As crianças que não conseguem parar de comer
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
- Category : Clipping
A maioria das crianças gosta de comer. Mas, para algumas, um apetite insaciável faz com que elas sempre queiram mais – o que pode causar sérios problemas para os pais.
A dona de casa britânica Emily contou à BBC que um episódio em particular a fez compreender quão voraz era o apetite da filha, de apenas quatro anos de idade.
“De manhã cedo, ouvi o alarme da porta do freezer tocar. Desci para a cozinha e encontrei minha filha comendo bolinhos de batata congelados direto do pacote. Não temos mais esse tipo de comida em casa, simplesmente não podemos.”
Emily (o nome é fictício) descreveu esse momento como “o fundo do poço”, mas hoje já se conformou com a ideia de que a filha vai sempre ter vontade de comer o que quer que haja na casa.
“Me lembro de ver uma cenoura enorme no bolso da saia dela no primeiro dia da aula de teatro”, contou. “Ela me disse que (a cenoura) era para o caso dela ficar com fome. É curioso e complicado ser mãe de uma criança que tem compulsão por comida.”
Problema global
Os índices de obesidade infantil estão aumentando em todo o mundo. Segundo estimativas feitas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2010, o número de crianças obesas com menos de cinco anos de idade seria de cerca de 42 milhões. Dessas, 35 milhões estariam em países em desenvolvimento.
Só na África, o número de crianças com menos de cinco anos que têm peso acima do recomendado triplicou nas últimas duas décadas.
Em países ricos, como a Grã-Bretanha, os hábitos alimentares das crianças são presença constante na mídia. Recentemente, os jornais do país noticiaram que quadruplicou na última década o número de crianças e adolescentes atendidos em hospitais da Inglaterra e País de Gales com problemas de saúde associados à obesidade.
Especialistas apontam para alimentação ruim (por exemplo, ênfase em alimentos pobres em nutrientes e ricos em gordura e açúcar), baixos índices de amamentação e estilos de vida sedentários como as principais causas do problema.
Temendo que o caso de sua filha venha a contribuir para estatísticas alarmantes como essas, Emily busca maneiras de administrar o apetite voraz da filha.
E apetite, dizem os especialistas, é algo que varia de pessoa para pessoa.
“Somos programados para ser diferentes”, disse o especialista em obesidade Stephen Bloom, do Imperial College, em Londres.
Bloom, que estuda os sistemas de controle do apetite no corpo humano, disse que, assim como somos diferentes na aparência, também somos internamente.
Em um extremo, estão as crianças que comem feito passarinhos, no outro, as que comem quase constantemente.
Apesar do que muitos dizem, comer demais não é sempre uma questão de mau hábito, disse outra mãe, Michelle (nome fictício), à BBC. Seu filho, de 11 anos, está sempre com fome e ela disse que é complicado e cansativo controlar a dieta dele.
“Você com frequência fica frustrado e bravo com seu filho por estar tão faminto o tempo todo, e eles também ficam frustrados e bravos com você. Mas não acho que seja culpa de ninguém. Não tem nada de errado com meu filho, nenhum quadro médico ou questões (emocionais) em relação a comida”, diz.
“Ele sente fome genuína, não é gulodice. Não me culpo, já que faço tudo o que posso para que ele tenha uma dieta saudável. É cansativo, você sempre tem de ser organizado. E você tenta não fazer muito alarde, porque não quer que seu filho desenvolva transtornos alimentares”.
“Ele não está obeso no momento porque controlo a dieta dele. Também estou tentando ensiná-lo sobre alimentação e sobre as consequências de se fazer escolhas ruins. Mas ele não vai morar sempre em casa comigo e me preocupo sobre o que vai acontecer no futuro”.
Em situações como essa, o peso da criança sempre é uma preocupação para os pais. Emily comenta que a filha sempre foi maior do que os irmãos – e mais faminta.
“Ela mamava bem quando bebê e estava sempre no topo da escala em matéria de peso quando bebê, enquanto seu irmão mais velho é pequeno”.
(A questão) “não é o que ela come – ela ficaria satisfeita em comer ervilhas enquanto outra criança comeria um biscoito. Sou firme e às vezes ela grita e reclama, mas ela já aprendeu o que pode comer. Ela simplesmente adora comida”.
À medida que a criança fica mais velha, controlar sua dieta fica ainda mais difícil.
“Na primeira semana dela na escola, ela repetiu o prato todos os dias”, disse Emily. “Então tive de optar por mandar o lanche de casa porque era a única forma de controlar a quantidade e o tipo de comida que ela come”.
Culpa dos pais?
Cientistas vêm estudando formas de se controlar o apetite.
“Sabemos muito pouco, o apetite é uma coisa tão complexa”, disse Sadaf Farooqi, professora de metabolismo e medicina da Universidade de Cambridge.
Ela comanda um grande estudo sobre obesidade e genética, em que médicos, enfermeiras, cientistas e pesquisadores trabalham juntos para tentar entender por que algumas pessoas engordam mais facilmente do que outras.
“O que sabemos é que há um fator genético, herdado (dos pais) para o apetite mas ele também é regulado pelo ambiente e comportamento, entre outras coisas”.
Gostos pessoais também interferem. Os cientistas sabem, por exemplo, que a experiência do paladar varia de pessoa para pessoa e o que tem sabor delicioso para uns pode ser absolutamente desagradável para outros.
Profissionais que trabalham com nutrição infantil dizem que, com frequência, são procurados por pais preocupados com o que parece ser um apetite excessivo por parte dos filhos.
Muitos desses especialistas, no entanto, são da opinião de que a causa do problema seriam comportamentos inconscientes dos pais. Por exemplo, servir porções de adultos, em pratos de adultos, para as crianças.
Alguns aconselham deixar as crianças comerem o que quiserem – desde que seja saudável. Esse tipo de orientação se baseia em estudos que indicam que crianças naturalmente tendem a comer o necessário para saciar sua fome.
“Crianças geralmente não comem mais do que precisam”, disse Tam Fry, porta-voz do National Obesity Forum, o Fórum Nacional da Obesidade na Grã-Bretanha.
“Se você deixa que as crianças façam suas próprias decisões, aprendem a regular sua alimentação. Se estão engordando, você aumenta a quantidade de exercício que estão fazendo. É uma questão de equilibrar a energia que entra e a energia que sai”.
Mas alguns pais negam que estejam contribuindo para o problema e dizem que essas afirmações fazem com que se sintam isolados.
“Já me disseram isso antes”, disse Michelle. “Em relação ao meu filho, eu simplesmente não concordo que seja o caso, ele é assim”.
Qualquer que seja a opinião dos profissionais, os pais têm de adotar estratégias próprias para lidar com o problema.
“Conversei com meu marido. Criamos regras claras e as explicamos para a nossa filha”, disse Emily. “Estamos conseguindo controlar a situação no momento, mas sabemos que conforme ela fica mais velha, haverá outros desafios”.
Fonte: Diário de Pernambuco
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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