Como o maior mercado de petróleo está piorando o excedente global de combustíveis

Matéria publicada nesta terça-feira (14) pelo The Wall Street Journal avalia que a grande aposta das petrolíferas no aumento da demanda em mercados de crescimento mais rápido está se tornando menos lucrativa.

Essas empresas investirão bilhões de dólares nos próximos anos em refinarias novas e já existentes por toda a Ásia, onde o consumo de combustíveis refinados como a gasolina, combustível de avião e petroquímicos tem aumentado mais rapidamente que em qualquer outra região.

Mas esses planos estão batendo de frente com um excedente de combustível refinado que pode durar anos, segundo analistas — um efeito colateral da desaceleração da demanda na China e um aumento da capacidade de refino.

> The Wall Street Journal Oil’s Hottest Market Adds to Fuel Glut

A reportagem afirma que neste ano, a produção de gasolina e diesel na região excederá a demanda em cerca de 750 mil barris, ou 5% do consumo anual asiático, segundo previsão da firma de pesquisa BMI Research. O desequilíbrio, que começou a crescer em 2008, deve persistir pelo menos até 2021, informa a BMI. Esse excedente é um problema para as refinarias, cujos maiores mercados estão na Ásia. Aproximadamente um em cada três barris de petróleo é refinado na Ásia e a indústria mundial de refino gerou estimados 42,5% de sua receita na região em 2016, segundo a firma monitora de dados financeiros FactSet, menos que os 46,5% do ano anterior. No fim do ano passado, a corretora japonesa Nomura reduziu sua previsão de margem para as refinarias asiáticas — o lucro que as refinarias obtêm de um barril de petróleo — em 17%, para US$ 6,50 por barril. As margens têm diminuído no mundo todo nos últimos meses mesmo enquanto os preços do petróleo aumentaram.

O Journal aponta o sinal mais recente de um cenário mais hostil: o abandono pela saudita Aramco de uma joint venture com a Petroliam Nasional, da Malásia, ou Petronas, em um complexo químico e de refino de US$ 20 bilhões no Estado de Johor, na Malásia.

A petrolífera estatal da Arábia Saudita decidiu sair do projeto depois de concluir que ele não geraria lucro o suficiente, disseram pessoas a par do assunto ao The Wall Street Journal.

A estatal Petronas agora planeja seguir em frente com o projeto sozinha, depois de abordar outros parceiros potenciais sem sucesso, segundo uma pessoa a par da negociação. O projeto, que deve refinar 300 mil barris de petróleo por dia, pode levar entre 10 a 20 anos para se tornar lucrativo, disse a pessoa.

A Aramco não comentou. A Petronas não respondeu aos pedidos de comentário.

Durante anos, a Ásia foi o centro do crescimento global da demanda por petróleo, liderada pela China. Entre 2008 e 2016, a demanda por petróleo da China cresceu uma média de 5,1% por ano, enquanto a demanda por petróleo dos Estados Unidos manteve-se praticamente estável, diz Sushant Gupta, diretor de pesquisa da consultoria de energia Wood Mackenzie.

O diário norte-americano diz que a demanda chinesa desacelerou, acompanhando o menor crescimento econômico do país, enquanto as autoridades do país tentam afastar a China dos gastos em infraestrutura, que tendem a exigir equipamentos e fábricas que consomem grandes quantidades de diesel. A Wood Mackenzie espera que o crescimento da demanda da China desacelere para uma média de 1,7% por ano nos próximos oito anos. A demanda na Índia e Sudeste Asiático está aumentando, mas esses mercados são uma fração do mercado chinês.

Enquanto isso, as refinarias estão planejando um número de novos projetos na Ásia nos próximos anos. A Saudi Aramco manteve negociações com a estatal Chinal National Petroleum Corp. para construir uma refinaria na província de Yunnan. A CNPC já tem planos para uma refinaria de 260 mil barris por dia programada para a província de Kunming.

Um consórcio de empresas deve abrir uma refinaria de 200 mil barris diários no Vietnã no fim do ano, e a indiana Bharat Petroleum Corp. está ampliando uma refinaria na província de Kerala para mais de 300 mil barris diários. Juntas, as refinarias devem adicionar 932 mil barris diários em capacidade de refino em seis países da Ásia este ano, segundo a empresa de pesquisa Energy Aspects. A China se tornou um grande exportador de combustível na região, graças ao aumento de produção de refinarias independentes, conhecidas como “teapots”, que se beneficiam de regras de importação de petróleo menos rígidas para produzir mais combustível. As exportações de combustível da China saltaram 34% no ano passado para 973 mil barris diários.

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