Creches hi-tech proliferam no Rio e chegam a custar mais de R$ 2 mil por mês
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
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Creches particulares do Rio estão investindo pesado em tecnologia e oferecem tablets e câmeras on-line para pais que desejam “espiar” os bebês durante o dia. Embora o uso de recursos tecnológicos ainda seja controverso entre especialistas — muitos pedagogos e educadores apontam que o uso de TV por crianças está ligado à incidência maior de obesidade — eles já fazem parte do cardápio de estímulos que as crianças estão recebendo desde muito cedo no Rio. As mensalidades sobem no ritmo das inovações e já custam mais de R$ 2 mil.
Por parte dos donos de creches, os motivos para tantos recursos vão desde vontade dos pais, exigência do mercado de trabalho até segurança. Na Miraflores, creche e escola bilíngue que tem unidades em Laranjeiras e na Barra da Tijuca, a mensalidade para um bebê de um ano é de cerca de R$ 2,6 mil no horário integral. E a fila de espera para o berçário já está em 2014. Lá, bebês de seis meses já têm contato com tablets junto com brinquedos.
— Antes as creches eram um lugar para os pais deixarem seus filhos, hoje a sociedade está percebendo que é um período de desenvolvimento fundamental da criança — afirma Léa Rocha Lima, fundadora da Miraflores na década de 70 e atual diretora pedagógica. — Os pais querem dar o melhor para seus filhos. O que as crianças têm capacidade para absorver, elas já têm, mas há pais que infantilizam muito os filhos — considera.
Na creche Os Batutinhas, em Ipanema, a mensalidade custa R$ 2.410, para o período das 7h30m ao meio-dia ou das 13h às 17h. A Criativa, de Botafogo, cobra R$ 1.680 pelo período integral. O valor alto das mensalidades está ligado a custos elevados, sustentam os donos de creches. O diretor administrativo da Miraflores, Luiz Eduardo Rocha Lima, filho de Léa, cita a falta de mão de obra especializada e a especulação imobiliária como entraves.
— A escola particular é cara porque é boa e o pessoal qualificado é escasso. Educação infantil é um investimento de médio e longo prazo — afirma, descartando a ampliação das instalações e do curso que hoje termina no ensino fundamental.
Segundo Marina Alessandra Garcez, presidente da Asbrei (Associação Brasileira de Educação Infantil) e sócia da Palmo e Meio, muitas creches estão hoje muito profissionalizadas e isso se reflete no valor das mensalidades.
— Hoje não se vê tanto a professora do município que se aposentou, existe um olhar mais empresarial — afirma. — Temos que trabalhar com pessoal muito especializado, ar-condicionado, ensino de inglês, capacitação, isso leva o valor da mensalidade ao que está hoje. Se tem aula de informática com computadores tem que ter isso na mensalidade. Quando você tem uma visão empresarial, explica-se isso melhor. Existem diferenciais na rotina que vão aumentar o custo — acrescenta.
A psicóloga Fabiana Souza SantaAna é dona do Studio da Criança, pré-escola bilíngue no Grajaú, e de uma empresa de recrutamento. A mensalidade para o período integral fica em R$ 2,3 mil. A creche oferece serviço de câmeras que podem ser acessadas por uma parte reservada do site da creche e um sistema de avaliação de funcionários.
— Nós temos metas, escolha de funcionário proativo e de melhor equipe, com prêmios em dinheiro a cada ano. Só valem os votos dos funcionários — afirma. — A parte pedagógica é muito importante, mas a parte administrativa também. Quanto mais uma escola se destaca, melhor para o funcionário colocar no currículo — afirma.
A administradora Ana Cristina Damiani divide com duas psicanalistas o comando da Curiosa Idade, creche de Laranjeiras. A mensalidade em período integral ronda os R$ 2,3 mil. Ana Cristina também faz parte do rol de creches com administradores. Algumas das salas têm câmeras com vídeos que ficam internamente.
— De dez anos pra cá, o mercado mudou, ficou mais exigente e, no caso da primeira infância, a decisão é totalmente da família — afirma.
Mas o uso de tecnologia tem uma raiz: o consumismo. A opinião contundente é de Regina Assis, ex-secretária de municipal educação e consultora em educação e mídia, com mestrado em desenvolvimento humano em Harvard e doutorado pela Universidade de Columbia. Para ela, a estimulação precoce é um erro grave e está sendo usada por inúmeras creches para justificar mensalidades mais altas.
— É um chamariz. Isso encanta os pais e os filhos vão ficar superestimulados, mas não significa que vão aprender melhor. A criança não deve ver o céu pintado na televisão, mas olhá-lo de fato, segurar terra, lama, pintar, e isso não é substituível pela TV e por computadores — afirma.
Regina diz não ser contrária ao circuito de câmeras, que são usadas para segurança, mas afirma que o uso de computadores e de TVs ainda precisa de supervisão.
— Depois vamos ter que lidar com crianças extremamente agitadas, problemas de dispersão de atenção e apatia. Só por volta de cinco anos a criança começa a representar a realidade e aí deve começar a TV e os joguinhos, mas sempre com hora marcada e supervisionados.
Fonte: O Globo
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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