Pacientes com Aids em Pernambuco estão convivendo com a falta de várias das drogas de combate ao vírus desde o fim do ano passado. A situação está tão crítica que alguns soropositivos, dos 13,5 mil que fazem tratamento com antirretrovirais, quando não se deparam sem a medicação, as recebem muito próxima do prazo de validade ou já vencidas. Na lista vermelha de remédios estão o tenofovi, lamivudina, ritonavir, raltegravir, zidovudina e efavirenz, segundo levantamento da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+) em Pernambuco.
O drama expõe esses pacientes à interrupção da terapia e à falta de confiabilidade sobre o controle da doença. Os afetados se veem sem uma resposta sobre o real motivo do desabastecimento e sobre quando o problema será sanado. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) já solicitou ao Estado um levantamento sobre a situação.
“Do Ministério da Saúde (MS) tive informação de que as medicações foram enviadas. Mas quando conversei com a superintendência da assistência farmacêutica do Estado a informação é de que o MS esta fracionando os pedidos. Fica esse jogo de empurra e ninguém sabe quem está falando a verdade. O importante para gente é que o remédio esteja lá para tomar”, reclamou o coordenador da RNP+, José Cândido Silva.
Nesse cenário de incerteza, os pacientes começam a se desesperar. “Hoje acordei muito mal. Não sei se pela doença mesmo ou se é meu psicológico. Desde janeiro venho recebendo medicação fora da validade. Tomo porque o médico disse que não tem problema. Mas fica a dúvida”, contou a dona de casa Consuelo Guedes, 49 anos, que pega a droga no Imip.
Situação semelhante é vivida pelo ativista político Jeronimo Duarte, 50 anos, que pega o remédio no Hospital Correia Picanço. “Estamos naquela: ou toma vencido ou não toma. A gente não sabe o que é pior”, disse.
Ação
Para o infectologista Filipe Prohaska, a situação é difícil. Ele explicou que o sucesso do tratamento do HIV é baseado na adesão ininterrupta e irrestrita a medicações. E que o fato apenas de não tomar a medicação no horário devido já é o suficiente para o vírus adquirir resistência.
“Além de não dispormos de tantas medicações, ficamos em situações comprometedoras quando elas faltam, não sabendo se é mais nocivo deixar de tomar e correr o risco de resistência ao tratamento ou utilizar mesmo medicações vencidas com todo o risco envolvido colocando os médicos e os pacientes entre a cruz e a espada”, disse.
A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que não autoriza ou recomenda aos serviços farmacêuticos a dispensação de medicamentos vencidos. As unidades que fazem a distribuição direta aos pacientes devem monitorar seus estoques a fim de garantir a continuidade dos tratamentos, assim como atualizar o sistema de gerenciamento dos insumos.
A SES informou, ainda, que os antirretrovirais são de responsabilidade do Ministério da Saúde e que, nesse sentido, vem dialogando com o órgão para regularizar a situação. Uma remessa de tenofovir já chegou ao Estado e começará a ser distribuída aos serviços nesta semana.
A pasta negou que houvesse qualquer dispensação do medicamento no Hospital Correia Picanço fora do período de validade. O Imip destacou que a decisão de liberação da medicação com apenas um dia de vencida decorreu de uma excepcional deliberação da chefia do setor ante a falta do medicamento o que ocasionaria a interrupção do tratamento dos pacientes.
O Ministério da Saúde afirmou que vai se posicionar sobre o desabastecimento nesta terça-feira (7), após analise das remessas de todas as drogas para HIV feitas para Pernambuco nos últimos meses.
Fonte: Folha-PE
Blog do Deputado Federal Gonzaga Patriota (PSB/PE)
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