Tratamento pioneiro testado na Santa Casa é alternativa contra a depressão

Cristina Zelante, 58, não parecia se encaixar no diagnóstico de uma pessoa com depressão. Tinha dois filhos adultos e era dona de um escritório de arquitetura, uma floricultura e uma loja de roupas, que ficavam no mesmo prédio no bairro de Pinheiros.

Em 2008, teve o que chamou de surto: estava dirigindo e, sem saber o porquê, não conseguia tirar o pé do acelerador. O carro foi batendo em outros veículos da rua. Era a doença dando indícios.

Depois desse episódio, decidiu fechar os negócios. Saía de casa poucas vezes, quase sempre a pedido dos filhos, e logo voltava para o quarto. Ficou cinco anos em depressão.

“Era uma tristeza, eu não conseguia mais fazer as coisas. Passei três anos no meu quarto. Antes eu me achava muito forte, dizia: ‘Eu não vou ter depressão, criei dois filhos após uma separação!'”.

Com os medicamentos usados para tratar a doença, gastava cerca de R$ 900 por mês. Os remédios davam dor de cabeça, formigamento e a deixavam com a visão turva. “Eu estava enlouquecida”.

Quem vê Cristiana hoje não tem ideia que há poucos meses a empresária tinha receio de sair de casa até para ir ao mercado. Falante, sorridente e vaidosa, ela se descreve como uma nova pessoa. O motivo da mudança? Um tratamento pioneiro e inédito contra a depressão que está sendo testado na Santa Casa de São Paulo.

ETCC

Chamado de Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC), a proposta terapêutica é relativamente simples: uma corrente elétrica de baixa intensidade é aplicada através do couro cabeludo, e facilita a atividade neuronal em áreas onde está a atividade inibida e inibe em áreas em que a atividade está exagerada, melhorando o quadro de depressão.

A empresária está em tratamento há dois meses com o médico Pedro Shiozawa, autor da pesquisa. Como ela, mais de 50 pessoas vieram de diversas regiões do Brasil para participar dos testes em São Paulo, geralmente incentivados pela família –há pessoas de estados como Pernambuco e Paraná.

“Há só sete trabalhos publicados no mundo sobre depressão, e 10% da população brasileira sofre com a doença”, diz Shiozawa. “Dos depressivos tratados ambulatorialmente, só 70% respondem. E tomarão remédio para sempre, e com frequência terão outro episódio depressivo em 10 anos”, continua.

A técnica inovadora ainda está em fase de testes, mas o médico se diz animado com as respostas. O tratamento deve ser apresentado no Conselho Federal de Medicina ao fim do ano para aprovação. “Temos uma taxa de sucesso de 70% a 80%. Daqui a cinco anos vai estar no SUS”, diz Shiozawa, confiante.

MAIS BARATO

Uma das principais vantagens deste tratamento é a redução de custos. Além do aparelho custar muito menos do que outros (como o de estimulação magnética) e poder ser usado diversas vezes, diferentemente dos medicamentos que precisam ser renovados mensalmente, a técnica é mais sutil e menos cara que outras terapias, como o eletrochoque, que demanda sedação e costuma necessitar a presença de dois médicos e um enfermeiro –sem contar que apresenta risco do paciente ter prejuízos cognitivos.

“É barato, seguro e bastante efetivo”, diz, confiante. “Em termos de saúde pública, será algo muito plausível. Mesmo comparando com o remédio mais barato, este tratamento é mais econômico”, afirma o médico, que parece preocupado com outro dado da saúde no Brasil: cerca de 50% da população toma algum tipo de psicotrópico.

Em dois meses, os pesquisadores devem começar outro estudo com 150 pacientes em depressão. Desta vez, para comparar com um medicamento considerado um dos melhores do mercado, cujo custo é de cerca de R$ 200 por mês.

“FUI PARA O INFERNO E VOLTEI”

Cristina faz questão de dar entrevistas para divulgar a técnica, dizendo ter esperança de que outras pessoas possam ter a melhora que ela teve. Nos pacientes tratados por Shiozawa, havia casos em que a pessoa com depressão não falava há décadas e aos poucos tem retomado o convívio social.

“Os últimos anos foram terríveis. Fui para o inferno e voltei. Eu andava de qualquer jeito, com qualquer roupa. Tinha vontade de sair de onde estava e ir para o meu quarto”, conta Cristina. Incentivada pelos filhos, ela fez uma viagem de navio na época em que estava em depressão. Passava todo o dia na cabine e chegava a acordar mais cedo para não cruzar com as pessoas ao tomar o café da manhã.

“Eu era agressiva, brigada com todo mundo. Você perde o senso do ridículo”, diz ela, que as poucos tenta retomar a vida.

Se antes Cristina passava o dia dormindo, hoje voltou a pintar, atividade que não exerceu durante os anos da doença. E se só pensava em ficar no quarto, hoje planeja uma reforma. “Aquilo é um buraco. E agora eu estou saindo. Hoje o telefone não para de tocar. A rua não é tão perigosa assim.”

Fonte: Folha de S.Paulo

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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