Obama leva adiante projeto de nova lei migratória
Reeleito com o apoio de 71% dos latinos e 73% dos asiáticos, o presidente Barack Obama começa nesta segunda-feira o seu segundo mandato com o desafio de realizar uma ampla reforma do sistema de imigração, promessa não cumprida nos primeiros quatro anos na Casa Branca. Apesar de as negociações fiscais e a discussão sobre aperto no controle da venda de armas terem dominado a agenda pública do presidente desde novembro, Obama já tem uma equipe esboçando uma proposta ousada para legalização de 11,2 milhões de estrangeiros que vivem sem documento nos Estados Unidos. Além de potencialmente ser seu principal legado no segundo mandato, a reforma poderá ter implicações significativas na próxima eleição presidencial, consolidando a preferência dos hispânicos, fatia da população que mais cresce, pelo Partido Democrata.
– Existe um grande consenso em torno da necessidade de uma reforma da imigração – disse David Plouffe, assessor de Obama.
Imigração é um tema controverso nos EUA. Nos últimos três anos, estados com forte presença latina, como o Arizona, aprovaram leis repressivas que incentivam a caça aos ilegais.
Nas primárias para a escolha do candidato que enfrentaria Obama, os postulantes da oposição listaram propostas que desagradaram o eleitorado latino, como autodeportação, muros na divisa com o México e condenação à política de legalização em massa com concessão de cidadania.
Mas, em dívida com o eleitorado latino e asiático, Obama partirá para o confronto e comandará uma ofensiva por uma reforma imigratória. Constam do esboço de lei, segundo a imprensa americana, a legalização dos sem documento, sem que eles tenham que deixar o país para dar entrada na papelada.
Estratégia para 2016
Os jovens que chegaram ao país ainda crianças — estimados em 1,5 milhão — teriam a cidadania facilitada, o que lhes estenderia direitos básicos, como o pagamento de anualidades mais baratas nas universidades públicas e o acesso a bolsas de estudo. As regras para contratação de imigrantes e a fiscalização das fronteiras seriam apertadas. A expectativa é que Obama trate do tema no discurso anual sobre o estado da União, em fevereiro.
– A eleição passada demonstrou a força do voto latino e asiático. A correlação de forças mudou, esta era a peça que estava faltando. Não só para os democratas, mas para os republicanos. Não é mais possível tolerar a existência de cidadãos de segunda classe nos EUA. Acreditamos que esta é a maior oportunidade histórica de uma mudança ampla no sistema de imigração e que ela acontecerá – afirma Julian Teixeira, diretor do Conselho Nacional da Raça.
Cientista político da American University, Allan Litchman concorda. Derrotados nas eleições, e enfrentando o desafio de ganhar a confiança de latinos e asiáticos (que junto com os negros já são capazes de definir eleições e formarão a maioria da população em 2042, segundo projeções), os republicanos dão sinais de que vão suavizar suas posições. Este é o maior incentivo que Obama tem para comprar esta briga, diz o especialista:
– A base da oposição é branca e protestante. No entanto, em menos de uma geração, os brancos serão a minoria e os protestantes já não são maioria (48%). Os republicanos precisam entrar em sintonia com o eleitorado e terão que negociar um reforma imigratória decente.
Para o especialista, na ausência de uma ação ousada na área de mudanças climáticas, que teria repercussão internacional, a reforma da imigração deverá ser a assinatura de Obama no segundo mandato. Não por menos, republicanos como o senador pela Flórida Marco Rubio, possível presidenciável em 2016, têm admitido a necessidade de reforma abrangente e vêm trabalhando em uma proposta. A repercussão política será grande, avalia Litchman:
– Se Obama passar uma reforma ampla como a que vem sendo ventilada, ele consolidará o alinhamento dos hispânicos ao Partido Democrata. Isso será uma peça fundamental em 2016, quando haverá a tentação pela alternância de poder, mas pode influenciar já em 2014, quando os democratas tentarão de tudo retomar a maioria na Câmara.
Obama também conta com o apoio da maioria na comunidade empresarial. Segundo dados do La Raza, as projeções do mundo corporativo apontam para um déficit de 18 milhões de trabalhadores qualificados nos próximos anos. Uma nova política de imigração é essencial para atrair no exterior este tipo de mão de obra aos EUA.
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