Oásis do vinho em meio ao semiárido

POO semiárido é seco. Na paisagem, marrom e cheia de pó. Na vegetação, quebradiça e cinza. Na baixa umidade, que faz o nariz sangrar. No clima, quente e agressivo para os desacostumados. Como diz o trecho de uma das músicas da ótima banda local Cabelo de Serpente, no Vale do São Francisco o sol parece mais baixo. E é no meio de tanta hostilidade climática que nasce vida, traduzida na suculência de mangas, goiabas e uvas, as tão notáveis uvas, tesouro da região e matéria-prima de vinhos que já renderam ao Sertão reconhecimento nacional e internacional.

Encontrar o verde das parreiras depois de trilhas de sequidão é impressionante. Como é possível uma terra com déficit hídrico, solo raso e seca ininterrupta durante oito meses ser tão fértil? As vinícolas do Estado e da Bahia, para se ter ideia, são as únicas no mundo a plantar e colher em qualquer época do ano. Videiras de outros países – e nem de tão longe, alí do Sul – precisam acompanhar o curso natural das estações para frutificar. As tres mil horas anuais de luz solar intensa, os sistemas de irrigação existentes graças ao Velho Chico e a tecnologia levada por pesquisadores formam a tríplice que sustenta a bem sucedida produção agrícola do Vale. O resultado, pelo menos na vitivinicultura, são cinco safras a cada dois anos que originam vinhos jovens, leves, frutados, aromáticos, de acidez acentuada e com o frescor que o clima nacional pede.

A juventude, no entanto, principal característica da maioria dos rótulos do São Francisco justamente por causa da rapidez da produção – que inviabiliza o amadurecimento a logo prazo do líquido – não é atribuída a todos os vinhos. Excelentes elaborações tintas como o Paralelo 8, da RioSol, e o Testardi, da Miolo, provam que do Sertão seco podem sair, sim, bebidas complexas e de qualidade indiscutível. O grande potencial de luminosidade – que, à primeira vista, poderia ser considerado um vilão – é aliado das uvas, já que na casca de boa parte dessas frutas estão a cor do vinho tinto e seus aromas. Quanto mais luz o bago recebe, mais múltiplos serão os cheiros e coloração da bebida. Ainda que seja um vegetal que exige cuidados, a videira se adapta facilmente e é no calor que acontece a brotação. Como não há variação de clima na região, controlando os níveis de água que chegam até a planta é possível programar vinho para o ano todo. “Hoje, o produtor consegue colher em 120 dias. É um privilégio. Conseguimos ter duas safras completamente distintas no mesmo ano. Nossos vinhos são ricos em compostos fenólicos, altamente antioxidantes”, explica Aline Biasoto, pesquisadora do laboratório de enologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A presença dessa e de outras importantes instituições na região é responsável pelo melhoramento das técnicas de cultivo e adaptação de diferentes tipos de uva no Vale. É unânime: a syrah foi a que melhor se instalou nas vinhas sertanejas. A Embrapa, inclusive, já deu início a pesquisas de elaboração de espumantes com a casta. Além dela, touriga nacional, petit verdot, alicante bouschet e muitas outras também são encontradas nos parreirais nordestinos. O estudo de solo feito pelos profissionais ajuda, inclusive, produtores a identificar as manchas férteis de terra em meio à caatinga. As fazendas ficam situadas sobre esses retalhos. São apenas 30 anos de vinicultura no vale do São Francisco, experiência tímida perto dos tradicionais produtores, mas não menos capacitada e inventiva. As sete milhões de garrafas de vinho ao ano e um enoturismo fortalecido, ancorado pela desenvolvida Petrolina, que não tem vinícolas, mas comporta toda estrutura hoteleira, fazem do Vale um orgulho para Pernambuco. Às margens do São Francisco, debaixo de tanto calor, saborear uma taça de espumante bem gelada é quase irresistível. E poder ver – como bem ressaltou João Santos, produtor dos vinhos RioSol – toda evolução da uva, aquivalente às quatro estações, em apenas quinze metros, é privilégio que só a gente tem.

Fazenda Milano – Santa Maria da Boa Vista (PE)

A fazenda Milano existe desde os anos 70, quando empreendedores italianos chegaram ao Vale interessados no clima da região, perfeito para elaborar os vinhos do tipo californiano que desejavam – e não conseguiam produzir no Sul por causa da temperatura. O resultado, no entanto, era engarrafado na Serra Gaúcha. Só em 1984 o espaço passou a criar e engarrafar os próprios rótulos. Hoje, carrega no portfólio uma das marcas mais familiares aos consumidores pernambucanos quando o assunto é vinho regional: a Botticelli. O espumante Asti, feito com 100% de uvas do tipo moscato, é, de longe, o produto mais vendido da casa, segundo o diretor José Gualberto. Dos tintos, o mais emblemático da vinícula é o 1501, que tem como nome o ano de descobrimento do Rio São Francisco. Feito com cabernet sauvignon, repousa em tranques por um ano e meio e amadurece na garrafa por mais seis.

Fazenda Bianchetti – Lagoa Grande (PE)

Divulgação

Uníca vinícola do Nordeste a produzir vinhos orgânicos, a Bianchetti é encabeçada pelo casal Izanete Bianchetti Tedesco e Ineldo Tedesco – ele, um dos enólogos pioneiros do Vale, envolvido na elaboração do primeiro vinho da região. Em 1991, junto à esposa, adiquiriram a fazenda que produzia uvas de mesa e, em 2004, passou a realizar o cultivo orgânico e artesanal de uvas para vinhos, disponíveis nos tipos tempranillo, barbera e sauvingnon blanc. Sucos orgânicos também estão no portfólio. Todos com certificado do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Instituto Biodinâmico (IBD). Apesar do produto único no mercado regional e de espumantes de qualidade, os itens mais vendidos da marca são os populares Portal do Sol, vinhos de mesa feito com mescla de variedades viníferas.

Fazenda Santa Maria – Lagoa Grande (PE)

Levando em consideração as experiências em Alentejo, em Portugal, cujo clima lembra o do Sertão e onde são produzidos alguns dos melhores vinhos da Europa, João Santos decidiu investir no Vale do São Francisco. E deu certo. A vinícola dos vinhos Rio Sol é uma das maiores e mais estruturadas da região. São 30 rótulos no portfólio e passa de dois mihões de litros anuais a produção de vinho e espumantes, esse feitos pelo método charmat, com juventude e leveza. “Não fazemos espumantes pesados como os europeus, degustados no frio. Nosso rótulos vão ser bebidos na praia, no mercado e devem ser consumidos em até 90 dias para preservar o frescor”, explica João Santos, prprietário da Santa Maria. O rosé tem nuances de frutas vermelhas. O Paralelo 8 se destaca entre os tintos. Vinho de corte feito com as melhores uvas da safra e amadurecido em barricas de carvalho, chega ao mercado para aplacar o preconceito do brasileiro com as bebidas com mais de um tipo de uva.

Fazenda Ouro Verde – Casa Nova (BA)

Em 2001, o grupo Miolo adiquiriu no Vale uma pequena vinícula que já fazia 70 mil garrafas por ano. A empresa modernizou o espaço e hoje são produzidos no local 2 milhões e 400 mil litros por ano de bebida. Desse número, 85% apenas de espumante. Um milhaõ de litros só de moscatel. Entre os rótulos da linha Terra Nova estão o Brut, o Brut Rosé, O Demi-sec e moscatel. Notável, ainda, é o Testardi, tinto varietal elaborado apenas com a uva syrah e que foi considerado o melhor do Brasil em 2012. Durante um ano em barril de carvalho, ele ganha corpo, estrutura e maciês acentuada.

*Sabores viajou para o Vale do São Francisco a convite da Secretaria de Turismo de Pernambuco

Fonte: Folha -PE

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Clipping
GONZAGA PATRIOTA PARTICIPA DO DESFILE DA INDEPENDÊNCIA NO PALANQUE DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA E É ABRAÇADO POR LULA E POR GERALDO ALCKMIN.

Gonzaga Patriota, acompanhado da esposa, Rocksana Príncipe e da netinha Selena, estiveram, na manhã desta quinta-feira, 07 (Sete de Setembro), no Palanque da Presidência da República, onde foram abraçados por Lula, sua esposa Janja e por todos os Ministros de Estado, que estavam presentes, nos Desfiles da Independência da República. Gonzaga Patriota que já participou de muitos outros desfiles, na Esplanada dos Ministérios, disse ter sido o deste ano, o maior e o mais organizado de todos. “Há quatro décadas, como Patriota até no nome, participo anualmente dos desfiles de Sete de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Este ano, o governo preparou espaços com cadeiras e coberturas, para 30.000 pessoas, só que o número de Patriotas Brasileiros Independentes, dobrou na Esplanada. Eu, Lula e os presentes, ficamos muito felizes com isto”, disse Gonzaga Patriota.

Clipping
Gonzaga Patriota participa de evento em prol do desenvolvimento do Nordeste

Hoje, participei de uma reunião no Palácio do Planalto, no evento “Desenvolvimento Econômico – Perspectivas e Desafios da Região Nordeste”, promovido em parceria com o Consórcio Nordeste. Na pauta do encontro, está o plano estratégico de desenvolvimento sustentável da região, e os desafios para a elaboração de políticas públicas, que possam solucionar problemas estruturais nesses estados. O evento contou com a presença do Vice-presidente Geraldo Alckmin, que também ocupa o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o ex governador de Pernambuco, agora Presidente do Banco do Nordeste, Paulo Câmara, o ex Deputado Federal, e atualmente Superintendente da SUDENE, Danilo Cabral, da Governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, entre outras diversas autoridades de todo Nordeste que também ajudam a fomentar o progresso da região.

Clipping
GONZAGA PATRIOTA comemora o retorno da FUNASA

Gonzaga Patriota comemorou a recriação da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, Instituição federal vinculada ao Ministério da Saúde, que havia sido extinta no início do terceiro governo do Presidente Lula, por meio da Medida Provisória alterada e aprovada nesta quinta-feira, pelo Congresso Nacional.  Gonzaga Patriota disse hoje em entrevistas, que durante esses 40 anos, como parlamentar, sempre contou com o apoio da FUNASA, para o desenvolvimento dos seus municípios e, somente o ano passado, essa Fundação distribuiu mais de três bilhões de reais, com suas maravilhosas ações, dentre alas, mais de 500 milhões, foram aplicados em serviços de melhoria do saneamento básico, em pequenas comunidades rurais. Patriota disse ainda que, mesmo sem mandato, contribuiu muito na Câmara dos Deputados, para a retirada da extinção da FUNASA, nessa Medida Provisória do Executivo, aprovada ontem.