Leandro (nome fictício) foi jogado no lixo ainda bebê. Criado pela tia, viu a mãe, viciada em drogas e traficante, ser assassinada. Entrou no mundo do crime aos 15 anos e não parou mais. Apreendido por roubo, passou mais de ano na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase). Vítima de abuso sexual dentro da unidade do Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana, participou de rebelião e saiu de lá ainda mais agressivo. Em julho deste ano, já livre, viu a vida pela primeira vez lhe abrir a porta. Foi cadastrado para ser um dos jovens beneficiados por um novo programa, o Trampolim, cujo objetivo é dar uma segunda chance a egressos da Funase. Leandro estava decidido a mudar. Era tarde. Menos de uma semana depois, foi assassinado. É para impedir que casos como este se repitam que o Trampolim será lançado nesta quarta-feira (2), às 9h, na Torre Malakoff, no Bairro do Recife.

O rapaz de 20 anos entraria no programa junto com o primo de sangue e irmão de criação Francisco (nome fictício), de 23, também ex-interno da Funase e com passagens pelo Presídio Aníbal Bruno e Penitenciária Barreto Campelo. Francisco, agora, está sem o parceiro, mas firme no propósito de mudar de vida. Promete agarrar a oportunidade, por ele e por Leandro.

O Trampolim busca a recuperação de pessoas em situação de risco, um dos quatro eixos de atuação do Pacto pela Vida do Recife. O programa, orçado em R$ 400 mil, consiste em atender 160 jovens maiores de 18 anos e saídos da Funase.

Os beneficiados serão divididos em quatro turmas de 40 alunos. A primeira delas, da qual Francisco faz parte, iniciará suas atividades na própria quarta-feira. As aulas serão sempre às segundas, quartas e sextas-feiras, com 20 jovens das 9h ao meio-dia e outros 20 das 14h às 17h. O curso terá duração de três meses. Os contemplados ganharão uma bolsa trimestral de R$ 900, sendo R$ 200 no primeiro mês, R$ 250 no segundo e R$ 450 ao final da capacitação. A segunda turma começa em fevereiro do próximo ano.

De acordo com o secretário de Segurança Urbana do Recife, Murilo Cavalcanti, os jovens, dos sexos masculino e feminino, terão aulas de circo, arte-educação, teatro, expressão corporal, figurino, maquiagem, trânsito e direitos humanos, numa parceria com a organização não governamental Centro Cultural Picadeiro. “A gente sabe esses jovens egressos têm uma probabilidade maior de matar ou morrer. Isso reforça a necessidade de olhar por eles e lhes dar uma outra chance”, ponderou. Os alunos sairão do curso com certificados.

MERCADO – Além disso, os jovens da primeira turma já têm emprego assegurado quando se formar: eles atuarão como arte-educadores nas ciclofaixas e nas futuras unidades do Centro Comunitário de Paz (Compaz). A gerente de Projetos Especiais da Secretaria de Segurança Urbana, Paula Azevedo, disse na segunda-feira (30) que a garantia de emprego é um dos diferenciais do programa.

“Vamos ensinar arte-educação a jovens em situação de vulnerabilidade, e o mais importante é a inserção deles no mercado de trabalho. Não adianta você oferecer um curso e essas pessoas não serem absorvidas pelo mercado depois. Sabemos que existe o preconceito contra ex-internos e ex-presos. Por isso, queremos ser um trampolim para eles, como diz o nome do programa. Não dá para ficar enxugando gelo”, afirmou.

Segundo ela, a Prefeitura do Recife está buscando fechar parcerias para garantir vagas no mercado de trabalho para os formandos das outras três turmas do Trampolim. “A gente não quer saber o que eles fizeram antes de começar o curso. Isso é passado. O que queremos é dar uma oportunidade para o futuro. Pela primeira vez, o poder público está chegando junto dessas pessoas sem ser com uma intimação”, declarou o secretário-executivo de Segurança Urbana, Eduardo Machado.

Fonte: JC Online[

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)