“Um grande número de pacientes com câncer de pulmão agora tem uma nova opção de tratamento, com mais eficácia e menos efeitos colaterais que a quimioterapia padrão”, disse o autor líder do estudo, o brasileiro Gilberto Lopes, oncologista do Sylvester Comprehensive Cancer Center, da Universidade de Miami, nos Estados Unidos. “Nosso estudo mostra que o pembrolizumabe oferece mais benefícios que a quimioterapia a dois terços de todos as pessoas com o tipo mais comum de câncer pulmonar”, completou.
Os resultados, considerados animadores pela comunidade científica, foram apresentados durante a sessão plenária do encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), realizado na semana passada, em Chicago. A imunoterapia ou a quimioterapia foi a primeira linha de tratamento para os 1.274 pacientes que participaram do estudo — o maior teste clínico já realizado com pembrolizumabe como terapia isolada, segundo os autores.
De acordo com Gilberto Lopes, todos os pacientes estudados tinham PD-L1 — um biomarcador usado comumente para prever a resposta a inibidores de barreiras imunológicas, incluindo o pembrolizumabe. Os tumores com mais PD-L1 (alta expressão) responderam melhor ao tratamento imunológico. Os que apresentavam 20% ou mais de PD-L1, por exemplo, tiveram 17,7 meses de vida com pembrolizumabe, contra 13 meses dos que receberam quimioterapia. Já a proporção para os que apresentavam 50% ou mais de PD-L1 chegou a 20 meses, contra 12,2 meses de sobrevida.
Outro ponto analisado foram as reações secundárias. “Os efeitos colaterais graves se apresentaram em menos de 20% dos pacientes com imunoterapia e em 40% dos pacientes com quimioterapia”, comemorou Lopes. O médico explicou ainda que algumas pessoas submetidas ao pembrolizumabe não responderam ao tratamento: aproximadamente metade dos pacientes com PD-L1 de 50% ou mais e cerca de 70% dos que tinham PD-L1 de 1%.
Isso, porém, não desanima o cientista, já que estudos mostram que, de forma geral, pensando em todos os tipos de tumores, cerca de 20% a 30% dos pacientes com câncer avançado e que têm indicação de imunoterapia respondem bem ao tratamento. Para o futuro, Lopes vê na combinação de terapia (imuno mais químio) um tratamento padrão para câncer de pulmão.
Carro-chefe
Marcelo Cruz, oncologista clínico e pesquisador da Northwestern University, de Chicago, ressalta que a imunoterapia (veja infográfico) tem sido o grande destaque nas últimas cinco edições da Asco, maior congresso de oncologia do mundo. “Ela é recente e não veio para substituir a quimioterapia ou a terapia-alvo. Pode ter um grande papel como monoterapia em diversos tumores, mas a gente está aprendendo que a combinação ainda vai ser o carro-chefe de muitos tratamentos, por exemplo, de câncer de pulmão. A imunoterapia sozinha ajuda, mas estamos percebendo que, com químio, é melhor ainda. A gente está aprendendo como ela deve ser encaixada no tratamento do paciente.”
O médico brasileiro, com residência em Chicago, ressalta que o grande desafio, agora, é entender como a imunoterapia pode ser encaixada no tratamento. “Será que hoje é para câncer metastático? Mas já tem estudos para doenças em fase inicial. Será que você estimular o sistema imunológico a combater o câncer lá no começo não é melhor do que quando já tem a doença espalhada pelo corpo? Talvez, sim. E é o que a gente está aprendendo aqui.”
Apesar de tudo ser muito recente, Marcelo Cruz ressalta que, no estágio de conhecimento atual, a imunoterapia tem se mostrado bastante eficiente no tratamento de alguns tipos de tumores, como melanoma, de pulmão, do trato urinário e de intestino, inclusive, como primeira linha de terapia. “Alguns cânceres reagem melhor do que outros. Mas a imuno está no começo ainda. Certamente, vão ter novas moléculas, novos agentes imunoterápicos melhores do que o que a gente tem hoje.”
Um outro grande desafio, segundo o oncologista, está em descobrir por que um grande número de pacientes não se beneficia da imunoterapia. “Estamos tentando entender quais são os biomarcadores que fazem com que um grupo responda bem e outro, não.” Marcelo explica ainda que, em relação aos Estados Unidos e aos países europeus, o Brasil sofre com a demora de aprovação de alguns imunoterápicos. “Existe aí um gap de uns três anos. E isso, para tratamento de câncer, que exige pressa, é ruim.”