A cada quatro horas, um estupro é registrado em Pernambuco. Foram 497 de janeiro a março deste ano. No ano passado, quase uma mulher por dia foi assassinada. Trezentos e cinquenta, ao todo. Por trás dos números se descortina a cultura do machismo, em que o homem se nega a enxergar que à mulher se estendem os mesmos direitos dos quais goza. A essência desses crimes é debatida nesta quarta-feira (19), às 10h, na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Casa Forte, Zona Norte do Recife.
Apesar de reconhecer o momento oportuno para o debate, a mediadora do evento, a doutora em sociologia Cristina Buarque acredita que o problema não pode ser discutido apenas em momentos de crise, como o atual. “A morte de uma mulher, que seja, motivada por essa cultura, já é inadmissível. Por isso, tem que se falar sempre. Mas, não está se discutindo nas escolas ou nos sindicatos, por exemplo”, avaliou a pesquisadora da Fundaj.
“Só com um papel ativo da mídia, do governo, o problema pode ser enfrentado. Que eles se preocupem com a estrutura, não com consequências imediatas. Uma cultura patriarcal estimula um comportamento masculino incompatível com a realidade. Ela precisa ser modificada com educação que traga de perspectiva de igualdade para homens, mulheres, heterossexuais e homossexuais”, opinou.
Ainda segundo ela, delegacias e secretarias da mulher são outros fronts de batalha imprescindíveis. “Já temos leis claras, mas precisamos que sejam cumpridas”, afirmou a ex-secretária da Mulher do Estado.
Para o público, Joana Pires, do coletivo Deixa Ela em Paz, pretende contextualizar o machismo no debate. Ressalta a importância da compreensão das raízes dos acontecimentos recentes que chocaram a população. “Fisioterapeuta em Boa Viagem, uma personal trainer no Janga. A Eliane em Ipojuca. São consequências que enxergamos, mas que precisam ser compreendidas na essência.” Também participam do evento a secretária da Mulher de Pernambuco, Sílvia Cordeiro, e a socióloga Ana Portella.
Essa não é a primeira vez que a Fundaj se apresenta contra a cultura do machismo. Há pouco mais de dois anos, promoveu um seminário internacional como parte da campanha mundial 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, e lembrou o assassinato das três irmãs Mirabal, mortas nas década de 1960 na República Dominicana.
Mais voz
A Campanha “Contra o Machismo e Contra o Feminicídio” será lançada hoje pela Tempus Comunicação. De acordo com o diretor da empresa, Cleonildo Cruz, o trabalho de conscientização será realizado principalmente por meios das redes sociais, e deve durar o ano inteiro com o intuito de chegar ao interior. “Realizamos um vídeo para chamar à atenção para o assunto, porque não dá mais para aceitar mortes por causa de machismo.”
Fonte: Folha-PE
Blog do Deputado Federal Gonzaga Patriota (PSB/PE)
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