Países ricos e falta de metas claras ameaçam Rio+20
Há duas décadas, cerca de 180 chefes de Estado desembarcavam no Rio de Janeiro para a mais importante conferência sobre o meio ambiente da história. Visando equilibrar crescimento econômico e conservação de recursos naturais, a Eco 92 – ou Rio 92 – estabeleceu e globalizou o conceito de desenvolvimento sustentável. Muito tempo se passou, mas quase nada saiu do papel. Com a Rio+20 batendo à porta, os problemas e possíveis soluções para o futuro da Terra voltam a ecoar, mas as perspectivas não animam. Segundo especialistas que vivenciaram e estudaram a fundo a Eco 92, a pouca objetividade das propostas atuais e a falta de boa vontade dos países ricos apontam para um novo fracasso.
Membro do grupo de análise em clima e relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília), o pesquisador Matías Franchini considera que os resultados práticos da Rio+20 serão ainda menos significativos do que os registrados após a Eco 92.
— As propostas não são sólidas, não são bem definidas. A perspectiva da Rio+20 é ser ainda pior que a Eco 92, quando as pessoas chegaram com um sentimento bom impregnado por causa do fim da Guerra Fria [disputa política entre a extinta União Soviética e os EUA pela hegemonia mundial]. A Rio+20 não conseguirá concretizar seus objetivos, como definição a respeito da economia verde ou a criação de um instrumento global voltado para o desenvolvimento sustentável.
Elaborado e assinado por autoridades de todo o planeta, o Rascunho Zero — ou texto base — da Rio+20 revela trechos como “Nós, os chefes de Estado e governo, após nos reunirmos no Rio de Janeiro, Brasil, de 20 a 22 de junho de 2012 (data da Rio+20), decidimos trabalhar com conjunto em busca de um futuro próspero, seguro e sustentável para nossos povos e nosso planeta”. O documento também traz promessas como “Nós reafirmamos nossa determinação em libertar a humanidade da fome e da carência através da erradicação de todas as formas de pobreza e conflito para que as sociedades sejam justas, igualitárias e inclusivas, e para uma estabilidade econômica”.
Leonardo Boff, integrante da Comissão Central da Carta da Terra — elaborada paralelamente à Eco 92 com o objetivo de ressaltar maneiras sustentáveis de vida — considera o texto base uma “vergonha”. Em entrevista à ONG WWF Brasil, Boff critica a falta de objetividade do chamado Rascunho Zero.
— O documento é uma vergonha para a inteligência mundial. (…) É um documento comovedor em termos de boa vontade, mas ingênuo quanto à autocrítica e na apresentação de mediações para as propostas que faz. Os três temas centrais, a sustentabilidade, a governança global e a economia verde, nunca são claramente definidos, dando a impressão de quererem ocupar as mentes pensantes mundiais para não se ocuparem dos verdadeiros problemas: modo de produção avassalador da natureza, desigualdades [injustiças sociais] e urgência de modelos alternativos.
Participante ativo da Eco 92, Boff lamenta o fato de a maior conferência sobre o meio ambiente da história não ter significado uma real mudança na forma de pensar e agir dos governantes mundiais.
— Não espero nada dos chefes de Estado. A maioria não vem [entre eles Barack Obama, presidente dos EUA, a chanceler Alemã, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron]. (…) Tudo termina no gargalo: quem financiará as medidas eventualmente a serem tomadas? Todos alegam não ter dinheiro, que estão em crise econômico-financeira e que não podem ajudar. Por detrás, está a visão perversa capitalista e neoliberal: o que conta são os mercados, as moedas, o sistema econômico-financeiro e não a vida, a humanidade, o futuro de nossa civilização e a preservação da vitalidade da Terra.
Um pouco mais otimista, o economista e ecologista Sérgio Besserman tem esperança de que a Rio+20 renda algum fruto à Terra. Contudo, ele reforça a sensação de fracasso quando o assunto é o legado da Eco 92.
— Do ponto de vista físico a Rio 92 deixou um legado irrisório. Agora, para a Rio+20 as discussões parecem mais substantivas para que haja um legado maior. Muito pouco do que foi discutido há 20 anos foi implementado. O que ficou de mais importante, na verdade, foi o número de pessoas, redes, empresas, enfim, o número de atores sociais e políticos que passaram a compreender o tema do desenvolvimento sustentável.
Planeta em decadência
De acordo com pesquisa divulgada no último dia 6 pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), apenas quatro das 90 principais metas mais importantes traçadas nos últimos 40 anos, incluindo os documentos assinados na Eco 92, tiveram avanços significativos. São eles: eliminação da produção e uso de substâncias que destroem a camada de ozônio, eliminação do uso de chumbo em combustíveis, acesso a fontes melhoradas de água e pesquisas para reduzir a poluição no meio ambiente marinho.
A noção de que quase todo o cardápio de ideias discutido há 20 anos se manteve no plano conceitual é reforçada por dados recentes sobre pobreza. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), 925 milhões de pessoas passam fome em um mundo que vive espremido por uma população superior a sete bilhões de habitantes. Em 1992, quando a Terra tinha cerca de 1 bilhão a menos de pessoas, aproximadamente 830 milhões não tinham o que comer.
Segundo o pesquisador Matías Franchini, o planeta entrou em uma decadência ambiental ao longo dos últimos 20 anos. Para ele, a Agenda 21, principal documento resultante da conferência de 1992, foi ignorado.
— Os instrumentos formulados na Eco 92 não se desenvolveram. Os países não assimilaram os tópicos da Agenda 21. Notou-se um avanço mínimo a respeito de melhorias governamentais sobre sustentabilidade. Mas, em contrapartida, houve um avanço enorme dos problemas, como agressão à atmosfera, emissão de gases, pobreza… O planeta piorou muito.
Fonte: R7
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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