“Se soubesse no início da gestação, abortaria”, relata gestante
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
- Category : Clipping
Com os olhos lacrimejando e em meio as mexidas da bebê que carrega no seu ventre há cinco meses, a secretária doméstica, G.A.M, de 23 anos, fala dos planos e do futuro que o destino traçou, demonstrando um misto de revolta e conformismo. O parto já está próximo. Será normal, no dia 15 de maio, quase um mês após a decisão do STF de dar a opção da mãe interromper a gestação de um bebê anencéfalo. Esse nascimento acontece também dois meses antes do aniversário de três anos do seu primogênito, em quem vê a felicidade que poderia ser estendida, caso Ágatha tivesse vida após chegar ao mundo. Serão meses de gestação e horas de parto, para dar à luz a um bebê que irá sobreviver por no máximo quatro dias.
Quando você descobriu que o bebê era anecefalo?
Eu fazia o pré-natal em um posto médico perto da minha casa. Lá tive acompanhamento médico até os três meses. Me disseram que a criança iria nascer antes dos 9 meses. Até ai, tudo bem. Meu primeiro filho nasceu de 6 meses porque tenho problemas no útero. Depois, quando cheguei aos 4 meses, decidi ir para o Imip. Foi nesse momento, que, depois de exames, me contaram que a criança não tinha cérebro e nasceria com deformações na coluna e nos membros.
Como você reagiu?
Na hora eu não pensei em nada. Sei lá, acho que fiquei sem ação. Nenhum dos meus filhos foram programados, mas fiquei muito feliz com a chegada dela. O meu marido queria uma menina, e, eu, queria ter um filho dele, de qualquer sexo. Quando cheguei em casa, não parei de pensar nisso. E piorou quando vi meu filho. Nessa hora comecei a chorar porque eu senti a felicidade que ele me passa. E imaginei como poderia ser bom com minha filha também. Sempre que vejo meu filho, lembro dela.
E o seu marido, como se sentiu?
Sei que ele ficou triste. Apesar de ele não ser pai do meu filho, ele gosta muito dele, tem amor, carinho mesmo. Então, com a menina não seria diferente. Ele tenta disfarçar quando pergunto sobre essas coisas. Ele sempre desconversa.
Você pensou em abortar?
Se eu soubesse disso no início, teria abortado. Mas, agora não dá. A gente se apega, cria afeto pela criança.
Qual a sua opinião sobre a decisão do STF?
Eu sou a favor. Acho que as mães devem ter a opção de interromper a gravidez, porque isso é um sofrimento. Tem mulheres que não querem passar por esse processo de ter a criança e depois vê-la morrer. Eu não tiraria. Depois que me apeguei, quero que ela vá quando Deus quiser levar.
Como é sua ligação com a bebê?
Ela se mexe bastante, principalmente quando eu estou comendo e dormindo. Converso muito com ela. Ela é muito danada. Já está até pronta para nascer. Chega no dia 15 de maio.
Os médicos dão alguma esperança de reversão do caso?
Não. Sempre que vou ao médico pergunto. É sempre a mesma resposta. Se pudesse escolher, preferia que ela vivesse, mesmo que ficasse em cima de uma cama, que eu tivesse que cuidar dela por toda a minha vida.
Como você faz para diminuir a dor dessa espera?
Eu tento distrair a mente, mas não é fácil. A barriga você carrega com você, não tem como esquecer. Só esqueço em alguns momentos, por exemplo, quando acordo e tenho a sensação que aquilo é um pesadelo, mas logo vejo que não. O meu marido tenta ajudar nisso. Ele faz coisas para me deixar feliz. Até passa a tristeza por um momento, mas logo volta. Não aguento ver ou ficar perto de meninas. Sinto muita raiva quando as pessoas na rua vem me fazer perguntas sobre a minha gravidez. Eu não conto para ninguém sobre isso.
Qual será o procedimento após o parto?
Ela vai para a incubadora, onde vai respirar por meio de aparelhos e aguardar o que vai acontecer. Mas os médicos já avisaram que ela não vai conseguir ir nem para casa. Irá morrer no hospital mesmo.
Vocês pensam em registrá-la?
Sim. O meu marido vai cuidar disso. Vamos registrá-la. Também será feito um enterro. Mas acho que não vou participar. Não vou ter forças.
Você pensa em ter outro bebê?
Não. Vou fazer uma cirurgia para não engravidar mais. Além do medo de passar por tudo isso novamente, os médicos já me avisaram que todos os meus partos serão prematuros. Da menina, tenho acompanhamento médico constante, sinto muitas dores e tomo remédios para diminuir os riscos de ela nascer antes e trazer complicações maiores para mim. Desde os quatro meses sinto as contrações do parto.
Fonte: Folha PE
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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