estufa, o Greenpeace também ofereceu sua contribuição ao país. Seu relatório [R]evolução Energética foi fundamental para pressionar o governo a incentivar o setor de energia eólica, hoje em contínuo crescimento.

De olho na proteção da maior floresta tropical do mundo, em 1992 começou a investigação sobre a exploração ilegal e predatória de madeira. Dois anos mais tarde, foi realizada a primeira expedição naval pela região, que levou a Marinha a expulsar o navio do Greenpeace do país. Foi apenas a pressão da sociedade civil que levou o governo a revogar a ordem e permitir que a tripulação, com ativistas e pesquisadores a bordo, seguisse sua rota.

Já na década de 2000, uma comunidade extrativista do município de Porto de Moz (PA) pediu a ajuda do Greenpeace para fechar o cerco contra madeireiras que invadiam ilegalmente suas terras. “Os políticos da cidade eram madeireiros. Havia uma relação direta entre política e madeira. A região era muito violenta e eram várias as ameaças de morte”, lembra Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia.

Em novembro de 2004, um telefonema da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciava a vitória: o presidente Luís Inácio Lula da Silva acabara de assinar o decreto de criação da Reserva Extrativista Verde para Sempre.

Já a vitória sobre o comércio predatório de madeira se deu em 2002, quando o mogno foi finalmente protegido pela Cites – órgão da ONU sobre comércio e proteção de espécies ameaçadas.

Atualmente, a principal frente de devastação da Amazônia está ligada ao avanço da soja e de áreas de pastagens. Contra esses dois vetores do desmatamento, foi emblemática a atuação do Greenpeace em conseguir uma moratória da soja produzida em áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia. Também um acordo com os três maiores frigoríferos brasileiros e o Ministério Público permitiu cortar de suas lista de fornecedores fazendas de gado embargadas pelo Ibama.

“Temos que discutir qual o futuro que o Brasil quer para si. Para sermos modernos e tomarmos as rédeas como uma potência ambiental, precisamos manter nossas florestas em pé e investir em energias limpas”, resume Adario.

Futuro

De passagem pelo Brasil para o Fórum de Sustentabilidade de Manaus, em março, Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace Internacional lançou um desafio ao país:

“Com o poder, vem a responsabilidade. É preciso garantir que este Brasil mais rico não promova um modelo de desenvolvimento sem justiça social ou ambiental igual àquele o qual foi vítima por séculos.”

O apelo de Naidoo é um reconhecimento de que o Brasil ganha crescente destaque internacional e que tem em mãos uma oportunidade histórica: assumir a liderança global como potência verde e limpa. Afinal, o país tem recursos naturais de sobra para garantir o crescimento com energias renováveis e, ao mesmo tempo, manter a floresta em pé.

Segundo Marcelo Furtado, iniciativas como a do Desmatamento Zero são fundamentais nesse sentido, uma vez que estabelecem o conceito da floresta como um ativo, não como empecilho ao desenvolvimento.

“O processo de construção desse Brasil verde, limpo e justo está nas mãos de cada um. Começa nas ações do dia a dia e termina nas grandes ações que mobilizam a sociedade”, finaliza Furtado.

Fonte: Greenpeace

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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