Partido com mais investigados na Lava Jato tem alta no número de prefeitos

Com 32 políticos denunciados ao STF (Supremo Tribunal Federal) por crimes investigados pela Operação Lava Jato, o PP conseguiu se esquivar da “punição das urnas” nas Eleições 2016. O PP (Partido Progressista) conquistou 494 prefeituras e se tornou a quarta força política do País em número de administrações — atrás somente de PMDB, PSDB e PSD.

O resultado de 2016 é, inclusive, superior ao da eleição anterior — antes do início das investigações de corrupção na Petrobras —, quando o PP saiu do pleito com 474 prefeituras. O partido ainda vai disputar o segundo turno em Florianópolis (SC) e Maringá (PR).

Juntamente com PT e PMDB, o PP faz parte do principal núcleo político investigado na Lava Jato, de acordo com as denúncias apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) ao Supremo.

Membros dos três partidos foram denunciados no maior inquérito da Lava Jato até agora, o 3989, instaurado em março de 2015 no STF e que ficou conhecido à época como “lista do Janot”, em referência ao procurador-geral Rodrigo Janot (veja ao final a lista com todos os políticos de alto escalão denunciados na Lava Jato).

Na semana passada, o PGR pediu o desmembramento dessa investigação em quatro inquéritos distintos: um para investigar os membros do PP, e os demais para apurar os fatos relacionados a membros do PT, do PMDB no Senado Federal e do PMDB na Câmara dos Deputados.

Segundo partido com mais denunciados no STF (são dez nomes, entre eles o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva), o PT teve um caminho distinto e perdeu mais da metade das prefeituras que administrava: passou de 630, há quatro anos, para 254.

Em 2012, o Partido dos Trabalhadores estava na terceira colocação em número de prefeituras, atrás apenas de PMDB e PSDB. Neste ano, caiu para o décimo lugar.

O PMDB, com oito políticos denunciados (como o ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o atual presidente do Senado Renan Calheiros), também conseguiu alcançar um número maior de prefeituras em 2016. São 1.027 administrações, contra 1.015 em 2012. O resultado foi comemorado pelo partido, mas analistas apontam derrota para o maior partido brasileiro, já que perdeu o controle do município do Rio após oito anos.

Com dois políticos investigados pela Lava Jato (os senadores Aécio Neves e Antonio Anastasia), o PSDB foi ogrande vencedor do domingo (2), com 790 prefeituras conquistadas, entre elas a de São Paulo, contra 695 em 2012. Os inquéritos contra os tucanos foram abertos pelo MPF (Ministério Público Federal) e, posteriormente, arquivados sem que os políticos fossem denunciados. De acordo com a assessoria do senador Anastasia, o arquivamento se deu por falta de “elementos mínimos” para prosseguir com a investigação.

O PSB, que foi a estrela das eleições 2012 ao conquistar 440 prefeituras (130 a mais do que 2008), agora recuou para 412. O partido tem o senador Fernando Bezerra Coelho (PE) denunciado no âmbito da Lava Jato.

Já o PTC, do senador denunciado Fernando Collor de Mello (AL), também registrou queda no número de prefeituras, de 19 para 15.

Explicações

As denúncias de corrupção e a vontade por renovação política são algumas razões apontadas por especialistas para explicar a queda vertiginosa do PT. Mas como explicar a alta do PP?

“O processo de apuração da corrupção foi muito partidarizado”, avalia a cientista política Maria do Socorro Braga, professora da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos).

— Nas semanas anteriores à eleição só foram presos membros do PT. A base do antigo governo praticamente não foi atingida, com exceção do PT. Em parte, não houve essa punição [nas urnas a partir] da Lava Jato.

Braga aponta ainda “seletividade” por parte do Judiciário nas investigações de corrupção, com foco nas lideranças do Partido dos Trabalhadores.

— A PF e o Ministério Público, quando avaliam as denúncias que surgem com as delações premiadas, recortam só os envolvidos com o PT. O PP, que é um dos partidos com mais envolvidos, ficou de fora até agora [das punições]. No PMDB ninguém foi punido, alguns saíram do governo, mas não todos. Então há algum tempo está havendo uma seleção para punir mais um único partido. Isso acabou reforçado nas urnas o antipetismo. Partes dessa expressão premiou o PSDB, tanto que foi o partido que mais ganhou.

Para o sociólogo Paulo Silvino Ribeiro, professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), “quando as luzes estão todas focadas no PT, os outros partidos acabam ficando na penumbra”.

— Os outros partidos, envolvidos em casos de corrupção tanto quanto o PT, acabam numa certa penumbra. Pelo fato de que as pessoas votam em pessoas, e não em partidos, elas não atentam para isso.

Braga e Silvino responsabilizam ainda a cobertura da imprensa das investigações da Lava Jato, que teriam acompanhado o judiciário e focalizado o Partido dos Trabalhadores.

“É muito curioso que o PMDB continue sendo eleito e o PT não”, diz Silvino.

— Alguma outra coisa está pesando, e não é somente a corrupção. Há outros elementos, não é só o fato de que a [gestão econômica da ex-presidente] Dilma Rousseff foi mal, ou do envolvimento em casos de corrupção. Há a construção de uma linha de frente contra qualquer governo ou medida petista. (…) As pessoas acabam identificando nomes como o do Lula e o do próprio Fernando Haddad, e ligando o PT a esse cenário político [de denúncias de corrupção]. Essa associação direta, superficial e equivocada faz com que os outros partidos não estejam sob o foco das atenções, apesar de o PP ser um dos partidos mais envolvidos na Lava Jato.

Políticos denunciados ao STF

PP (32)
– Senador Ciro Nogueira (PI)
– Senador Benedito de Lira (AL)
– Senador Gladson Cameli (AC)
– Deputado Aguinaldo Ribeiro (PB)
– Deputado Simão Sessim (RJ)
– Deputado Nelson Meurer (PR)
– Deputado Eduardo da Fonte (PE)
– Deputado Luiz Fernando Faria (MG)
– Deputado Arthur Lira (AL)
– Deputado Dilceu Sperafico (PR)
– Deputado Jeronimo Goergen (RS)
– Deputado Sandes Júnior (GO)
– Deputado Afonso Hamm (RS)
– Deputado Missionário José Olímpio (SP)
– Deputado Lázaro Botelho (TO)
– Deputado Luis Carlos Heinze (RS)
– Deputado Renato Molling (RS)
– Deputado Renato Balestra (GO)
– Deputado Roberto Britto (BA)
– Deputado Waldir Maranhão (MA)
– Deputado José Otávio Germano (RS)
– Ex-deputado e ex-ministro Mario Negromonte (BA)
– Ex-deputado João Pizzolatti (SC)
– Ex-deputado Pedro Corrêa (PE)
– Ex-deputado Roberto Teixeira (PE)
– Ex-deputada Aline Corrêa (SP)
– Ex-deputado Carlos Magno (RO)
– Ex-deputado e ex-vice governador João Leão (BA)
– Ex-deputado Luiz Argôlo (BA) (filiado ao Solidariedade desde 2013)
– Ex-deputado José Linhares (CE)
– Ex-deputado Pedro Henry (MT)
– Ex-deputado Vilson Covatti (RS)

PT (10)
– Senadora Gleisi Hoffmann (PR)
– Senador Humberto Costa (PE)
– Senador Lindbergh Farias (RJ)
– Deputado José Mentor (SP)
– Deputado Vander Loubet (MS)
– Ex-deputado Cândido Vaccarezza (SP)
– Ex-ministro Antônio Palocci (SP) (caso enviado para 1ª instância)
– Ex-ministro Paulo Bernardo
– Governador Tião Vianna (AC)
– Luiz Inácio Lula da Silva (caso enviado para 1ª instância)

PMDB (8)
– Senador Renan Calheiros (AL), presidente do Senado
– Senador Romero Jucá (RR)
– Senador Edison Lobão (MA)
– Senador Valdir Raupp (RO)
– Deputado Eduardo Cunha (RJ), ex-presidente da Câmara
– Deputado Aníbal Gomes (CE)
– Ex-governadora Roseana Sarney (MA)
– Governador afastado Luiz Fernando Pezão (RJ)

PSDB (1)
– Senador Aécio Neves (MG)

PTC (1)
– Senador Fernando Collor (AL)

PSB (1)
– Senador Fernando Bezerra Coelho

Sem partido
– Delcídio do Amaral
– André Vargas

Fonte: R7

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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