Inconsistência política prejudica Argentina, dizem analistas

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, durante a Cúpula das Américas, em Cartagena, na Colômbia, em 15 de abril de 2012A inconsistência na condução da política econômica da Argentina prejudica o desenvolvimento do país no longo prazo, no entendimento de analistas, diplomatas e políticos ouvidos pela BBC Brasil.

”A Argentina é um país ciclotímico, um país com zigue-zague que não aprende com o passado. Repete os mesmos erros em outros contextos”, disse o ex-embaixador do Brasil na Argentina, Marcos de Azambuja.

Para ele, a alma do país vizinho é ”complexa” e entre uma decisão ”sensata” e outra ”abrupta”, os argentinos preferem sempre a ”abrupta e traumática”. Na sua opinião, a forma como foi realizada, no mês passado, a estatização da petroleira YPF de capitais espanhóis e argentinos, confirma este perfil.

”Um país pode ter o direito de optar pela nacionalização, mas de uma forma negociada, conversada, e não da forma abrupta como foi feita”, afirmou. Azambuja entende que as ”guinadas abruptas” marcam a história do país que costuma pensar ”no curto prazo” sem planejar os efeitos das medidas no longo prazo.

Para ele, a trajetória da política e da economia brasileiras é diferente, já que no Brasil, entende, costuma-se optar por transições paulatinas e sem a tendência ao ”extremismo” como ocorre com a Argentina.

Aerolíneas Argentinas

Como exemplo de ”zigue-zague”, Azambuja citou a companhia aérea de bandeira nacional Aerolíneas Argentinas – que, como a YPF e empresas de outros setores, foi privatizada nos anos 90 e estatizada na gestão da presidente Cristina Kirchner.

”Eu já vi a Aerolíneas ser privatizada, ser vendida para a Ibéria e de novo estatizada. É um país que vai mudando suas medidas com frequência”, disse.

O ex-embaixador da Argentina no Brasil, Alieto Guadagni, também entende que a raiz das incertezas sobre o futuro econômico da Argentina está na ”mania de não se pensar no longo prazo”. Para ele, o ”imediatismo” e a ”imprevisibilidade” são responsabilidade dos ”políticos” que governam o país.

”Cada novo governo entende que é hora de recomeçar tudo de novo, e não há continuidade das medidas. Esse é um problema que afeta o desenvolvimento do país e afasta os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED)”, disse Guadagni.

Dados da Cepal revelaram que o Brasil recebeu 43,8% do IED em 2011 e a Argentina cerca de 7% do total. O país perdeu posição para países que antes indicavam menor potencial econômico, como Colômbia e Peru, por exemplo. ”Difícil investir em um país que não estabelece regras de longo prazo”, afirmou o ex-secretário de Energia, Daniel Montamat.

Nos quase 20 anos de seu período democrático (iniciado em 1983), a Argentina defendeu as estatizações, na década de 80, as privatizações, nos anos 90, e novamente as estatizações nesta década, do século 21.

Além da YPF e da Aerolíneas Argentinas, o governo de Cristina Kirchner estatizou os fundos de pensão e de aposentadorias e seu marido e antecessor, Nestor Kirchner (2003-2007) e empresas como a de Correios e de Águas.

Petrobras

A falta de continuidade e eficácia das agências públicas de controle dos setores privatizados é outro problema detectado por observadores atentos da Argentina.

Um integrante do governo da presidente Dilma Rousseff recordou que a petroleira YPF, fundada em 1922, foi modelo para a Petrobras, criada em 1953 – mas ao anunciar a estatização da YPF neste ano, Cristina citou a Petrobras como modelo a ser copiado.

”Os argentinos tiveram a grande ideia da YPF e nós, brasileiros, nos inspiramos nela para criar a Petrobras. A diferença é que levamos a ideia adiante e cuidando do desenvolvimento da empresa enquanto a Argentina foi obrigada a privatizá-la porque mal administrada tornou-se impossível para o caixa do governo. A privatização não foi então questão ideológica, mas financeira”, afirmou o integrante do governo brasileiro, que não quis ser identificado.

A senadora de oposição Norma Morandini disse que foi contra a privatização da YPF e que era a favor da estatização, mas não da forma como foi feita. Por isso optou pela abstenção na votação da lei que nacionalizou a companhia. ”Acho que um país deve controlar seus recursos naturais, como o petróleo, mas eu não poderia apoiar uma estatização mal feita. A Argentina passou de exportar a importar petróleo (neste século) não só pela Repsol-YPF, mas pela má administração das atuais autoridades”, afirmou.

Num debate no Senado argentino, o historiador econômico Nicolas Gadano, ex-empregado da YPF, recordou que a companhia foi uma empresa ”moderna”, mas que pecou pela falta de ”cuidados e de continuidade”. ”Foi uma empresa moderna que chegou a ter 50 mil empregados. Mas com uma presença forte demais dos sindicatos e com péssima administração e quase quebrou no fim dos anos 80”, disse Gadano.

Manifestante exibe cartaz em apoio à nacionalização da YPFO economista Orlando Ferreres também entende que a Argentina inicia, mas não conclui seus projetos. ”Antigamente, quando alguém começava a obra de uma casa aqui na Argentina primeiro plantava uma palmeira, mas quando não podia concluir a obra, lá deixava a palmeira. Daí surgiu a expressão, ‘estar na palmeira’. E é como há muito tempo estamos na Argentina”, disse Ferreres.

Como Guadagni, ele acredita que os políticos do país costumam defender o ”relançamento” da Argentina, a partir de suas próprias ideias, mas sem pensar no conjunto do país e em seu futuro. Ele disse que a Argentina acaba ”improvisando” suas medidas e afugentando os investimentos e projetos de longo prazo.

Na opinião de Ferreres, os argentinos precisam de uma ”mudança moral” para gerar um ”projeto de longo prazo”.

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