GILBERTO NATALINI, TORTURADO POR USTRA: ‘BOLSONARO ABRAÇOU A BESTIALIDADE’
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
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O vereador paulistano rebateu os elogios que o presidente vem tecendo ao comandante do DOI-CODI no auge da ditadura
Preso e torturado durante o regime militar no Brasil, o vereador paulistano Gilberto Natalini (PV-SP) rebateu os elogios que o presidente Jair Bolsonaro vem tecendo ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra , comandante do DOI-Codi no auge da ditadura.
Nesta semana, Bolsonaro disse que Ustra, morto e 2015 aos 83 anos, é um “ herói nacional ”. Indignado, Natalini retrucou Bolsonaro e disse que o presidente precisa “tratar sua sanidade mental”. O coronel foi o primeiro militar brasileiro a responder por um processo de tortura durante o regime militar.
Natalini foi preso por oficiais das Forças Armadas em 1972 quando participava de movimentos estudantis em São Paulo. Ficou sob poder dos oficiais por 60 dias e perdeu parte da audição dos dois ouvidos devido aos choques que levou. “A mim ele [Ustra] torturou pessoalmente. Era um monstro”, lembrou Natalini. Os choques, recordou o vereador, ocorriam porque os oficiais queriam que ele revelasse o nome da irmã de um colega, que era militante de um grupo de luta armada.
Como o senhor avalia o fato de o presidente Bolsonaro defender e idolatrar o coronel Brilhante Ustra?
Meu sentimento, hoje, é de tristeza e de profunda indignação. Eu sei quem foi Ustra, fui vítima dele e tenho sequelas auditivas de choques que ele me deu. Aquilo não é um ser humano, o que ele fazia tangia a monstruosidade. O presidente de um país defender a memória de um torturador reconhecido como chefe da tortura, das duas uma: ou ele precisa tratar a sanidade mental, ou ele abraçou a bestialidade. Quem defende um ser bestial, é doente, ou não sabe o que está falando, ou é incapaz, ou é um bestial também. Não tem outro jeito de classificar o presidente.
Por qual motivo o senhor acha que Bolsonaro faz a defesa de Ustra?
Ele não faz isso de forma inadvertida. Ele sabe o que está fazendo. É uma estratégia política macabra, em meu ponto de vista, que faz mal para o país. Revirar assuntos que são muito delicados, sofridos, tanto para quem torturou, quanto para quem foi torturado. É um fio desencapado que o Bolsonaro está toda hora revivendo. É um desserviço ao país e à nação.
Por que uma estratégia política?
Ele quer mostrar para o público dele o anticomunismo para poder se sustentar politicamente. Ele defende práticas abjetas, práticas de tortura. É uma estratégia macabra e bestial. Eu não consigo aceitar de maneira nenhuma isso.
O senhor disse que tem sequelas por causa de tortura sofrida na época da ditadura. O coronel Brilhante Ustra estava presente quando o senhor foi torturado?
A mim ele torturou pessoalmente. Ele me deu muito choque. Era um monstro. Um homem que parecia educado, das Forças Armadas, e que se sujeitava a fazer essa monstruosidade com as pessoas. Numa guerra, você pode matar ou morrer. Agora, o problema é você prender a pessoa, levá-la para as dependências oficiais e torturá-la até matar, ou deixar a pessoa deficiente, como foi o meu caso. É uma prática ignóbil. A tortura é a forma mais abjeta de um ser humano tratar o outro. Não é nem animalesco, porque os animais não matam torturando.
Por que o senhor foi preso?
Eu participava do movimento estudantil. A minha atividade era fundamentalmente política, mas existiam grupos de lutas armadas. Sou contra a violência, sempre fui, desde jovem, mas tinha solidariedade. Então, tratava as pessoas, ajudava com internação. Aí fui preso por ter essa relação com grupos políticos, apesar de não pertencer a nenhum. Fomos presos para entregar o nome da irmã de um colega nosso. Ela era militante de um grupo de luta armada.
Então a tortura foi para delatar a colega…
Não falei o nome. O nome só foi falado pelo irmão dela [preso com Natalini] quando ele teve certeza, por meio do pai, que ela tinha saído do Brasil, e tinha ido morar no Chile. Ficamos lá apanhando muito nas mãos do Ustra para entregar o nome dela. Tenho deficiência nos dois ouvidos por causa dos choques que eles me deram. Perdi uns 40% de audição de cada ouvido.
Onde o senhor foi preso?
Em São Paulo, na porta da casa do meu avô. No dia, eles prenderam 11 pessoas. Depois de uma semana, eles soltaram oito e ficamos três. Fiquei 60 dias preso com eles, mas a tortura durou pouco mais de um mês. Os métodos são os já conhecidos, cadeira com choque elétrico, pauladas, tapas…