De olho na Copa, importadores britânicos miram no vinho brasileiro

vinhedo na Serra Gaúcha | Divulgação - Wines of BrazilCompradores de vinho da Grã-Bretanha estão mirando nos produtores brasileiros de olho nas oportunidades de negócio que a Copa do Mundo e as Olimpíadas podem trazer.

Há pelo menos dez anos vem crescendo o interesse pelos vinhos do Brasil, mas com a atenção que o país atrai por causa do Mundial e dos jogos de 2016, importadoras britânicas consideram que agora ficou mais fácil introduzir a bebida no mercado e apostam que o vinho vá cair no gosto dos locais.

“O Brasil foi uma escolha óbvia para nós”, diz à BBC Brasil Rachel Archer, gerente da seção “I heart” (Eu amo, em tradução livre), da Copestick Murray, uma das importadoras britânicas.

A empresa vai produzir, em parceria com a brasileira Vinícola Aurora, dois vinhos com um blend (mistura de uvas) pensado especialmente para o mercado britânico, com lançamento previsto para antes do Natal ou início do ano que vem.

A Copestick Murray espera produzir ao menos 300 mil garrafas de espumante moscato branco e rosé, que serão vendidas nas principais redes de supermercados do país, como Waitrose, Sainsbury’s e Tesco.

“A melhora na qualidade do vinho nos últimos anos, combinada à oportunidade de negócios com a Copa e as Olimpíadas, colocou o vinho brasileiro na nossa lista de prioridades”, acrescentou Archer.

A gigante britânica do setor de departamentos Marks & Spencer também anunciou que vai adicionar a partir de fevereiro três rótulos aos dois atuais da vinícola gaúcha Seival Estate. Em maio, a importadora Bibendum fechou com a vinícola Miolo, também do Rio Grande do Sul, uma parceria para ser sua distribuidora exclusiva na Grã-Bretanha.

E a rede de supermercados Waitrose, a primeira a estocar vinho brasileiro no país, lançará no início do ano que vem quatro vinhos de três vinícolas brasileiras que ficarão à venda por pelo menos um ano.

Maior importador mundial

Com compras anuais de mais de 1 bilhão de garrafas, a Grã-Bretanha é o maior importador de vinho no mundo, segundo dados da Vinexpo, a maior feira do setor, realizada em Paris a cada dois anos.

O país é o terceiro maior importador de vinhos brasileiros, atrás da China e da Holanda.

Para brasileiro detentor de título de Master of Wine, bebida do Brasil precisa de ‘mais consistência’

Apesar de responder atualmente por valores relativamente baixos, as exportações para a Grã-Bretanha tendem a crescer, entusiasmando os produtores nacionais.

O projeto Wines of Brazil – uma parceria entre o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações (Apex) – espera em 2013 que as exportações para a Grã-Bretanha superem em 50% as do ano passado, quando foram vendidos 94,6 mil litros, o equivalente a US$ 400 mil.

Segundo Andreia Gentilini, diretora da Wines of Brazil, Grã-Bretanha e Estados Unidos são os principais alvos da agência, que foi criada há dez anos para promover o vinho brasileiro no exterior.

“Desde janeiro estamos negociando vendas com seis compradores britânicos, que estão de olho nos eventos esportivos do Brasil para expandir suas oportunidade de negócios”, diz ela à BBC Brasil.

Falta consistência

Mas na avaliação de Dirceu Vianna Junior, único brasileiro a carregar o título de Master of Wine – qualificação máxima da indústria de vinhos -, o setor vinícola do país “caminha no caminho certo, mas ainda carece de consistência”.

“A gama de todos os produtores varia muito entre vinhos bons e ruins. Precisamos ter ao menos dez produtores em que todos os vinhos sejam de qualidade e hoje só temos uns cinco”, avalia Dirceu.

O brasileiro, que é diretor de vinhos da importadora e distribuidora Coe Vintners, em Londres, diz ainda que o preço é outro desafio para o vinho brasileiro competir no exterior.

“Aqui (Londres) paga-se entre £ 8 e £10 (R$ 28 e R$ 36) por um vinho brasileiro, ao passo que encontramos garrafas da Espanha e da França que são melhores e mais baratas”, diz ele, acrescentando que o valor do vinho brasileiro no exterior reflete custos com impostos, mão de obra e técnicas de produção.

“Os vinhedos ficam localizados principalmente em encostas, o que torna o cultivo mais caro do que em planície, onde podemos usar máquinas”, explica.

Salto de qualidade

O jornalista britânico especializado em vinhos Steven Spurrier concorda que há obstáculos às ambições do Brasil para popularizar seu vinho no exterior, mas afirma que desde que começou a visitar as vinícolas brasileiras, há 12 anos, percebeu um “salto tremendo” na qualidade da bebida.

“Os produtores estão entendendo melhor seuterroir (solo propício à plantação de uvas) e cuidando mais das vinícolas”, diz Spurrier à BBC Brasil, que avalia que o vinho brasileiro se assemelha mais ao europeu em estilo do que o chileno ou o argentino.

“Nas vinícolas do sul do Brasil, o clima é mais parecido com o da Europa do que no Chile. A diferença de temperatura entre dia e noite refresca os vinhos, resultando em uma bebida mais equilibrada, com teor alcoólico levemente menor”, diz o especialista.

Isso, segundo ele, aumenta as chances de aceitação da bebida brasileira no mercado britânico, que é mais receptivo aos vinhos de mercados emergentes do que França, Itália e Espanha, os três maiores produtores mundiais.

Spurrier prepara uma reportagem sobre a produção de vinhos no Brasil para a edição de outubro da revista Decanter, uma das maiores do setor, publicada mensalmente em 90 países.

“Os brasileiros são os new kids on the block (a novidade do momento, em tradução livre)”, brinca Spurrier, que em 1976 organizou o Julgamento de Paris, uma competição de vinhos que ficou famosa ao revelar a superioridade de alguns vinhos californianos perante os franceses, algo impensável na época, que ajudou a popularizar o vinho do Estado americano.

Fonte: BBC Brasil

Blog do Deputado Federal GONZAGA PATRIOTA (PSB/PE)

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