Em Curitiba, PF desligou a Lava Jato da tomada

A Lava Jato tornou-se uma operação perneta em Curitiba. Durante três anos, a investigação caminhou a passos largos. Havia um perfeito sincronismo entre os movimentos do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Súbito, a PF começou a puxar a perna. Chegou a mobilizar 11 delegados. Reduziu o contingente para nove. Diminuiu para quatro. Em julho, a extinção da força-tarefa da PF deu à Lava Jato uma aparência de saci-pererê. Decorridos quatro meses, a PF transfere para o Ministério público até atividades comezinhas como a análise de materiais recolhidos em batidas de busca e apreensão. Os procuradores se queixam de que a investigação segue com sobressaltos, pulando numa perna só.

A PF empurrou os inquéritos da Lava Jato no berço curitibano da operação para dentro da vala comum da Delecor, uma delegacia que cuida de todos os outros casos de corrupção. Os quatro delegados e os cerca de 40 agentes que ainda se dedicavam exclusivamente à maior operação anticorrupção da história foram cuidar de outras coisas. A mudança foi vendida como mera “decisão operacional”. Alegou-se que o volume de trabalho reduzira. As delações da Odebrecht davam outra impressão. O monturo de material recolhido em cerca de 840 batidas policiais, tudo pendente de análise, deixava a versão oficial sem nexo.

Quando questionado sobre a mudança “operacional” de Curitiba, o ministro Torquato Jardim (Justiça), superior hierárquico da PF, costuma invocar a “razão quantitativa”. Ele compara a polícia à imprensa: “Alguns jornais tinham cinco repórteres especiais em Curitiba. Quantos permaneceram? Já não há tanta notícia. A Polícia Federal também já não precisa trabalhar com tanta gente.” Torquato acrescenta: “Estão em andamento na Polícia Federal cerca 450 operações em todo Brasil. Fora as que eguardam na fila. Vai concentrar só na Lava Jato e deixar o resto prescrever? Tem que distribuir o pessoal. A mudança não atrapalhou em nada.”

Em privado, os procuradores da força-tarefa de Curitiba pintam um quadro diferente. Um deles disse ao blog: No Paraná, “o trabalho da PF na Lava Jato praticamente acabou.” A paralisia tem causas variadas. A unidade entre a Procuradoria e a PF sofreu uma fratura quando os delegados foram excluídos dos procedimentos de negociação de delações premiadas. Afora as desavenças com os procuradores, houve também cisões internas na própria PF. Tudo isso mais a redução da infantaria, a extinção da força-tarefa e um desejo irrefreável da banda hemorrágica do PMDB de estancar a sangria.

É contra esse pano de fundo que assume a direção-geral da PF o delegado Fernando Segóvia. Foi alçado ao posto com o apoio de integrantes da turma do torniquete —gente como o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o ex-senador José Sarney. Segóvia chega sob o signo da suspeição. Suas decisões serão acompanhadas com lupa. Mas no caso de Curitiba, ainda que desejasse, o novo chefe da PF teria dificuldades para travar a investigação, pois a Lava Jato já foi desligada da tomada. E não é por falta de trabalho.

Há duas semanas, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, decidiu enviar para Curitiba o pedaço do inquérito sobre a quadrilha do PMDB que envolve suspeitos sem mandato. A Câmara congelou as investigações contra Michel Temer. Mas Fachin entendeu que os acusados que não dispõem de foro privilegiado devem ser investigados, processados e julgados na primeira instância. Assim, caíram no colo de Sergio Moro: os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves; o ex-ministro Geddel Vieira Lima e o ex-assessor de Temer no Planalto Rodrigo Rocha Loures, o homem  da mala. A defesa de Temer tenta bloquear as investigações no Supremo.

Fonte: Magno Martins

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