114 pré-selecionados no Ciência sem Fronteiras perdem viagem à China

1-foto_1Parte da primeira turma de candidatos pré-selecionados para o programa Ciência sem Fronteiras (CSF) para fazer parte do curso de graduação na China perdeu a chance de viajar. Eles figuravam na lista de cerca de 350 nomes do resultado parcial da seleção e já tinham até o cartão de crédito que o governo federal entrega aos bolsistas, mas nunca receberam a carta de confirmação da universidade chinesa onde estudariam. Os alunos culpam o erro nas confusões com prazos e com um formulário chinês e tentavam, desde maio, conseguir uma resposta definitiva sobre a viagem. Na última segunda-feira (21), ela chegou: essas 114 candidaturas foram descontinuadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Procurada pelo G1, a Capes afirmou que “114 candidatos –e não bolsistas– por alguma razão que a CAPES desconhece não fizeram suas inscrições no site do parceiro chinês. Considerando que esses candidatos não constavam no cadastro do parceiro, eles não foram alocados em universidades chinesas”.

No e-mail recebido por pelo menos quatro deles, ao qual o G1 teve acesso, a Capes afirmou que a candidatura deles não seria concluída porque eles não haviam preenchido o formulário de inscrição exigido pela entidade chinesa parceira do governo brasileiro no programa, ou que o haviam preenchido, mas de forma indevida. No comunicado, a Capes disse ainda que “a parceria com a China para envio de estudantes de graduação foi iniciada recentemente por ocasião do programa Ciência sem Fronteiras e por esse motivo os canais de comunicação ainda se encontram em fase de aperfeiçoamento e consolidação”, além de lembrar que em outubro foi aberto um novo edital para o país.

Dependendo do país de destino, os editais do Ciência sem Fronteiras exigem que os alunos, além de se candidatarem à seleção do MEC, também se inscrevam no site da entidade parceira do governo em cada país. No caso da China, a entidade é o Conselho de Bolsas de Estudo da China (CSC, na sigla em inglês). No edital 136/2013, que abriu as vagas para o país asiático, o prazo de inscrição no CSC era simultâneo ao de candidatura no CSF.

A Capes diz que “o parceiro necessita de um período após o cadastro dos nomes dos candidatos para fazer a alocação nas suas universidades” e que “somente após a alocação o resultado final pode ser divulgado”. Porém, no edital 163/2013, a nova chamada da Capes aberta na semana passada para selecionar bolsistas para a China, o prazo de inscrição no CSC mudou, e agora só deverá ser feito após a divulgação do resultado parcial (pré-seleção) do CSF.

Confusão e mudança de prazo
Alguns dos candidatos do edital anterior que perderam a viagem disseram que não conseguiram fazer essa inscrição dentro do prazo. Outros afirmaram que tentaram preencher esse formulário, mas não conseguiram. Um dos campos do formulário foi apontado como especialmente problemático: ele pedia um “número da agência”, que eles não sabiam qual era.

Alegando “problemas encontrados no preenchimento do formulário de inscrição no site do parceiro na China/CSC”, em 12 de abril o CSF publicou uma retificação do edital prorrogando o prazo de preenchimento do formulário para o dia 3 de maio, e o do envio dos documentos exigidos à China para o dia 19 de maio. Além disso, a Capes publicou um manual com o passo a passo para o preenchimento do formulário, incluindo o número do campo “número da agência”. Candidatos alegam que não conseguiram essa informação quando buscaram ajuda pelo atendimento telefônico ou por e-mail. Ao G1, a Capes negou a informação.

A estudante de arquitetura e urbanisno Ana Taila Carneiro Cardoso, de 19 anos, comemorou quando recebeu a notícia de sua aprovação parcial no edital da China, em 21 de maio, mas foi só então que descobriu que deveria ter feito a inscrição no site do CSC até o dia 3 de maio. Mesmo assim, ela continuou recebendo outras garantias de participação no programa, como o cartão de crédito do Banco do Brasil feito para os bolsistas e um convite para um encontro de preparação dos intercambistas. Ao buscar informações juntos ao governo, a estudante de Belém recebeu diversas garantias. “A Capes falou que a gente não ia ser prejudicado, falou que não era para se preocupar, que ia dar um jeito e que ninguém ia ser prejudicado.”

Desde maio, ela afirma ter enviado mais de 30 e-mails à Capes, e diz que só conseguiu falar ao telefone com o funcionário da coordenação responsável pelo edital da China na última sexta-feira (18). Na ocasião, ele garantiu a ela que sua candidatura não estava indeferida, mas não soube responder se ela conseguiria viajar ou não. Nesta semana, ela recebeu a notícia do cancelamento de sua participação no programa, mas afirma que vai recorrer da decisão usando a nova ferramenta divulgada pelo CSF para essas reclamações.

O nome de Vinícius dos Santos Figueiredo, de 23 anos, estava entre os aprovados parciais. Ele escolheu a China como destino do intercâmbio por causa do peso do país na economia mundial, e pela fascinação pela cultura. O estudante de engenharia de aquicultura na Universidade Federal de Santa Catarina (SC) afirma que conseguiu preencher todos os dados requisitados pelo CSC antes do fim do prazo, mas mesmo assim foi colocado pela Capes em uma lista de estudantes com problemas no formulário do CSC. Nesta semana, ao tentar recorrer da decisão junto à Capes, recebeu a notícia de que sua candidatura não foi concluída porque ele inseriu o “número de agência” incorreto.

Mesmo assim, Vinícius recebeu, em agosto, a mesma orientação que outros alunos: aguardar sua carta de aceitação. Enquanto isso, recebeu o cartão de crédito do Ciência sem Fronteiras e se matriculou na disciplina “intercâmbio” na faculdade. Porém, na última segunda, recebeu a notícia de que perderia a viagem e, por consequência, o semestre letivo.

Como nunca fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que agora se tornou obrigatório para o Ciência sem Fronteiras, Vinícius diz que não poderá se inscrever nos novos editais, pois já terá ultrapassado o limite de conclusão do curso quando receba a sua nota no exame.

Promessas de resolução
De acordo com uma estudante de ciências biológicas do Rio Grande do Sul, que não quis se identificar para não sofrer represálias, seu problema foi o mesmo. Ela afirma que entrou em contato com o número de atendimento da Capes para descobrir o número da agência, mas nenhum atendente soube dar uma resposta. Ela e seu professor de mandarim, então, deduziram que era o número da universidade em que estuda. “Recebi todos os e-mails da Capes parabenizando por ter sido escolhida pelo programa e que isso significava muito para o país. Fui informada que minha candidatura foi tramitada para a etapa de concessão da bolsa”, afirmou ela.

Com o passar das semanas, outros candidatos receberam a carta de aceitação na universidade em que estudariam, mas a da estudante gaúcha não chegava. Preocupada, a aluna entrou em contato com a Capes e recebeu a orientação de aguardar, porque algumas cartas estavam atrasadas. “Depois de dias entrei em contato por e-mail com o parceiro da China solicitando o número para rastrear a carta, e a resposta que eu tive foi que eu não havia sido selecionada para o programa. Fiquei em choque e confusa.”

Um estudante de engenharia de telecomunicações do Rio Grande do Sul contou ao G1 que enviou um dos documentos exigidos na retificação do edital com atraso, mas nunca recebeu informação de que estava desclassificado do programa e até a semana passada era tratado pela Capes como um dos bolsistas na China.

“No próprio site do CSF diz que quem não preencheu corretamente ou não enviou [o formulário] não seria prejudicado por isso. A orientação foi de ficar à espera de um e-mail ou uma carta do parceiro CSC, que no meu caso, nunca chegou. Durante o processo, mesmo sem ter recebido a carta, recebi o cartão [de crédito] do BB américas. Inclusive continuo recebendo e-mails como se estivesse na China”, afirmou ele, que diz nunca ter tido resposta telefônica ou por e-mail do responsável da Capes pelo edital chinês, mas só nesta segunda recebeu a notícia de que não poderia mais viajar.

Para ele, que está perto do fim do seu curso de graduação, não há mais chance de concorrer a outra bolsa de graduação sanduíche pelo Ciência sem Fronteiras.

Fonte: G1

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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