Homem é esfaqueado por flanelinha por se recusar a pagar R$3, diz polícia
Um flanelinha esfaqueou um homem de 64 anos, em frente ao Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira (Imip), na Boa Vista, Centro do Recife, no fim da tarde desta quinta-feira (12). Segundo a polícia, a vítima foi atingida no abdômen porque se recusou a pagar R$ 3,00 ao agressor, de 42 anos.
O senhor aguardava, no hospital, que a mulher e a filha fizessem os exames de rotina que estavam marcados para ambas, às 13h. A família mora em Gravatá, no Agreste, e estava no Recife desde a quarta-feira. Por volta das 17h, ele foi buscar o carro, estacionado do lado de fora da unidade de saúde, e discutiu com o flanelinha por causa do pagamento de R$ 3,00 pela vaga.
O momento da confusão coincidiu com a saída da esposa e da filha da vítima do hospital. Ao ver o tumulto e perguntar às testemunhas do que se tratava, a filha se deu conta de que se tratava do pai dela, que tinha sido ferido no abdômen. A jovem tentou contato pelo telefone celular, que foi atendido pelo idoso, quando ele já estava em atendimento dentro do Imip.
Um soldado da Polícia Militar, fora de serviço, passava pelo local no momento da confusão. Ele viu quando o agressor jogou a arma do crime por sobre o telhado de uma casa. O PM deu voz de prisão ao homem, que não reagiu e confessou ter sido o autor da agressão. O policial chamou reforço e recolheu o suspeito para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Imbiribeira. Por volta das 21h, a vítima já tinha recebido alta do Imip e chegou ao DHPP para prestar depoimento.
As primeiras informações deram conta de que o idoso tinha precisado ser transferido para o Hospital Getúlio Vargas, no Cordeiro, Recife, mas essa versão não se confirmou.
Área de estacionamento pode ‘valer’ R$ 4 mil
O problema da atuação dos flanelinhas foi abordado em uma reportagem do NETV 2ª Edição desta quinta-feira (12). Na região central do Recife existem 2.800 vagas de Zona Azul, espaço criado para o motorista pagar apenas R$ 1,00 e estacionar por duas horas – mas não é esse o preço que a rua cobra.
Um homem que se identificou apenas como “Roberto” é quem manda no estacionamento da Rua da Praia. O cordão com dezenas de chaves no pescoço revela a quantidade de cliente. Na área em que ele é o patrão, o carro de um desembargador federal pode parar de forma errada: na esquina e em cima da faixa amarela.
“Roberto” não conversou muito com a equipe da Globo Nordeste: não falou quanto cobra para estacionar os carros na Zona Azul e quando percebeu que a equipe de reportagem estava gravando, nem perto quis ficar. Mas um motorista, sem se identificar, contou que paga R$ 7 por dia para ele, que trabalha no local há 40 anos.
“Roberto” interrompe a conversa e pede para o motorista sair, porque precisa estacionar um carro na vaga da frente. Guardando o local estava um carrinho para transporte manual de carga – o lugar público que poderia ser usado por todos virou exclusividade para os clientes de “Roberto”.
Na Praça de República, em frente à sede do governo de Pernambuco, a Zona Azul também é fraudada. Lá, existem dois preços para estacionar, com ou sem talão. Ao repórter do NETV, o flanelinha informou que R$ 7 por dia era um preço razoável para manter o carro em segurança. Perguntado se havia a troca do talão da Zona Azul a cada duas horas, conforme determina a legislação, o flanelinha riu. “Se for botar um cartão no seu carro aqui, vai dar dez ‘merréis’, meu amigo”, disse. A negociação aconteceu em frente aos policiais de guarda. Os agentes de trânsito que circulam nas imediações também sabem da atuação do flanelinha e nada fazem.
As vagas também são loteadas em frente ao Fórum Thomaz de Aquino, um prédio que pertence ao Judiciário. O flanelinha do fórum ofereceu uma vaga à equipe da emissora, em cima da faixa de pedestre, por R$ 5,00, garantindo que não haveria qualquer tipo de problema para quem estacionasse ali.
Os flanelinhas criam leis próprias para manter a irregularidade: cada um tem seu espaço e ninguém pode entrar na área do outro, a não ser se que o pretendente esteja disposto a pagar por ela. Na Rua da Matriz, no bairro da Boa Vista, um flanelinha conta que comprou a área de que toma conta por R$ 2 mil, mas hoje ela vale o dobro. “Tem mais de anos anos que trabalho aqui. Se fosse vender, era de quatro mil em diante”, revela.
Edson José Carlos trabalha há cinquenta anos como flanelinha e se auto-intitula “o desenrolado”. “Dou uma olhada, tomo conta dos carros. Às vezes passa da hora, mas eu desenrolo com a amizade que eu tenho com os meninos. Se for dez ou quinze minutos, eu desenrolo”, conta – os meninos são os agentes da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU). Questionado se os guardas seriam tolerantes aos atrasos, ele explica. “Não, não é tolerante. Eu digo: ‘vou trocar’ e ele passa. Quando ele passa, eu faço que boto, aí eu desenrolo, né?”.
Sem nenhuma fiscalização, os motoristas são obrigados a pagar a conta, para o prejuízo não ser maior. As mulheres são as vítimas preferidas. “Às vezes eles falam em tom ameaçador, coisas do tipo: “Ah, depois o carro aparece arranhado e não sabe porque”, conta a advogada Ângela Vale.
O gerente de Operações de Trânsito da CTTU, Wagner Rodrigues, explica que uma sindicância vai apurar a conduta dos agentes de trânsito. “Vamos investigar esses agentes que apareceram na reportagem, para que a gente possa tomar as providências e, se for o caso, afastá-los da fiscalização de Zona Azul e de trânsito. É inadmissível um funcionário público no exercício da sua função, prevaricar, deixar de fazer sua obrigação para agradar alguns flanelinhas”, informou.
Rodrigues também pede a colaboração da população para evitar a propagação de casos como esses. “Temos mais de 50 autuações por dia, naquele trecho da Rua da Praia, em veículos que não estão usando o talão [da Zona Azul]. Mas a questão da cobrança do espaço não compete à CTTU. Nós vendemos o talão por R$ 1,00, que compramos dos nossos fornecedores, e o cliente tem que ir lá até ele. Se o flanelinha consegue adquirir e vende mais caro, é uma questão do próprio usuário não se submeter a essa extorsão que o flanelinha pratica”, critica.
A assessoria de comunicação do Palácio do Governo informou que não tem responsabilidade sobre o estacionamento Zona Azul da Praça da República e que na área destinada ao Palácio só pode parar o carro quem tiver o adesivo de permissão. A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça disse que o caso do motorista que estacionou irregularmente o carro de um desembargador será encaminhado à ouvidoria do Tribunal. Por fim, sobre os dois soldados que apareceram na Praça da República, a PM informou que os policiais só podem intervir se houver agressões físicas.
Fonte: G1PE
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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