Desaparecimento e morte de estudante universitário gera dúvida e revolta
Dúvidas e informações desencontradas seguem permeando o caso do estudante universitário Raimundo Matias Dantas Neto, de 25 anos, encontrado morto na manhã da última sexta-feira (04), na praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Familiares e amigos se mostram inconformados com a falta de informação sobre o caso e iniciaram uma campanha através das redes sociais na internet, pedindo justiça e esclarecimento.
O jovem, conhecido como ‘Samambaia’, saiu de casa, no bairro de Jardim Fragoso, em Olinda, na tarde da quarta-feira (09) e teria informado aos parentes que iria realizar uma pesquisa de preços para comprar um notebook. “Ele estava tranquilo, se arrumou e saiu normalmente. Não demonstrou qualquer problema ou preocupação. Como anoiteceu e ele não voltou, começamos a ligar, mas o telefone já se encontrava desligado. Nem imaginava que o pior estava por vir”, contou Marta Dantas, irmã da vítima.
Após a localização do corpo nas imediações do edifício Brigadeiro Eduardo Gomes, na avenida Boa Viagem, parentes informaram ter encontrado bastante dificuldade para o trabalho de identificação, no Instituto de Medicina Legal (IML). “Eles não me deixaram ver o meu irmão, queriam fazer tudo na pressa. Disseram que ele estava com um documento no bolso e não precisava fazer mais nada, já estava tudo dentro das normas”, criticou Marta.
Ainda de acordo com Marta, a declaração de óbito expedida informava asfixia por afogamento como causa da morte, porém, de acordo com fotografias do corpo, apresentadas pelos próprios funcionários do instituto, foi possível visualizar escoriações pelo tórax, um deslocamento no pescoço e ainda parte do seu cabelo (dreads) arrancados.
Segundo Maria José do Amaral, advogada da família, as condições duvidosas em que o rapaz foi morto geram grande inquietação sobre o que realmente ocorreu. Ela criticou a forma com que o caso foi tratado. “Diante da péssima recepção e atendimento encontrados no IML, fomos ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), no bairro da Imbiribeira, onde conseguimos um ofício solicitando uma nova perícia. De volta ao órgão, esperamos durante horas para que alguém pudesse receber o documento. Uma situação de completo descaso”, destacou.
Para a advogada, pelo jovem ser negro e de família humilde, o caso pode ter ligação com preconceito e crime racial, ou ainda latrocínio, pelo fato de estar com dinheiro para comprar um notebook ou já de posse do aparelho. “Nosso objetivo é marcar uma audiência com o secretário de Defesa Social, Wilson Damásio, para que ele possa designar um delegado específico para o caso, abordando novas linhas de investigação”, disse.
Procurados pela reportagem do FolhaPE, nenhum membro da direção do IML quis comentar sobre as denúncias. A gestora da instituição, Joyse Breenzinckr Ferreira, também não foi localizada. Funcionários, que não quiseram se identificar, afirmaram que a perícia e consequente liberação do corpo atenderam aos procedimentos normais.
Na tarde deste domingo (06), amigos de Raimundo Matias, que estava próximo da conclusão do curso de Ciências Sociais, na Universidade Federal de Pernambuco, estão organizando um encontro na praça central do bairro do Derby, onde pretendem receber representantes de entidades de direitos humanos e órgãos da sociedade civil para discutir os rumos a serem adotados para que a morte do estudante não fique impune. “Não podemos deixar que esta se torne mais uma história de um rapaz pobre, vindo do interior, que tentou vencer na vida e teve seus sonhos destruídos pela violência”, afirmou sua irmã, de forma emocionada.
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