Celso Marconi ainda acredita no poder de transformação do cinema

4“Nenhuma”, responde Celso Marconi ao ser questionado sobre a diferença entre o papel da crítica de cinema hoje e no período em que ele atuou na imprensa, entre as décadas de 1960 e 1980. O mercado sofreu transformações e novas tecnologias surgiram, mas ele defende que a essência desse ofício continua a mesma. “Na verdade, isso sempre varia, de pessoa para pessoa, independente da época”, pondera.

Nascido em 1930, Marconi dedicou a vida ao cinema. Além de escrever, ele também é cineasta e foi responsável pela programação de salas de exibição do Recife. Passou, portanto, pelas três principais esferas da atividade cinematográfica, sempre com uma consciência política sobre o papel da ate para a transformação da sociedade.

Atualmente, prefere ver filmes em casa por causa do agravamento dos problemas que sempre enfrentou na visão, mas continua um cinéfilo ativo e ainda escreve textos, ultimamente publicados em sua página no Facebook. Sua crítica mais recente foi uma pequena resenha sobre Camille Claudel 1915, de Bruno Dumont: “Não é uma obra fácil para se ver. É excepcional para quem quer um cinema adulto denso profundo. Uma obra de arte cinematográfica. Não um produto de decoração para divertir.”

Celso Marconi é modesto quando fala sobre seu próprio cinema. Ele acha que suas maiores contribuições estão mais nas críticas do que nos filmes que dirigiu. No entanto, sua obra inclui mais de 20 curtas, a maioria filmada em Super 8, cujo valor ainda há de ser reconhecido. Mais da metade são documentários que retratam a cultura pernambucana, sobretudo as artes plásticas, mas há também trabalhos mais experimentais, pessoais ou assumidamente políticos, como Terra YingComo nossos pais? e Achados e perdidos.Fernando Spencer, que faleceu em março de 2014, era um de seus principais companheiros de aventuras cinematográficas. Os dois atuaram como críticos nas mesmas épocas (cada um em um jornal, mas sem clima de concorrência) e trabalharam juntos na produção de filmes e na programação de cinemas como o Coliseu e o São Luiz (na chamada “Sessão de Arte”). “No tempo em que o jornalismo fazia questão do furo nós pouco ligávamos para essa estória. A notícia de um passava imediatamente para o outro. E íamos entrevistar o pessoal sempre juntos sem nenhum mistério”, relembra. Após a morte do amigo, Celso Marconi desabafou no Facebook: “Não estou bom Não estou morto Não estou vivo” (sic).

A pertinência da obra de Marconi, que também foi diretor do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (atualmente abandonado), é confirmada e merece ser lembrada esta semana, quando ocorre o festival Cine PE. Na programação, por exemplo, há dois documentários que abordam temas já investigados pela filmografia do cineasta: os bacamarteiros de Caruaru e o artista plástico Corbiniano Lins.FILMOGRAFIA (reunida no DVD O cinema de Celso Marconi):

– Manguecidade
– Terra Ying
– Como nossos pais?
– Achados e perdidos
– Passeio em Itaparica
– Recife 0km
– Flagrantes
– Corbiniano Lins: Sua arte
– Ana das Carrancas
– Bajado: Um artista de Olinda
– Brigada Portinari
– Sérgio Lemos: Sua arte
– Maurício Silva: Uma exposição
– “Seu” Amaro: Um artista de rua
– Que viva Glauber
– Quatro X Arte
– 40 mil anos de arte no Nordeste
– Morro da Conceição: Dia 8, a festa
– Dia de babá orixalá: Dona Betinha
– Feira de Caruaru
– Bacamarteiros de Caruaru
– Cinema: 100 anos de discurso

ENTREVISTA // CELSO MARCONI

Algum estilo se sobressai entre os filmes que você dirigiu?
Meu cinema não é fundamental em minha vida. Meus filmes eram coisa eventuais. Eles fazem parte da minha biografia, mas busco ser mais lembrado pelo jornalismo. Profissionalmente, sou um jornalista. O que me fez filmar foi a convivência com amigos cineastas e o próprio gosto pelo cinema.

Você tem roteiros de filmes que ainda não foram filmados?
Nunca fiz roteiros. Sou glauberiano, não aceito fazer roteiros. Faço meus roteiros na cabeça. Não preciso escrever. Meus filmes eram todos de acaso. São documentários, alguns mais ou menos poéticos, como Terra Ying, que mostra minha ex-mulher, Tereza, grávida.

É verdade que Caetano Veloso e Gilberto Gil costumavam hospedar-se na sua casa em Olinda?
Eles não ficavam hospedados na minha casa. Ficamos amigos porque eu era jornalista. Fui entrevistar Caetano e convidei Jomard Muniz de Britto, que era amigo dele, para ir junto. Aí também fiquei amigo. Ele almoçou um dia aqui. Batíamos papo e fazíamos passeios por Olinda. Isso foi na década de 1970. Uma vez ele veio com Gil, Rita Lee e os rapazes do Mutantes, em um show promovido por uma companhia de tecido.

Qual é a diferença entre o papel da crítica de cinema hoje em dia e na época em que você atuou na imprensa?
Nenhuma. A essência não se modifica. O papel é o mesmo, mas ele muda muito de pessoa para pessoa. Cada pessoa tem uma maneira de exercer o seu papel e de se realizar. Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha e Godard consideram que a pessoa que faz cítica de cinema está fazendo cinema. A forma de fazer a crítica é muito ligada a toda a estrutura do cinema, não é uma coisa isolada. Para Godard, qualquer atividade ligada a cinema é fazer cinema. Não é só o diretor que faz cinema. É uma coisa coletiva, participativa. Alguns são mais ativos, outros menos.

Na época do Ciclo do Super 8, vocês se enxergavam como integrantes de um movimento cinematográfico, como o Cinema Novo ou a Nouvelle Vague?
O Ciclo do Super 8 não se considerava um movimento, mas havia coletivos como o Grupo 8. Tinha o grupo de Jomard, que tinha uma ligação com o movimento gay. Tinha o grupo de Amin Stepple, que fazia um cinema mais de vanguarda do ponto de vista da forma.O momento atual do cinema pernambucano pode ser considerado um “movimento”?
Você precisa da sua terra para fazer sua arte. Eu esculhambo o Recife, mas a gente precisa do Recife. Não tenho acompanhado tudo do cinema pernambucano atual, mas gostei de Cinema, aspirina e Urubus, de Marcelo Gomes, O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho, e gostei muito de Árido Movie, de Lírio Ferreira. Há um interesse coletivo e as pessoas são muito ligadas aqui em Pernambuco. Acho que o Cinema Novo ainda influencia muito, talvez por causa do meu trabalho e do trabalho de Fernando Spencer, pois divulgávamos muito o Cinema Novo e isso influenciou esse pessoal. A gente contribuiu para a formação desse pessoal.

Que aspecto do Cinema Novo os influenciou?
Pela filosofia e pelo lado político. Você vê que os filmes de Pernambuco não são alienados, não são feitos só para ganhar dinheiro, como ocorre com muitos cineastas do Rio de Janeiro. Sei que alguns cineastas daqui estarão sempre filmando, mas o que me preocupa é essa dependência com o governo. Se acabar o Funcultura, o que será do cinema pernambucano?

Como foi sua passagem pelo Diario de Pernambuco?
Foi meu primeiro emprego. Trabalhei muito tempo em jornais, desde o fim da década de 1950, depois de ter estudado Filosofia. Passei pelo Jornal Pequeno como free lancer, quando cobri a eleição de Cid Sampaio, mas comecei profissionalmente no Diario de Pernambuco, onde trabalhava como copidesque junto com Aguinaldo Silva. No Diario, eu também fazia entrevistas com personalidades, como Malba Tahan, que estava hospedado no Grande Hotel. Eu ia para o Porto do Recife e descobria as personalidades que estavam nos navios, de passagem pela cidade. Entrevistei Amália Rodrigues e Gago Coutinho, por exemplo. Depois passei por outros jornais, como o Última Hora e o Jornal do Commercio, onde fiquei até o fim da década de 1980. Acho que fui demitido porque os editores não queriam mais os jornalistas mais velhos. Os jovens recebem menos e obedecem mais, sem questionar. A gente, que tem mais experiência, pode discutir com o chefe. Os jovens fazem o que mandam. Um editor que demite os velhos quer ser o único velho. Hoje em dia estou mais ativo no Facebook.

É verdade que você chegou a ser acusado de escrever apenas para cinéfilos, sem pensar nos outros tipos de leitores?
Eu escrevo de uma maneira fácil. Tenho essa capacidade. Não escrevo com formalismos. Todo mundo que lê minhas crônicas, entende. Escrevo procurando explicar o que é cada aspecto. Uma vez, Paulo Emílio Sales Gomes disse que eu me vendi ao capital estrangeiro por elogiar um filme de Pasolini. Já Marco Polo me chamou de stalinista porque eu defendia demais o cinema brasileiro.

Você já fez a programação de que cinemas?
Eu e Fernando Spencer fizemos a programação do Soledade, do Trianon, do Art Palácio, do São Luiz, do Coliseu e do AIP. No São Luiz, era apenas no sábado à tarde, na Sessão de Arte. O Coliseu era um cinema enorme, que não estava dando certo, aí o gerente nos convidou para apostar em uma programação diferente, de cinema de arte. A lógica da Sessão de Arte é concentrar o público. Se fosse uma semana inteira, não lotaria. Depois assumi o Cinema Ribeira, no Centro de Convenções. O Ribeira acabou porque fiz a burrice de fazer o cinema participar do programa Todos com a Nota. O público começou a fazer a maior bagunça e isso espantou o público do filme de arte. Eu deveria ter separado a programação em dias diferentes da semana. Acho que o Ribeira poderia voltar a funcionar se houver investimento em um equipamento digital. O cinema não existia e nós montamos tudo porque o governo investiu.

O que era, o que deveria ser e o que é hoje o Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe)?
O Mispe hoje não é mais nada. Eles fecharam. Nem sei como está o acervo, que foi levado para a Casa da Cultura. O Mispe nunca teve dinheiro, mas funcionava pelo nosso interesse. Com uma televisão e um videocassete, podíamos reunir 20 pessoas, um público interessado em discutir os filmes. Organizei também sessões no Teatro Arraial, com projeções em vídeo. Na verdade, todos os museus do governo do estado estão abandonados, não é só o Mispe. Os museus têm que oferecer atividades, têm que ter uma programação cultural. Os museus daqui mal recebem verbas.

Como você vê a atual proliferação de cineclubes, que hoje têm até editais específicos de patrocínio?
O cineclube tem que ter debate, tem que fazer pensar. Não é só o cinema pelo cinema. Você pode extrapolar sua vida por meio da arte. É preciso conscientizar as pessoas para mudarem o mundo com os filmes. O que interessa não é o filme em si, mas a mudança do mundo. Não me interesso por cinema apenas pelo cinema. Defendo um mundo socialista, não como Cuba, China ou a União Soviética, mas com uma vida agradável e criativa para a sociedade. Cada pessoa é um partido.

Você sofreu algum tipo de perseguição durante a ditadura?
Em 1963, viajei para a Áustria, para participar de um congresso, como jornalista. Eu era ligado à esquerda e ao Partido Comunista. Lá na Áustria, recebi um convite para conhecer a China e aceitei. Na volta, passei por outros países, como a União Soviética e a Alemanha Oriental. Na ida, passei pela Checoslováquia. Por causa dessa viagem, não tive mais sossego. Cheguei a passar três meses preso em 1964. O Exército queria saber o que é que eu tinha trazido da China pra entregar a quem, mas não havia nada. Tive que conversar muito para convencê-los a acreditar em mim. Meu advogado era Bóris Trindade, que eu pagava com ingressos de cinema. Depois evitei participar de coisas de partidos. Passei a fazer apenas política cultural.

Fonte: Diário de PE

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

 

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