Reino Unido perde posição para o Brasil e deixa ingleses surpresos
A notícia havia sido anunciada semanas atrás em relatórios e colunas especializadas, mas sua publicação recente no diário londrino “The Guardian” deu-lhe um destaque muito mais amplo: a economia brasileira superou a do Reino Unido e se tornou a sexta do mundo. Como observaram vários analistas brasileiros e estrangeiros, a classificação não esconde o fato de que a renda per capita e a qualidade de vida dos britânicos são muito melhores que a dos brasileiros.
Não obstante, a notícia tem um significado especial para os britânicos. Como é sabido, os graves problemas econômicos e sociais que afetam o Reino Unido e quase toda a União Europeia geram uma crise de identidade nacional na maioria desses países. É verdade que a Europa mudou sua configuração política várias vezes e conheceu muito mais transformações que as Américas no último século.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os dois grandes líderes da democracia europeia, Churchill e De Gaulle, ligavam estreitamente o destino de seus respectivos países à continuidade de seus domínios ultramarinos. Para eles, as democracias britânica e francesa não eram incompatíveis com a opressão colonial exercida sobre os povos africanos e asiáticos. Tornada inevitável pelas revoltas independentistas e pela pressão internacional, a descolonização levou os dois países a se reorganizarem de maneira distinta. Enquanto a França, junto com a Alemanha, centrava seus esforços na construção da União Europeia (UE), o Reino Unido mantinha-se ao largo, aderindo parcial e tardiamente às novas instituições continentais em 1973, mas recusando-se a compartilhar o euro em 2002.
A crise que afeta a moeda única resolveu boa parte do mal-entendido. Afastando-se do acordo para restaurar a unidade europeia e o euro – que os outros 26 países da UE selaram no dia 9 de dezembro em Bruxelas -, o Reino Unido demonstrou cabalmente que tem pouco a ver com seus vizinhos. No seu editorial do dia 10 de dezembro, intitulado “A Grã-Bretanha está mais insular do que nunca”, o jornal parisiense “Le Monde”, alegando que os britânicos só se interessavam por uma união alfandegária com países europeus e que eles eram hostis ao aprofundamento da União Europeia, aceitou a ruptura com Londres e sentenciou “Não há o que lamentar pelo que se passou em Bruxelas. Esclareceu-se uma ambiguidade”.
Sucede que o afastamento do resto da Europa também gerou dúvidas no Reino Unido e, em particular, entre alguns membros do governo de David Cameron. Outras dúvidas, desta vez ligadas ao perfil multicultural da sociedade britânica, haviam surgindo no mês de agosto, quando tumultos e saques nos subúrbios multiétnicos impressionaram a opinião pública inglesa e europeia. Na ocasião, o “Guardian” denunciou “o fracasso da política e da solidariedade social” dos sucessivos governos britânicos.
Neste contexto de questionamentos internos e europeus, a notícia da superação da economia britânica pela economia brasileira causou certa perplexidade no Reino Unido. Afinal, os países que têm as cinco primeiras economias do mundo – Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França – quase sempre estiveram no topo e três dentre eles têm cadeira cativa no Conselho de Segurança da ONU ao lado do Reino Unido e da Rússia.
Numa declaração ao jornal “The Financial Express”, Peter Slowe, ex-conselheiro econômico do governo trabalhista de Tony Blair, achou uma explicação para justificar a ascensão brasileira: “O Brasil tem uma variedade de recursos naturais, incluindo ouro e prata e também petróleo na plataforma submarina e minerais na Amazônia. Ao passo que a economia britânica está afetada pelos problemas da zona euro”.
Nas vantagens do Brasil, há metais preciosos de mais (a produção brasileira de prata ocupa apenas o 35° lugar no mundo) e agronegócios de menos. Mais interessante é a opinião de Slowe sobre os problemas ingleses. Para ele, o país atravessa dificuldades por causa da recessão na zona euro. Ou seja, o Reino Unido não quer nada com a União Europeia e o euro, mas tem que torcer para eles darem certo.
Fonte: Uol Notícias
Blog do Deputado Federal Gonzaga Patriota (PSB/PE)
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