Terapeuta diz como libertou 900 clientes de conflitos sexuais
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
- Category : Clipping
Uma mulher que fez sexo com mais de 900 clientes é, no mínimo, instigante. A americana Cheryl T. Cohen Greene, autora do recém-lançado livro “As sessões — Minha vida como terapeuta do sexo”, virou celebridade. Sua história também está no cinema no filme de mesmo nome, um dos indicados ao Oscar amanhã, em que a atriz Helen Hunt interpreta sua vida. Simpática, criada numa família altamente repressora, é difícil imaginar como Cheryl se liberou para escrever um livro tão inquietante. É penoso folhear de um só fôlego o primeiro capítulo, no qual ela conta, minuciosamente, o tratamento do deficiente Mark O’Brien, um poeta de 36 anos, que viveu a maior parte de sua vida com um pulmão artificial, após ter contraído poliomielite aos 6 anos. Ao mesmo tempo em que fala sobre a dificuldade de tocar um corpo mutilado, ela descreve, com todas as letras, os toques eróticos que acabaram fazendo o rapaz ter o seu primeiro orgasmo. Comovente quando Mark chora depois de Cheryl ter beijado seu peito: “Ninguém nunca beijou meu peito antes”, revelou Mark, que oito anos depois encontrou uma companheira, e pode usar com ela tudo o que aprendeu com Cheryl.
Uma atividade tão incomum rendeu muitos momentos de desconforto. Em palestras, ela se viu comparada a “prostituta”, “puta” e “vagabunda”.
— Não sou nada disso, embora algumas pessoas discordem — diz Cheryl ao ELA, por e-mail.
Ela conta que os clientes mais desafiadores foram os pedófilos, encaminhados para ela por seus “terapeutas da fala”.
— É difícil fazer com que eles concentrem suas atenções em outras coisas que não sejam o sexo. Preciso ensiná-los a relaxar.
Aliás, foi um pedófilo quem mais assustou Cheryl. Ele era um sociopata, que lhe dizia “coisas aterrorizantes”. Não é fácil a vida de terapeuta sexual.
— Não foi uma repulsa ao corpo, exatamente, mas também às coisas que ele me falava. Ao longo da sessão, eu não parava de pensar em como escapar caso ele ficasse violento. Eu sabia que ele não estava com uma arma porque estava nu, mas claro que não deixei transparecer essa insegurança.
Cheryl conta que também ficou assustada com um cliente que, na segunda sessão, usou muita força quando ela pediu para ser tocada.
— Tentei pedir para ele ir mais devagar, mas ele continuou usando muita força, até o momento em que segurou no meu pescoço. Então, pedi para ele parar e sentar. Perguntei se tinha alguma coisa errada, se eu trazia a lembrança de alguma outra pessoa. Ele disse que eu o lembrava sua ex-mulher. Sua terapeuta da fala não tinha descoberto isso. Eu o encaminhei de volta com a recomendação de tratar essa questão.
A autora não acha que trabalhar com essa “terapia do parceiro substituto” tenha sido uma revanche contra sua educação tão repressora.
— Era uma questão de autopreservação. Se não fosse pela repressão sexual, eu não teria procurado o caminho do parceiro substituto. Busquei isso sozinha porque não concordava com tudo aquilo que me falavam sobre sexo — explica Cheryl, frisando que os clientes a procuram por razões específicas. — Alguns querem aprender mais sobre linguagem corporal, entender melhor os sinais que o corpo do parceiro emitem. Outros são casos que precisam de sexo, como os que têm ejaculação precoce ou algum outro distúrbio.
Para Cheryl, o importante é encorajar as pessoas a encontrar parceiros que não julguem nem reprimam suas fantasias e desejos sexuais.
— O Bob, meu marido há 34 anos, com quem comecei a sair depois de ele ter terminado de se tratar, entende muito bem o meu trabalho. Ele se sente à vontade, sabe o que eu estou fazendo e tem muito orgulho. Sinto como se eu estivesse atendendo a um chamado. É uma missão.
Dormir com o paciente? Há quem discorde
A psicanalista lacaniana Ana Claudia Vaz pensa que o uso equivocado do poder do amor de transferência pode desandar a vida de uma pessoa:
— A meu ver, ética e não moralmente, o que está em jogo é o conceito clínico. Por isso, é de se estranhar tal prática.
Para Ana Claudia, um terapeuta não pode estar desavisado da complexidade da alma humana e seus caminhos.
— Partindo do princípio de que um sujeito que procura tratamento quer o alívio do seu sofrimento, e espera encontrar um trabalho ético, penso que essa conduta é uma invasão. Mesmo que o paciente saiba o que será oferecido, a oferta parece abusiva como proposta clínica. O analista deve ofertar muito de si, mas nada do que é seu. Freud nos fala que as neuroses são determinadas pela história de amor do sujeito. Escutamos na clínica os conflitos, as fantasias, o mal-estar. Todo um material que vai sendo trazido na travessia de um percurso, mas tecido pelas palavras.
O psicanalista lacaniano Carlos Eduardo Leal diz que a ideia de que o terapeuta precisa experimentar com o paciente o que ele padece é um grande equívoco. E ressalta que não é de hoje que os americanos pretendem resolver tudo “rapidinho, na velocidade globalizante que eles impuseram ao mundo”.
— Isso desde o famoso “Relatório Hite” (1976), feito pela sexóloga e feminista Shere Hite, no qual ela entrevistou centenas de mulheres. O livro vinha com um subtítulo: “Um profundo estudo sobre a sexualidade feminina”. Mas na verdade é uma grande enquete sobre o orgasmo feminino e suas deduções.
Carlos Eduardo lembra que Freud se esquivou das sugestões hipnóticas por causa das manipulações que os pacientes poderiam sofrer.
— Vocês imaginam as manipulações sexuais inventadas por esta senhora em seus quase mil pacientes? Haja bolinação!
O psicanalista Luiz Alberto Py ainda não viu o filme nem leu o livro. Mas afirma que o importante é cada um tomar conta de sua própria vida, saber o que é bom para si.
— Não sei se essa prática vai prejudicar alguém. Obviamente acho muito esquisito, mas não sou um cara que condena. Nos Estados Unidos, os criminalistas têm questionado muito o que eles chamam de crime sem vítima: jogo, prostituição e drogas. Acham que as pessoas que praticam isso não têm por que serem punidas. Elas devem fazer o que é melhor para elas. O trabalho dessa terapeuta pode ser enquadrado aí. Enfim, não acho nada de mais definir o trabalho dela como terapia. Sexo com prostituta também não é terapêutico?
Membro da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, Marco Antonio Saldanha ouviu falar sobre “As sessões” por meio do relato de um paciente.
— Tenho enorme simpatia por um filme que revê a sexualidade como algo que vai além do corpo. Só que a terapeuta não está na posição do analista, que é outra. O analista que fizer uma proposta dessa está praticando um engodo. E isso eu repudio.
Fonte: Ela – O Globo
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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