Governo orienta frigoríficos a fazer ‘busca ativa’ por casos de Covid-19 e a afastar trabalhadores com sintomas
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
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O Ministério da Agricultura divulgou nesta segunda-feira (11) um manual para orientar os frigoríficos do país a atuarem diante da pandemia do novo coronavírus. Entre as medidas propostas estão o monitoramento todos os casos de Covid-19 entre seus trabalhadores e o afastamento, por pelo menos 14 dias, daqueles que apresentarem sintomas da doença.
O manual conta com 72 orientações. As medidas foram elaboradas conjuntamente, pelos ministérios da Economia, Agricultura e Saúde na última quinta-feira (7). A íntegra do manual pode ser acessada no site do Ministério da Agricultura.
Na sexta-feira (8), o G1 mostrou que mais de 60 frigoríficos em 11 estados do país estão na mira do Ministério Público do Trabalho (MPT) por conta do combate à pandemia do novo coronavírus. Nos Estados Unidos, os frigoríficos se tornaram um dos focos da doença.
Considerado serviço essencial, o setor de carnes não parou as atividades em meio às medidas de isolamento social impostas por estados e municípios e costuma ter aglomeração de pessoas na linha de produção. Com isso, há a preocupação de que a Covid-19 possa se espalhar entre esses profissionais.
O documento orienta os frigoríficos a fazerem uma “busca ativa” de casos da Covid-19 entre os trabalhadores, mas não sugere que a empresa seja responsável por promover a testagem de seus funcionários. Orienta ainda que, além de afastar quem apresentar os sintomas da doença, identificar todos os trabalhadores com quem a vítima teve contato para monitorar o contágio.
Além disso, o documento recomenda que os trabalhadores sejam informados sobre eventuais afastamentos de colegas. Também orienta que, no caso de contaminação de parentes próximos, o funcionário deverá ficar afastado das atividades por 14 dias, desde que apresente documentos que comprovem a situação.
As orientações do governo incluem, também, uma série de medidas que as empresas devem adorar para o transporte de trabalhadores e enfatiza a necessidade de uso obrigatório das máscaras de proteção facial no ambiente de trabalho.
Na linha de produção das fábricas, o documento orienta que um distanciamento de dois metros entre trabalhadores e que sejam instaladas barreiras físicas de materiais impermeáveis.
A continuidade da produção de alimentos foi um pedido do Ministério da Agricultura ao governo para que o abastecimento do país não fosse comprometido, bem como as exportações do setor, que trazem bilhões de dólares para o país.
Covid-19 em frigoríficos do país
A situação mais grave registrada até agora é no Rio Grande do Sul. Cerca de 16.345 pessoas que trabalham nessas instalações foram potencialmente expostas ao vírus, de acordo com o governo estadual.
Entre as cinco cidades com mais casos de coronavírus no estado, três têm frigoríficos: Marau, Lajeado e Passo Fundo – esta última lidera o número de mortes no Rio Grande do Sul junto com Porto Alegre, como mostra levantamento do G1.
Há pelo menos 120 casos confirmados da doença entre funcionários de frigoríficos do estado, sendo que ao menos uma pessoa morreu em decorrência da Covid-19, segundo a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul.
Também foram registrados aos menos seis “óbitos secundários” relacionados aos funcionários dos frigoríficos, ou seja, mortes de pessoas que tiveram contato domiciliar com os trabalhadores.
Autoridades de saúde do estado afirmam que o novo coronavírus se espalhou por nove unidades de processamento de carnes, mas não listou quais são as companhias ou unidades afetadas pelo surto.
Uma unidade da JBS foi interditada em Passo Fundo no dia 24 de abril por causa da doença, e a estimativa é de que mais de 60 pessoas foram contaminadas.
A empresa conseguiu na Justiça do Trabalho autorização para que a unidade voltasse a funcionar, mas, na quinta-feira (7), a Prefeitura da cidade prorrogou a interdição por mais 15 dias.
O Ministério Público gaúcho também pediu interdição por 15 dias de dois frigoríficos em Lajeado, das empresas Minuano e BRF, devido ao número de casos da Covid-19.
A Justiça do Trabalho decidiu nesta sexta-feira (8) interditar a unidade da BRF na cidade por 15 dias. A empresa disse que segue as orientações das autoridades de saúde e que irá recorrer.
“A Companhia vê com extrema preocupação esta decisão, uma vez que está cumprindo todas as medidas protetivas e protocolos indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Ministério da Saúde, especialistas e autoridades para garantir a saúde e segurança de seus colaboradores.”
No município de Marau, a BRF decidiu afastar os funcionários com mais de 60 anos e também as gestantes – medida que também foi adotada em todas as unidades da empresa no país.
Há também relatos de problemas em Santa Catarina. Na cidade de Concórdia, mais da metade dos contaminados pelo coronavírus são trabalhadores de um frigorífico, segundo a Prefeitura.
Há uma empresa no próprio município e outra na vizinha Ipumirim. Além disso, o MPT-SC investiga casos confirmados em funcionários de duas empresas de Chapecó.
Em Nova Veneza, um sindicato tentou interditar um abatedouro da JBS, mas a Justiça entendeu que a empresa está seguindo as orientações das autoridades. Na unidade, pelo menos dois funcionários testaram positivo para coronavírus.
No Tocantins, o município de Araguaína tem três unidades de processamento de carnes. Segundo apuração do G1, a cidade superou a capital Palmas no número de casos de Covid-19.
A capital havia registrado 124 casos nesta quarta-feira (7), enquanto Araguaína tem 163 casos confirmados. A diferença é que Palmas tem quase 300 mil pessoas e o município do interior 180 mil habitantes.
Na Paraíba, mais da metade dos casos confirmados da Covid-19 na cidade de Guarabira surgiram na mesma empresa, a avícola Guaraves, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde.
Em Mato Grosso do Sul, o Frigorifico Brasil Global, em Guia Lopes da Laguna, na região de fronteira com o Paraguai, decidiu suspender as atividades na quinta-feira-feira (7), após seis funcionários da empresa testarem positivo.
Pelo menos 18 trabalhadores foram infectados pelo coronavírus no frigorífico de Marau.
Brasil pode repetir os EUA?
A situação no Brasil leva a comparações com os Estados Unidos. Por lá, o sindicato nacional dos trabalhadores do setor disse, no final de abril, que mais de 5 mil funcionários de frigoríficos haviam sido expostos ao novo coronavírus.
As maiores companhias de carnes do mundo – incluindo Smithfield Foods Inc, Cargill, JBS USA e Tyson Foods – reduziram operações pela metade em cerca de 20 frigoríficos e plantas de processamento na América do Norte, à medida que trabalhadores adoeceram.
Isso chegou a afetar 17% da capacidade de abate do país. Com o risco de faltar carne, o presidente Donald Trump acionou uma lei de guerra para obrigar o funcionamento dessas indústrias.
Na avaliação de Alcides Torres, da Scot Consultoria, especializada em pecuária, nem o contágio em massa nos frigoríficos e nem a falta de abastecimento devem atingir o Brasil.
Para ele, dois fatores contribuem favoravelmente para o cenário no país.
- Os frigoríficos americanos são maiores e concentram mais a produção que no Brasil. “Diferente dos EUA, os frigoríficos no Brasil são pulverizados”, diz Torres, lembrando que, com isso, há menos funcionários por unidade e, em caso de interdição, a chance de faltar carne é menor.
- O próprio exemplo americano ajudou as empresas brasileira a se preparar para tomar medidas de controle.
“Os abates nos EUA são muito concentrados, em grande quantidades. E, na hora em que algum fecha, é um drama para quem vende o animal quanto para quem consome as carnes”, explica quanto ao primeiro aspecto.
Um exemplo é a carne de porco. Segundo dados da consultoria, 20 plantas frigoríficas abatem 70% dos suínos consumidos nos EUA. No Brasil, são 90 unidades de processamento dessa carne.
“Já estamos acostumados, ao longo do ano, com plantas fechando porque não conseguem comprar animais. É uma situação normal e nem isso afeta o abastecimento.”
Com relação ao segundo ponto, Torres afirma: “Os frigoríficos têm uma série de protocolos em relação à sanidade e ainda tem o MPT exigindo ainda mais cuidados. Antecipando a esse problema dos Estados Unidos, os frigoríficos tomaram atitudes defensivas”.
Dispensaram funcionários em grupo de risco, fazem medição de temperatura, espaçamento de funcionários e separação deles por times. Se uma pessoa desse time está infectada, a equipe inteira é afastada.”
Fonte: G1