Seringa, canudos e muito plástico: lixo oceânico ameaça piscina natural em Fernando de Noronha
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
- Category : Clipping
Fernando de Noronha é um dos lugares de maior preservação da vida marinha no Brasil. Ao mesmo tempo um parque nacional marinho e uma área de proteção ambiental, o arquipélago pode se vangloriar de ter vida intensa em suas águas .
Mas, além de enfrentar o problema do tratamento do próprio lixo, a ilha já sofre as consequências da crescente poluição dos oceanos, especialmente por plásticos.
O G1 viajou até lá para a estreia da série “Desafio Natureza”, que vai mostrar as questões ambientais que desafiam esses destinos e como cada um de nós pode fazer a sua parte para enfrentar o problema.
Veja os temas desta 1ª etapa do “Desafio”:
- Fernando de Noronha, lado B: série do G1 mostra desafios do lixo no ‘paraíso’
- O lugar onde ninguém faz selfie: para onde vai o lixo de Fernando de Noronha
- Veto ao plástico descartável (sexta, 25/1)
- Como planejar sua viagem (sábado, 26/1)
- O futuro de Noronha (domingo, 27/1)
- Um passeio pela ilha (domingo, 27/1)
- Como você pode participar do desafio do lixo (a partir de 28/1)
A ameaça é visível no Pontal do Atalaia, uma das piscinas naturais de Noronha. O acesso limitado de 96 pessoas por dia não impede que o plástico se acumule na faixa de areia da praia.
A trilha que leva ao local dura cerca de 30 minutos de caminhada – se o trajeto não estiver com lama – e cada grupo de visitantes pode ficar apenas meia hora na piscina. O uso de protetor solar é proibido e é preciso usar colete salva-vidas para boiar e não encostar no fundo.
Lixo que vem do oceano
O G1 fez a trilha acompanhado de um biólogo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que mostrou onde se acumula o lixo que chega com a corrente marinha.
Quando a maré sobe, as pedras do Atalaia acabam funcionando como um filtro e retêm os inúmeros pedaços de plásticos.
Abaixo das pedras o que se vê é assustador: inúmeras tampinhas plásticas, seringa, escova de dentes, plástico de várias formas. O plástico pode demorar até 100 anos para se decompor, mas com o sol e a água salgada ele vai mudando de tamanho.
Estes “restos” de plástico são chamados de microplástico, mesmo que nem sempre eles sejam micro.
“O plástico que chega no Atalaia vem através das correntes marítimas da região. Normalmente, vêm de embarcações que cruzam aqui próximo a ilha, são de carga ou cruzeiros. E também lixo solto pelo mar, tá la boiando e chega até Fernando de Noronha. , diz Vitor Quesada, biólogo do ICMBio.
Vida marinha em risco
Ainda que a correnteza leve a maior parte do lixo para o outro lado da praia, algumas coisas chegam até a piscina.
“O risco de chegar na piscina natural é iminente. Ele chega, só não chega em grandes quantidades como ali nas pedras, mas tem lixo na piscina natural, principalmente na praia”, explica Quesada.
E quando esse lixo chega ali, ele impacta a vida animal: “Os animais começam a se alimentar desses plásticos. O plástico começa a se infiltrar também nos corais, nas pedras que tem dentro da piscina e soltar produtos químicos que são usados na fabricação deles”.
As piscinas naturais têm um papel importante para o desenvolvimento da vida marinha na ilha. “A piscina do Atalaia, como inúmeras outras piscinas aqui de Fernando de Noronha, funciona como um berçário, um lugar para os animais se desenvolverem porque é um ambiente mais calmo, sem muito predador, em que eles podem se desenvolver, acasalar, se refugiar…”, diz Quesada.
Noronha se prepara para a proibição da comercialização de descartáveis, que entra em vigor em abril, mas não consegue conter o lixo que chega com o mar.
Os voluntários do ICMBio costumam organizar mutirões de limpeza na área para tentar diminuir o impacto.
Toneladas de plástico no mar
Um relatório de 2018 da associação das empresas de limpeza pública (Abrelpe) mostra que por ano, em média, 5,5 milhões de toneladas de plástico “vazam” para o meio ambiente. Isso significa que resíduos não recolhidos ou descartados em locais impróprios não têm o destino correto e muitos acabam nos oceanos.
O plástico representa uma grande parte disso. De acordo com o documento, os resíduos de plástico são claramente difundidos no meio marinho: “Representam 50 a 80% dos resíduos da costa e são comumente registrados como alguns dos itens mais comuns coletados durante levantamentos de praia e esforços de limpeza”.
A ONG Ocean Conservancy, que organiza mutirões de limpeza das praias e do mar em diversos países, inclusive no Brasil, recolheu 9 mil toneladas de lixo em 2018. Dentre os itens mais encontrados estão:
- Bitucas de cigarro
- Embalagens de comida
- Garrafas plásticas
- Tampinhas de garrafa
- Sacolas plásticas
Quesada cita ainda uma alternativa já testada em outros países: “São embarcações de coleta de lixo oceânico que coletam todo aquele lixo que está no mar, que já se transforma até em ilhas (de lixo)”.
Noronha está fazendo sua parte em relação ao plástico, mas o Atalaia é um retrato de que o problema do lixo e do plástico nos oceanos é global.