Refugiados desabafam sobre drama das crianças na Síria: “Saem de casa com risco de não voltar”

Com sotaque árabe, o sírio Talal al-Tinawi, 43 anos, repete o discurso, adotado por sua família, de que é preciso seguir em frente. Mas a convicção que corre em seu interior, pulsando lembranças que logo se diluem por entre o trânsito e os novos afazeres de sua vida em São Paulo, oscila no momento em que ele fala do atual drama das crianças na guerra da Síria, iniciada em 2011.

Diante do aparelho de TV em sua casa, ele foi mais um dos bilhões de pessoas que assistiram o menino Omran Daqneesh, de cinco anos, ser retirado de um prédio em escombros e, misturando ternura e tristeza, olhar para o infinito em busca de uma resposta para o sangue que corria em seu rosto imberbe.

Mas Talal, como tantos outros refugiados que escaparam guerra, ainda a traz dentro de si e por isso lhe vem uma sensação mais intensa de dor ao ver a cena.

— Vi a cena da criança na ambulância, dá para ver, mesmo pela TV, como ele fica muito surpreso com o que aconteceu com ele. Se pergunta: por que estou aqui? Claro que é difícil para ele, para os pais dele, para pessoas que têm coração porque agora têm muitas pessoas sem coração que não ligam para o que acontece com a Síria.

O triste desabafo soa vivo, verdadeiro, vindo de um homem espontâneo e corpulento, e não tira o otimismo e o estilo comunicativo de Talal. Ele se sente privilegiado por ser um dos 2.076 sírios que conseguiram deixar o inferno da guerra e chegar ao Brasil com sua esposa Gazhal e os filhos Yara e Riad, em 2013. Aqui no Brasil nasceu a caçula Sara.

Com 14 anos, o filho Riad sabe o que é ser uma criança em um país em guerra. E, mesmo desviando o olhar no momento de falar sobre o susto de Omran, diz que procura esquecer tamanho sofrimento para poder ter um dia mais tranquilo, distante do caos e da dor. Nem sempre ele consegue, mas o que ele busca é se manter firme.

Riad até se protege da dor, mas ela ainda está presente quando, escapando pelas frestas da memória, ele se lembra de que perdeu amigos na guerra. O menino ainda tem em mente a rotina e o drama das crianças sírias, ao relatar uma outra tragédia, esta vivida por seu primo de 9 anos. Estudante do colégio particular Stockler, em São Paulo, Riad conversa já utilizando as gírias da juventude brasileira, como “na verdade” e “tipo”.

— Na verdade foi com meu primo que ocorreu um fato que me tocou muito (nesta guerra). Tipo, ele estava indo para o parque com amigos deles. Ele voltou sozinho, sem ninguém. Ele conseguiu escapar (de um bombardeio), os amigos dele não. Eles tinham ido brincar e ele ficou sem amigos. Neste momento ele não consegue sair de lá e não conversamos sobre isso porque podem ouvir a conversa (e persegui-los na Síria).

Riad sabe como é o dia-a-dia de uma criança síria, onde os verbos brincar, estudar, pular, sorrir e sonhar são conjugados sempre com um toque de amargura.

— A criança lá sai de casa, mas com risco de não voltar. Estuda na escola mas com risco de não retornar para casa. Eles já se acostumaram. Brincam, das mesmas brincadeiras daqui (Brasil) mas sempre correndo perigo. É assim. As crianças nem ficam tão preocupadas. Quem fica mais são os pais.

Cenário de destruição

Depois da adaptação no Brasil, onde ficou hospedado, junto com a família, na casa de um sírio, frequentador da mesquita do Brasil, Talal, que é engenheiro mecânico, abriu um restaurante de gastronomia síria, no bairro do Brooklin em São Paulo. Já estabelecido, se mostra satisfeito com seu atual estágio de vida.

Mas não com o que ainda acontece em seu país, do qual foi obrigado a sair após ficar três meses preso por ter sido confundido com um homem procurado pelo regime do ditador Bashar al-Assad.

— Depende de onde mora na Síria, as crianças não saem de casa. Se mora em Damasco, onde no centro está mais seguro, ela vai escola, se alimenta, tudo fica mais fácil. Em outros lugares é mais difcil, não pode ir à escola, precisa da ajuda de outros, não tem espaço para brincar, é mais complicado.

A explicação de Talal se encaixa aos dados fornecidos por instituições internacionais. Em Aleppo, por exemplo, o alimento está escasso, segundo artigo da Time, já que ajuda humanitária não chega, pelo fato de a cidade estar cercada por forças do ditador Assad. Cerca de 75 mil crianças estão sob ameaça na cidade. As que perdem os pais não recebem o atendimento adequado.

“A vida não acabou”: crianças sírias transformam buraco de bomba em piscina após ataque aéreo

Dados da Human Rights Watch informam que o preço de alimentos como arroz já estão em R$ 45,00 o quilo. O do açúcar é de R$ 64,00. E o litro de azeite está em R$ 141,00.

A falta de água também tem sido causa de doenças, segundo o Unocha (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários). Cerca de dois milhões de pessoas não tiveram acesso a água corrente desde o fim de julho último.

Além disso, seis dos oito hospitais locais foram bombardeados. Há escassez de material de construção, ambulâncias destruídas e, de acordo com a ONG Save the Children, 16 das 46 escolas foram atingidas por bombardeios em Aleppo. Apenas 35 médicos, correndo sério risco de vida, estão disponíveis para atender 300 mil pessoas.

Na última quarta-feira (7), um bombardeio causou a morte do único pediatra do bairro de Al Sheikh Maqsud, cuja maioria é curda, no norte da cidade, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

Diante de números dramáticos, Talal, cujo pai de 75 anos continua na Síria e, com os outros filhos, mantém negócios da família, nem busca palavras para explicar o que ocorre em seu país.

Fonte: R7

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

Nenhum comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Clipping
GONZAGA PATRIOTA PARTICIPA DO DESFILE DA INDEPENDÊNCIA NO PALANQUE DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA E É ABRAÇADO POR LULA E POR GERALDO ALCKMIN.

Gonzaga Patriota, acompanhado da esposa, Rocksana Príncipe e da netinha Selena, estiveram, na manhã desta quinta-feira, 07 (Sete de Setembro), no Palanque da Presidência da República, onde foram abraçados por Lula, sua esposa Janja e por todos os Ministros de Estado, que estavam presentes, nos Desfiles da Independência da República. Gonzaga Patriota que já participou de muitos outros desfiles, na Esplanada dos Ministérios, disse ter sido o deste ano, o maior e o mais organizado de todos. “Há quatro décadas, como Patriota até no nome, participo anualmente dos desfiles de Sete de Setembro, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Este ano, o governo preparou espaços com cadeiras e coberturas, para 30.000 pessoas, só que o número de Patriotas Brasileiros Independentes, dobrou na Esplanada. Eu, Lula e os presentes, ficamos muito felizes com isto”, disse Gonzaga Patriota.

Clipping
Gonzaga Patriota participa de evento em prol do desenvolvimento do Nordeste

Hoje, participei de uma reunião no Palácio do Planalto, no evento “Desenvolvimento Econômico – Perspectivas e Desafios da Região Nordeste”, promovido em parceria com o Consórcio Nordeste. Na pauta do encontro, está o plano estratégico de desenvolvimento sustentável da região, e os desafios para a elaboração de políticas públicas, que possam solucionar problemas estruturais nesses estados. O evento contou com a presença do Vice-presidente Geraldo Alckmin, que também ocupa o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o ex governador de Pernambuco, agora Presidente do Banco do Nordeste, Paulo Câmara, o ex Deputado Federal, e atualmente Superintendente da SUDENE, Danilo Cabral, da Governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, os ministros da Casa Civil, Rui Costa, e da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, entre outras diversas autoridades de todo Nordeste que também ajudam a fomentar o progresso da região.

Clipping
GONZAGA PATRIOTA comemora o retorno da FUNASA

Gonzaga Patriota comemorou a recriação da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, Instituição federal vinculada ao Ministério da Saúde, que havia sido extinta no início do terceiro governo do Presidente Lula, por meio da Medida Provisória alterada e aprovada nesta quinta-feira, pelo Congresso Nacional.  Gonzaga Patriota disse hoje em entrevistas, que durante esses 40 anos, como parlamentar, sempre contou com o apoio da FUNASA, para o desenvolvimento dos seus municípios e, somente o ano passado, essa Fundação distribuiu mais de três bilhões de reais, com suas maravilhosas ações, dentre alas, mais de 500 milhões, foram aplicados em serviços de melhoria do saneamento básico, em pequenas comunidades rurais. Patriota disse ainda que, mesmo sem mandato, contribuiu muito na Câmara dos Deputados, para a retirada da extinção da FUNASA, nessa Medida Provisória do Executivo, aprovada ontem.