Programas ajudam a pensar a engenharia da escrita

4aa338bff3db894bf70a9f809f9cc0cdDesde 1966 e até a década 1980, o poeta João Cabral de Melo Neto (1920-1999) criou anotações, referências textuais e até um roteiro para um poema, nos moldes de Morte e vida severina, que ele nunca concluiria. Na pasta que deixou com esses registros incompletos, publicada pela Alfaguara como Notas para uma possível A casa de farinha, há mais do que o esqueleto – e alguma parte da carne – dessa obra. Nos esquemas que descrevem cada trecho do poema, as possibilidades e dúvidas para os personagens, os rascunhos e as anotações, o que está escondido é o processo singular de estruturar um romance, um dos processos mais complexos da criação literária.

Salvo casos assim, o leitor só tem acesso às obras prontas. O escritor russo radicado nos Estados Unidos Vladimir Nabokov (1899-1977) também tinha um processo específico: escrevia a lápis em fichas – o volume O original de Laura (Alfaguara) mostra 138 delas. O romance era dividido em pequenos trechos e poderia ser modificado, com acréscimos e reduções, sem afetar toda a estrutura. Nesses dois casos, são reveladas duas formas de pensar uma narrativa antes e durante a sua criação, na tentativa de visualizá-lo e modificá-lo aos poucos durante a escrita.

Se esse processo antes exigia uma organização analógica, que variava bastante de formato entre os diversos autores, hoje em dia algumas ferramentas se propõem a ajudar nessa criação. Como os que escrevem à mão ou à máquina são cada vez mais raros, os programas de computador se tornaram parte do cotidiano da criação. Alguns autores, no entanto, se servem de softwares mais complexos que os processadores de texto comuns, como o Microsoft Word ou o BrOffice.

A função é parecida com a das pastas com anotações e referências de outros autores. O programa preferido dos escritores atuais, o Scrivener, começou a ser usado nos últimos anos por autores contemporâneos brasileiros, como os pernambucanos José Luiz Passos e Wellington de Melo e a gaúcha Carol Bensimon. “É um programa que facilita a criação de um projeto de livro no que vai além da escrita: ajuda a estabelecer prazos, a criar uma disciplina, reúne informações em um lugar só”, conta Wellington de Melo, um dos entusiastas do software. Seu mais recente livro, O estrangeiro no labirinto (Confraria do Vento), tem uma composição repleta de fragmentos, com uma estrutura que cita o tarô, a árvore de vida e a cabala e tem personagens presos dentro do próprio livro.

Apesar de ter colegas que preferem trabalhar em programas mais simples, o autor vê vantagens em usar as ferramentas disponíveis. “O programa permite ir montando um livro como um todo enquanto se visualiza o que está sendo feito em fragmentos”, comenta – sua nova obra, A sombra do pai, está sendo criada nele. Além da capacidade de dialogar com várias mídias, como fotos, áudios, vídeos e rascunhos – um pouco do que João Cabral fazia na sua pasta do poema A casa da farinha –, o software ainda ajuda a estabelecer metas e pode transformar a narrativa em livro digital ou em um formato padrão de original, por exemplo. “O Scrivener ajuda o processo de escrita, permite que o autor se concentre no mais importante. Mas não faz de ninguém um escritor melhor, claro”, aponta.

A escritora gaúcha Carol Bensimon também começou a usar recentemente programas para ajudar na escrita. “Quando escrevi meus dois romances (Sinuca embaixo d’água e Todos nós adorávamos caubóis, ambos da Companhia das Letras), sentia que às vezes era muito difícil dar aquele ‘passinho para trás’ e enxergar a narrativa como um todo enquanto eu estava imersa em uma cena específica ou um capítulo específico”, conta a autora. Antes, o processo era composto de anotações em papel, que vez ou outra ajudavam na hora de compor o livro no computador, mas também podiam ser descartados ou ignorados.

Isso mudou com a recomendação de um amigo: o roteiro da graphic novel que constrói agora já está sendo feito no Scrivener e o próximo romance também deve usar o software. “A grande vantagem é manter a narrativa mais organizada, poder ir de um capítulo a outro com facilidade, enxergar, enfim, o todo e as partes, coisa muito difícil de se fazer em um processador de texto comum”, comenta.

Autor do premiado O sonâmbulo amador (Alfaguara), José Luiz Passos dá início as suas narrativas no papel, escrevendo em cadernetas. “Ali anoto nomes, frases, pedaços de diálogos, títulos, notas para cenas e capítulos etc.”, explica o pernambucano, que mora em Los Angeles, nos Estados Unidos, e leciona na Universidade da Califórnia. Para o seu primeiro romance, Nosso grão mais fino, usou o Microsoft Word para transformar as ideias em parte de um romance, mas, no processo de criação de O sonâmbulo amador, ouviu falar sobre o Scrivener. “A troca foi fundamental”, aponta.

Em versões anteriores, o romance chegou a ter mais de 500 páginas. “O Scrivener me ajudou a ter uma visão completa do material, e a fazer os cortes, salvando trechos e testando outros, em posições diferentes, a cada vez que gravava ou imprimia uma versão completa. E ele também exporta o texto para vários formatos”, explica. “Como meu romance tem uma estrutura modular, com sonhos, memórias, narração do presente etc., o programa me ajudou a testar diferentes arranjos. Não fosse por ele, eu teria demorado mais a fazer os cortes (quase 200 páginas ficaram fora) e acabar no prazo que eu havia me dado.” Para dar ordem ao caos das anotações ou para criar estruturas complexas, programas como esse são cada vez mais úteis.

Confira alguns aplicativos úteis para a escrita:

Scrivener – US$ 40s – www.literatureandlatte.com/scrivener.php – O programa permite incorporar anotações e pesquisas esparsas para construir um projeto de livro, com disponibilidade de vários formatos. A grande vantagem é ajudar a compor o livro em todas as suas etapas, da concepção até a finalização do arquivo.

yWriter – gratuito – ywriter.softonic.com.br – É um programa parecido com o Scrivener, mas com menos funcionalidades. Também cria uma estrutura de capítulos ou etapas para um projeto, focando-se na simplicidade. O porém é a interface, que é menos agradável e mais complexa.

OmmWriter – pague o quanto quiser – ommwriter.com – A proposta é simples: permitir a escrita sem distrações. O OmmWriter faz com que o usuário se foque apenas na redação, facilitando a

Evernote – gratuito com versão paga – evernote.com – O Evernote é ideal para quem precisa fazer anotações rápidas – em áudio, texto ou foto – para acessar depois em qualquer lugar.

Freedom – US$ 10 – macfreedom.com – É o mais simples de todos: sua função é apenas bloquear o acesso a internet em um computador. Sua função é ajudar na concentração e evitar a dispersão em e-mails e redes sociais.

Fonte: Jc online

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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