CGU aponta Ministério da Saúde como campeão de desvio de dinheiro nos últimos dez anos
O Ministério da Saúde foi uma das principais rotas de desvio de dinheiro público nos últimos dez anos, de acordo com levantamento da CGU (Controladoria Geral da União), que aponta o crescimento da economia e a descentralização dos programas do governo como as principais razões para a corrupção no Brasil.
Em 2002, o órgão – que fiscaliza se o dinheiro do governo está sendo bem aplicado – identificou e pediu de volta R$ 280 milhões. A quantia foi desviada em irregularidades ocorridas em vários ministérios. No ano passado, esse valor aumentou mais de seis vezes e chegou a R$ 1,8 bilhão.
Desse montante, 54%, ou R$ 976 milhões, desapareceram de convênios com a Saúde. De 2002 pra cá, foram R$ 2,6 bilhões desviados de programas tocados pela pasta, 34% dos R$ 7,7 bilhões que sumiram nesses dez anos.
O secretário federal de controle interno da CGU, Valdir Agapito Teixeira, afirmou ao R7 que o Ministério da Saúde é a pasta campeã de desvios por ser a dona de R$ 78,9 bilhões, um dos orçamentos mais gordos e importantes da Esplanada dos Ministérios.
– Por sua importância social, o dinheiro da Saúde é executado quase que 100%. O volume é muito grande e atende a todos os Estados e municípios, fora entidades, o SUS [Sistema Único de Saúde]…
Para ele, o gigantismo do Brasil aliado ao recente crescimento da economia – que engordou o orçamento dos ministérios – são os responsáveis pelo aumento de dinheiro desviado no país.
– O volume encontrado pela CGU se deve ao crescimento da economia, ao consequente aumento do Orçamento da União e à determinação expressa na Constituição de 1988, que manda executá-lo por meio dos entes federados.
Ao R7, o Ministério da Saúde afirmou que “vem ampliando os mecanismos para evitar e punir fraudes” e que “a cooperação entre os órgãos de controle tem sido um importante instrumento para a recuperação de recursos utilizados indevidamente”.
Nesse ranking, aparece distante, em segundo lugar, o Ministério da Integração Nacional – que entre 2002 e 2011 viu R$ 1,1 bilhão evaporar (14%). Depois, vem o Ministério da Educação, com R$ 968 milhões desaparecidos (12%).
Procurado pela reportagem, o Ministério da Educação recusou as informações, mas se negou a justificá-las. Já a Integração Nacional não respondeu as solicitações.
Teixeira, secretário da CGU, diz que a própria controladoria precisa se estruturar para atender tanta demanda. Hoje, 2.409 servidores se espalham por todos os Estados para acompanhar de perto a execução de projetos do governo.
– O ideal é que o órgão tenha os 5.000 funcionários previstos.
Enquanto a ajuda extra não chega, o órgão aposta na transparência que a internet é capaz de proporcionar. Teixeira cita o Decreto 7.641, assinado pela presidente Dilma Rousseff no dia 13 de janeiro.
De acordo com o texto, os dados sobre a liberação de recursos, acompanhamento, fiscalização, execução e prestação de contas de todos os convênios deverão ser registrados no Siconv (Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse) e depois disponibilizados ao público no Portal de Convênios.
– A transparência é o melhor controle, que também vem da imprensa e dos cidadãos.
Além de cooperar com as auditorias, o Mistério da Saúde aposta em uma espécie de disque-denúncia. “Nas próximas semanas, deve entrar em funcionamento o número de acesso telefônico 136, em todo o território nacional. Por meio dele, além de serviços, poderão ser registradas críticas e denúncias sobre o SUS”, afirma a pasta.
Para o secretário da CGU, a lentidão da Justiça brasileira também atrapalha ao retardar a recuperação do dinheiro encontrado pela Controladoria.
– No Brasil há muitos recursos. O Judiciário precisa diminuí-los para dar agilidade aos processos.
O advogado especializado em Direito Público, Celso Antonio Bandeira de Mello, concorda.
– O Judiciário está sobrecarregado. Faltam juízes, sobram processos e recursos no Brasil.
Como solução, ele defende uma ampla reforma no sistema.
– Porque não adianta fazer uma reforma específica para recuperar dinheiro público e abandonar outras questões tão importantes quanto essa.
Estudo da AGU (Advocacia-Geral da União) informa que apenas R$ 1,5 bilhão foi recuperado nos dez anos em que os R$ 7,7 bilhões desapareceram – dinheiro que seria suficiente para construir 92 mil casas populares por meio do programa federal Minha Casa Minha Vida.
Fonte: R7
Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)
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