Com estiagem, setor elétrico estima que pode ser preciso reduzir consumo em até 10%

ÍndiceCom a geração de energia de hidrelétricas limitada, devido ao baixo volume de água em seus reservatórios, e a geração das usinas térmicas já em seu limite de capacidade (17 mil Megawatts), associações do setor elétrico já falam na necessidade de o país reduzir hoje entre 5% a 10% o consumo de eletricidade. No pior cenário, que incluiria o aumento da demanda por energia e a manutenção dos baixos níveis dos reservatórios, o corte no consumo seria inevitável. Com os reservatórios em nível crítico, o preço da energia no mercado livre tem subido muito. Para tentar neutralizar este efeito para as distribuidoras, no fim da noite, o governo baixou uma edição extra do “Diário Oficial” se comprometendo a bancar o impacto da alta no custo da energia.

— Há um déficit estrutural de oferta. Pela perspectiva de hoje, há uma necessidade de cortar de 5% a 10% da carga (demanda). Mas essa é uma situação que pode mudar caso comece a chover. É importante esperar até o mês de abril, quando acaba o período de chuvas. Estamos com muitos problemas na oferta — disse Reginaldo Medeiros, presidente da Associação Brasileira de Comercializadores de Energia (Abraceel), uma das 15 associações do setor elétrico que encaminharam na última quinta-feira carta ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, pedindo maior diálogo sobre a situação.

Sem previsão de chuva

A previsão do tempo para os próximos meses não é animadora. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, entre a próxima quarta-feira, 12 de março, e o fim de maio não há a previsão de cair uma gota sequer d’água em Minas Gerais e São Paulo, onde estão os principais reservatórios das hidrelétricas. Junho, por sua vez, é um mês historicamente seco, com média de chuva de 9 milímetros (contra 200 mm de março). O período úmido só recomeça na segunda quinzena de setembro.

— Infelizmente, a situação a médio e longo prazo é muito preocupante. Nunca vi uma seca assim — afirmou Expedito Rebello, chefe da meteorologia do Inmet que trabalha no órgão há 32 anos.

No último dia 6, o nível de reservatórios do Sudeste/Centro Oeste estava em 34,68%, próximo ao do racionamento de 2001. Se o regime de chuvas se mantiver como o atual, esse nível terá variado pouco ao fim de abril: 35,4%, nas previsões do especialista em energia Adilson Oliveira, do Instituto de Economia da UFRJ. O percentual ficaria abaixo do limite de segurança para o mês, de 44%, que havia sido previsto pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) no ano passado. O limite de segurança, determinado pela chamada curva de aversão ao risco, era um parâmetro usado pelo ONS, mas foi abandonado em meados de 2013.

Se estivesse em vigor, o limite de segurança para os reservatórios do Nordeste seria de 48% no fim de abril, segundo Oliveira. Mas mantendo-se a trajetória de chuvas atual, ele ficará em 43% no fim do mês que vem. Em 6 de março, estava em 42,09%.

— Se o Sudeste entrar em colapso, o sistema como um todo entra em colapso — afirma Oliveira.

Medeiros, da Abraceel, lembra que as térmicas estão operando atualmente muito perto de sua capacidade, situação que já se estende por 18 meses e que deve permanecer por todo o ano de 2014. As térmicas funcionam como um colchão de segurança no setor elétrico brasileiro, sendo acionadas sempre que os reservatórios baixam.

— Estava prevista a entrada em operação de 8 mil MW (de térmicas) entre 2011 e 2013 e não entrou nada no sistema por atrasos nas obras. Se tudo planejado entrasse no sistema, o sistema estaria em equilíbrio — disse Medeiros.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine) — que também assinou a carta ao ministro Lobão —, Luiz Fernando Vianna, lembra que, no caso de aumento do consumo, não há mais capacidade térmica para elevar a oferta. Ainda assim, ele não vê a situação como crítica.

30% das térmicas não saem do papel

Segundo o relatório de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de fevereiro, foram autorizados pela agência 33 projetos de térmicas, totalizando capacidade de 6.942,81 MW. Essas usinas entrariam em operação até 2020. No entanto, um terço dessa potência, ou 2.341,90 MW, não tem previsão de sair do papel devido a “graves restrições”, incluindo problemas de licenciamento, ações na Justiça ou dificuldades financeiras dos empreendedores. Seis dos projetos sem previsão de virar realidade na avaliação da Aneel são do grupo Bertin. A empresa assegura, porém, que as usinas ficarão prontas este ano.

No pior dos cenários, o presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) — que também assinou a carta — Paulo Pedrosa, disse que seria possível reduzir a carga de energia em 5% com ações de racionalização.

— Há risco de racionamento, sim, no Brasil. Mas isso é um risco inerente ao setor elétrico que sempre trabalhou com isso. Caso contrário, teríamos que ter o dobro de usinas térmicas instaladas, o que custaria caro. É possível reduzir em 5% a carga sem maiores traumas.

Fonte: O Globo
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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