Pai de Cachoeira diz que filho ‘nunca mexeu com jogo do bicho’

Sebastião de Almeida Ramos, pai de Carlos Cachoeira, que está preso desde fevereiro. (Foto: Vianey Bentes/ TV Globo)Sebastião de Almeida Ramos, conhecido como Tião Cachoeira e pai do contraventor Carlinhos Cachoeira, afirmou, em entrevista ao G1, que seu filho “nunca mexeu como o jogo do bicho”. Tião Cachoeira diz que Carlinhos, como é conhecido o filho, só ajudou donos de máquinas caça-níqueis e que o sustento vinha de um laboratório farmacêutico em Anápolis (GO).

Carlinhos Cachoeira está preso desde o fim de fevereiro acusado de utilizar uma rede formada por agentes públicos e privados para explorar o jogo ilegal. As relações dele são investigadas em uma CPI mista no Congresso Nacional.

“O que acabou com o Carlinhos foi a mídia. Ele nunca mexeu com o jogo do bicho. Fazem dele um mostro. Da forma como estão tratando ele, cada dia ele é uma pessoa pior. Ele é mais do que vítima. Ele é mais do que honesto”, afirmou Tião Cachoeira ao G1. A entrevista foi concedida na casa de Tião em Anápolis, no mesmo dia que o “Fantástico” entrevistou Andressa Mendonça, mulher de Carlinhos Cachoeira – veja a íntegra da entrevista de Andressa ao “Fantástico”.

Tião Cachoeira, atualmente com 88 anos, disse que ele próprio atuou com jogo do bicho por cerca de 20 anos. Contou que começou ainda jovem, na década de 60, logo que chegou a Anápolis, depois de ajudar na construção de Brasília na década de 50.

“Eu me associei com um amigo meu aí e comecei a trabalhar em diversas coisas, primeiro com comércio. Tem até rua com o nome dele aí, Rua Gedeon. Agora o que eles falam, o jornal traz uma reportagem, que, em 1953, ele [Carlinhos Cachoeira] pegava jogo do bicho de bicicleta para eu fazer. Dez anos antes de ele nascer?”, questionou Tião, ao afirmar que o filho nasceu em 1963.

Sebastião de Almeida Ramos, pai de Carlos Cachoeira. (Foto: Vianey Bentes/ TV Globo)Tião Cachoeira contou que afastava Carlinhos Cachoeira de suas atividades. “Os filhos sabiam [que vendia jogo do bicho]. Eu nem deixava ele [Carlinhos Cachoeira] chegar na porta.”

O pai de Cachoeira disse também que o filho auxiliava os moradores da cidade a conseguir empregos em máquinas caça-níqueis. “Caça-níquel mais foi para ajudar os outros. Foi para ajudar a dar emprego para os outros e eu vou te explicar. Para ajudar os outros que tinham máquina e para ajudar os outros, dar emprego, essas coisas. Jogo do bicho ele não tem. Ele nunca mexeu com jogo do bicho.”

Para Tião Cachoeira, que afirmou viver hoje de rendas de aposentadoria, é preciso legalizar o jogo no país. “No Brasil inteiro não tem cidade nenhuma que não tenha caça-níqueis. O irmão do Lula foi preso num caça-níquel. Nunca falaram, falaram do Carlinhos Cachoeira”, disse Tião Cachoeira, em referência a Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão do ex-presidente Luiz Inácio da Silva investigado em operação da Polícia Federal sobre jogos de azar.

Tião Cachoeira afirmou que, desde a prisão do filho, tem recebido, em Anápolis, pedidos de pessoas que afirmam ter ficado sem fonte de renda. “A cidade acabou uns 80% com esta prisão do Carlinhos. Não estão nem conseguindo pagar aluguel, desempregadas. Elas tinham essas maquininhas. Com a prisão dele, pegaram todas [as máquinas] e acabaram com eles [moradores].”.

Para mim foi a coisa pior da minha vida. Ver uma pessoa que não merece estar preso. Entrei chorando e saí chorando.”
Tião Cachoeira, sobre visita ao filho no presídio da Papuda

A origem
Tião Cachoeira levou do interior de Minas Gerais o apelido pelo qual a família é conhecida. Seu pai, Antonio, era dono de uma fazenda chamada Cachoeira na cidade mineira de Araxá. Desde então, toda a família passou a ser chamada de Cachoeira.

“Fazenda do papai chamava Cachoeira. O povo de Araxá chamava ele de Antonio Cachoeira. Eu era Cachoeirinha e virou tudo Cachoeira.”

Prisão
Tião Cachoeira relatou que visitou o filho no presídio da Papuda, em Brasília, uma única vez.

“Fui uma vez [visitar Cachoeira]. Para mim foi a coisa pior da minha vida. Ver uma pessoa que não merece estar preso. Entrei chorando e saí chorando. Tu vê um filho que só pode pegar nove bananas e um saquinho de bolacha que pode levar para ele. Foi isso que eu levei lá quando eu fui. E a mulher dele que vai lá toda a semana leva a mesma coisa, nove bananas e um saquinho de bolacha. Esta semana ele devolveu até. Ele não quis”, contou o pai do contraventor.

A mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, deixa o tribunal antes do final da sessão de julgamento, ao lado de Tião Cachoeira, pai do contraventor (Foto: Rafael dos Santos / G1)Ele disse esperar que o filho seja solto até 16 de setembro, quando completa 89 anos. “Espero que ele saia antes. Se ele sair logo, aí eu vou até os 100 anos.”

O pai de Cachoeira lamentou ainda a ausência do filho no enterro da mãe, que morreu em maio. Maria José de Almeida Ramos, de 79 anos, conhecida como dona Zezé, estava internada em Anápolis.

“Minha esposa ficou na UTI. E não deixaram ele [Carlinhos Cachoeira] vir vê-la. Deixar eles deixaram, mas vir algemado e acompanhado de policiais na terra dele, onde todo mundo é amigo. Para ele, era impossível”, disse Tião.

Na última semana, Cachoeira se desentendeu na prisão com um agente e pode responder por desacato.. Segundo Tião Cachoeira, o filho está muito “agitado”, e tem recebido visita frequente de um médico da prisão. “Ele está muito agitado, doente, o médico até foi ver ele ontem [quinta-feira]”, disse.

Demóstenes
Sobre a amizade de Carlinhos Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), Tião Cachoeira afirmou que o filho nunca pediu ao político favores irregulares. Demóstenes teve o pedido de cassação do mandato aprovado pelo Conselho de Ética do Senado por suspeita de ter utilizado o mandato parlamentar para beneficiar o bicheiro. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado vota o pedido de cassação do senador nesta quarta-feira (4).

“Amigos eles eram [Cachoeira e Demóstenes]. Para te falar a verdade, tu via às vezes ele pedir para o Demóstenes fazer, mas nada de crime. Nada do que ele pediu para o Demóstenes era crime, e o Demóstenes nunca ajudou, nunca fez nada para ele”, contou o pai do contraventor.

Fonte: G1

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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