Pai de atirador de SP desconhecia tentativa de internação, diz advogado

O pai do administrador de empresas preso após atirar em três pessoas na quinta-feira (18), em São Paulo, afirma que desconhecia a tentativa de internação do filho, segundo o advogado Ricardo Martins Junior. O crime aconteceu após um grupo composto por profissionais de enfermagem, um advogado e um oficial de Justiça ir até a casa onde Fernando Behmer Cesar de Gouveia Buffolo, de 33 anos, estava, na Aclimação, região central.

A dona da residência, a psicóloga Sylvia Helena Gomes Cardim Moreira Guerra, de 45 anos, o auxiliar de enfermagem Márcio Teles Lima, de 27, e o oficial de Justiça Marcelo Ribeiro de Barros, de 49, foram baleados e levados a hospitais. A Polícia Militar foi acionada e negociou por cerca de nove horas a rendição de Fernando. Após entregar as armas que possuía, ele foi levado a uma delegacia e aguardava desde a tarde de sexta a Justiça decidir sobre sua transferência para um hospital psiquiátrico. Para a polícia, ele corre risco de sofrer um novo surto psicótico na cadeia.

Segundo o defensor Martins Junior, o pai do atirador, Luiz Fernando de Gouveia Buffolo, sabia que o filho precisava de tratamento psiquiátrico, mas não concordava com uma internação forçada. “Ele alertou a ex-mulher sobre os riscos. Se porventura tomasse uma medida como a que foi tomada, isolada, sem comum acordo, poderia resultar num problema como o que aconteceu”, disse Martins Junior, acrescentando que o pai de Fernando não foi avisado sobre a internação.

A mãe do suspeito, Leni Behmer Pinto Cesar, porém, acreditava que a internação era indispensável. “Ele [Fernando] esteve em tratamento psicológico e psiquiátrico durante a infância e sua juventude. Nunca foi internado, mas precisa continuar o tratamento contra a esquizofrenia que foi diagnosticada”, disse o advogado José Cocioloto, defensor de Leni. Ele acompanhou o grupo que tentava internar o administrador na manhã de quinta.

Atirador fere três na Liberdade (Foto: Arte/G1)

Como o processo de interdição de Fernando corre em segredo de Justiça na 3ª Vara da Família e Sucessões do Fórum Central João Mendes, o defensor dos interesses da mãe do administrador não pôde falar do teor do mandado que determinou a internação compulsória. “O que posso dizer é que a mãe dele quis a proteção do filho.”

Comportamento estranho
A equipe de reportagem apurou que o pedido de interdição de Fernando, feito pela mãe dele, ocorreu após Leni notar que o administrador estava tendo comportamento estranho, com falas desconexas. Ela chegou a gravar algumas das conversas que teve com o rapaz por telefone. Ele teria dito que não chegaria vivo aos 33 anos porque seres com chifres colocaram chips nele e na psicóloga e perseguiam os dois.

A mãe do suspeito teria dito também que a psicóloga Sylvia a impedia de ver o filho. Numa visita que tentou fazer a ele, Leni alega ter sido recebida pela outra mulher com fogos de festa junina disparados contra ela. Vizinhos também teriam relatado que Fernando e Sylvia ficavam na janela da casa dela apontando lanternas em direção à rua durante a noite.

G1 teve acesso às informações do documento do juiz que determinou o recolhimento forçado a uma unidade psiquiátrica. Nele, está escrito que a mãe do administrador alegou que o filho “apresenta características psíquicas e comportamentais de esquizofrenia, inclusive com risco à própria vida”, e tem “comportamento suicida e que está residindo, atualmente, em companhia de pessoa desconhecida, necessitando de internação involuntária”. O Ministério Público se manifestou favorável à “internação compulsória.”

Em seu despacho, o juiz escreveu que, depois da retirada compulsória, ele deveria ser submetido a “avaliação no nosocômio [hospital] indicado na inicial”, que fica em Itapira, interior do estado de São Paulo. O magistrado ainda determinou que “fica desde já autorizada a internação involuntária do requerido até regular alta médica”.

Armas
De acordo com o advogado José Cocioloto, a mãe do administrador disse que não sabia que seu filho tinha armas. “A dona Leni só soube disso na quinta, quando foi chamada pela PM para ajudar nas negociações para que ele se entregasse. Entendo que, diante do acontecido, Fernando não poderia ter armas, porque seu quadro de saúde mental é grave.”

Além da pistola cujas balas atingiram o rosto do auxiliar de enfermagem, o pulmão do oficial de Justiça e o maxilar da psicóloga, Fernando tinha uma espingarda calibre 12, um revólver 38, facas, duas espadas, munição, e uma besta (espécie de arco com cabo e gatilho para disparar flechas). Ele também tinha registrado em seu nome uma espingarda calibre 44 e um revólver 32, que não foram encontrados pela polícia.

Os homens feridos permaneciam, até a noite de sexta, internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de dois centros médicos diferentes. O estado de saúde deles era estável. A família de Sylvia pediu para que o Hospital São Camilo não divulgasse para a imprensa seus boletins médicos.

Psicóloga
Leni afirmou que o filho morava sozinho num apartamento bancado por ela em São Paulo antes de se mudar, em agosto deste ano, para o sobrado da psicóloga Sylvia. “Apesar de alguns jornais terem informado que a mulher é namorada dele, ainda não temos essa confirmação. Os dois seriam apenas amigos”, afirmou o advogado Cocioloto.

Questionado sobre o relacionamento entre Fernando e Sylvia, o defensor da mãe da psicóloga afirmou que a mulher conheceu o administrador há alguns anos, no Parque da Aclimação. “Mas a mãe dela [Leni Lacerda Gomes Cardim Moreira Guerra] nunca soube dizer se eles eram só amigos ou namorados”, afirmou o advogado Eduardo Carnelos, contratado para acompanhar o depoimento que a psicóloga ainda dará à polícia.

“O rapaz chegou a frequentar a casa da minha cliente, mas ela pediu para ele não ir mais lá por conta de seu comportamento estranho. Desde então, a filha dela [Sylvia] deixou a casa onde morava com a mãe e se mudou para o consultório onde clinicava para poder continuar a encontrar o administrador”, afirmou.

O advogado da família da psicóloga ainda negou que Sylvia tivesse impedido Buffolo de sair da casa. “Como um homem que tem tantas armas e conversava na rua com vizinhos não podia deixar o imóvel?”, questionou.

Fonte: G1

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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