Inadimplência do cartão de crédito é três vezes maior que a média, diz BC

O ano de 2011 foi marcado pelo crescimento da inadimplência no Brasil, principalmente nas operações com pessoas físicas, que avançou 1,6 ponto percentual, para 7,3% em dezembro – o maior patamar em quase dois anos, segundo números do Banco Central.

Os dados da autoridade monetária mostram, porém, um quadro mais preocupante nas operações com cartões de crédito. Neste caso, a inadimplência somou 26,7% no fim do ano passado, mais do que três vezes a média de pessoa física.

Além disso, o crescimento registrado em 2011 foi de 2,5 pontos percentuais, também acima da taxa de expansão da inadimplência média das pessoas físicas (1,6 ponto percentual), de acordo com números do BC.

Taxa de juros mais alta de todas modalidades
A autoridade monetária não pesquisa os juros do cartão de crédito, mas levantamento da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) mostra que a taxa de juros cobrada pelos bancos nas operações com cartões de crédito é a mais alta do país.

Além de ser a mais alta de todas modalidades de crédito, os números mostram que o patamar registrado em dezembro do ano passado, de 238,6% ao ano, é a maior desde maior desde junho de 2000.

Segundo a Anefac, os juros do cartão de crédito, que começam a incidir quando os clientes não pagam toda a fatura do mês, é mais do que o dobro da média das operações de crédito para pessoas físicas, de 114,8% ao ano em dezembro do ano passado. Os juros do cartão de crédito superam até mesmo as taxas cobradas pelos bancos no cheque especial, que também são extremamente elevadas (162% ao ano em dezembro do ano passado).

“A taxa de juros do cartão de crédito é a mais alta do Brasil. Em dezembro, somou 238,6% ao ano. Isso na média. Porque tem taxas que passam de 500% ao ano. Taxas desta natureza justificam o tamanho desta inadimplência. Uma dívida dobra de tamanho com o passar do tempo [se for pagando somente a fatura mínima]. Um dos grandes motivos é esse fato. Juros altos fazem com que a dívida cresça rapidamente”, declarou Miguel Ribeiro, vice-presidente da Anefac.

O presidente da Associação Brasileira do Consumidor, Marcelo Segredo, observa que a diferença entre os juros básicos da economia brasileira definidos pelo Banco Central, atualmente em 10,5% ao ano, e os juros do cartão de crédito é muito grande. “No caso dos cartões de crédito, a diferença é vergonhosa. Enquanto a Selic está hoje em 10,5% anuais, tendendo a cair para um dígito [abaixo de 10% ao ano] nos próximos meses, esses juros dos cartões estão entre 15% e 19% ao mês; perfazendo entre 400% e 600% ao ano”, declarou.

Uso do cartão de crédito cresce
Mesmo com taxas de juros proibitivas, o uso da linha de crédito associada ao cartão (que só acontece quando o cliente não quita sua fatura integralmetne), cresceu acima da média em 2011.

Os números do Banco Central mostram que a utilização desta linha de crédito subiu 22% no ano passado, para R$ 35,6 bilhões em dezembro, ao mesmo tempo em que todas operações de pessoas físicas avançaram 21%, para R$ 505 bilhões.

Pela média diária de concessões, porém, o ritmo de crescimento do crédito associado ao cartão subiu 29,6% em 2011, para R$ 1bilhão por dia, contra R$ 780 milhões, de média diária, no fim de 2010.

Com isso, subiu bem acima da média diária de concessões de todas operações com pessoas físicas (+13,8% no ano passado).

Bancarização
Na avaliação do vice-presidente da Anefac, Miguel Ribeiro, o processo de bancarização que está em curso no país, com as classes “D” e “E” começando a ter mais acesso aos serviços bancários, é uma das causas do aumento do uso da linha de crédito associada aos cartões.

“A primeira coisa que o banco oferece é o cartão de crédito e o cheque especial. O ingresso de novos consumidores justifica esta elevação no uso do cartão de crédito. Não é a toa que os bancos mandam cartão de crédito para as residências, mesmo sendo uma prática proibida. É uma linha interessante para o banco, pois fideliza o cliente. E, com esses novos clientes, acaba acontecendo isso: pagam só o mínimo e entram o crédito rotativo. Depois, não consegue mais pagar”, avaliou Ribeiro.

Pagar integralmente a fatura
A recomandação da Anefac é de que os clientes bancários mantenham o cartão de crédito, pois é um instrumento que permite planejar o consumo e realizar o pagamento depois de receber o salário. Mas também aconselha que os consumidores realizem o pagamento integral da fatura em todos os meses.

“O cartão de crédito é um bom instrumento. O problema é que usam mal o cartão de crédito. Ele permite concentar despesas no vencimento e poupar. Também permite comprar parcelado sem juros em várias situações. Se for comprar com outros instrumentos, vão te cobrar juros. O problema é que as pessoas compram acima de sua capacidade, ou já compram pensando em não quitar a fatura”, afirmou Miguel Ribeiro.

No caso de acontecer algum imprevisto, e o cliente bancário não conseguir pagar toda a fatura do cartão de crédito em um determinado mês, a recomendação do vice-presidente da Anefac é de que ele busque outra linha de crédito mais barata, como o crédito consignado ou o crédito pessoal, para quitar a dívida do cartão. “O que não pode é ficar rolando o pagamento mínimo”, concluiu.

Fonte: G1

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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