Lixo: a difícil tarefa de reciclar velhos hábitos

Filósofo e especialista em resíduos sólidos, o professor Emílio Eigenheer em seu galpão de reciclagem, um dos pioneiros do setor do BrasilFoto: Pedro Kirilos / O GloboPor que o Rio de Janeiro está tão atrasado quando o assunto é reciclagem? Doutora em antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Letícia de Luna Freire afirma ter uma pista: é preciso olhar para práticas do passado para entender nossos baixos índices de coleta seletiva. O lento processo que levou a Região Metropolitana a números tão vexatórios de recuperação de resíduos sólidos, em pleno século XXI, é o tema da sétima e última reportagem da série “Desleixo insustentável”.

A educação forjada sobre pilhas de lixo

Letícia começa sua viagem no tempo nos anos 1920, quando o aterro de Sapucaia, na Ilha do Governador, passou a receber todo o lixo da então capital federal. O vazadouro, nos anos 40, já era responsável pelo aumento da Ilha de Sapucaia, uma das oito de um arquipélago que hoje abriga a Cidade Universitária da UFRJ.

— Este histórico ilustra bem a dificuldade de o Rio lidar com o seu lixo — diz a pesquisadora, dando o exemplo claro de como os rejeitos podem afetar o futuro: — Por causa do depósito de resíduos, durante a construção da Cidade Universitária, já nos anos de 1950, não se pôde erguer nenhum prédio naquela área contaminada. Mas o lugar do antigo vazadouro acabou sendo reservado à Vila Residencial da UFRJ, que passou a abrigar antigos moradores da ilha.

Vinte anos mais tarde, a precariedade do Rio no recolhimento de seu lixo urbano ganharia contornos dramáticos. Numa época em que o governo militar desenhava o planejamento urbano da cidade, a Fundação para o Desenvolvimento da Região Metropolitana (Fundrem) foi voto vencido na escolha de novo terreno, às margens da Baía de Guanabara, para receber um megavazadouro de resíduos. Os manguezais do bairro de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, eram a bola da vez.

— Foi o maior crime ambiental que poderia ser feito na Região Metropolitana — diz o engenheiro ambiental Axel Grael. — De 1976, data da inauguração do aterro, até os anos 1990, quando Gramacho passou a ser administrado pela iniciativa privada, ali se despejou uma enorme quantidade de chorume.

Axel sustenta que, se a cultura da reciclagem tivesse sido incorporada à sociedade durante a plena atividade do lixão — com encerramento marcado para julho deste ano —, a Baía de Guanabara teria se livrado de receber toneladas de contaminantes.

Se o ambientalista Axel Grael lamenta o tempo perdido, o professor de educação da Uerj e especialista em resíduos sólidos, Emílio Eigenheer, dá um norte à linha do tempo da reciclagem. Ele foi um dos pioneiros a implementar um sistema de coleta seletiva no Brasil, em 1985, numa parceria da UFF com o Centro Comunitário de São Francisco, bairro da Zona Sul de Niterói. Emílio também sonhou com avanços mais significativos. E não esconde uma ponta de frustração:

— Emprego em meu galpão cinco funcionários com carteira assinada. Mando para a reciclagem uma tonelada (das 7 produzidas pelo bairro) todos os dias. Não adianta ampliar e na primeira crise do setor ter de demitir todo mundo — diz o professor, 27 anos depois. — Mas a ideia da coleta seletiva, que eu semeei lá atrás, tem de continuar. A coleta seletiva é tema central para implementarmos uma moderna solução de tratamento de resíduos urbanos. Entretanto, não adianta ficar dizendo que reciclar é barato, sem travar uma discussão mais profunda. Concordo com a Comlurb que sem pesados investimentos, a reciclagem não se sustenta. Eu me mantenho com ajuda de custo da Ambev.

‘Poder público deve induzir o mercado reciclador’

Diante dos tímidos avanços, a capital fluminense discute os desafios da reciclagem na Conferência da ONU que começa em 20 de junho. A subsecretária estadual de Economia Verde, Suzana Kahn, conta que o papel do poder público no fomento do mercado reciclador será tema de relevância nos debates dos chefes de estado, no Riocentro.

— A Rio+20 discutirá a necessidade de o poder público criar uma demanda institucional de materiais recicláveis, exigindo percentuais de cimento reaproveitado em suas obras, por exemplo. O Estado do Rio discute neste momento as bases de um decreto para nortear compras públicas verdes. O alumínio, que tem enorme valor de mercado, caminha bem. Temos de criar valor para outros produtos, como o entulho — diz Suzana.

A prefeitura informa que já há ações no que diz respeito a entulhos. De acorco com o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório, todas as obras públicas que o município executa neste momento têm usinas recicladores instaladas.

Fonte: O Globo

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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