Nem Lula nem Bolsonaro combatem corrupção, diz Moro
- By : Assessoria de Comunicação do Deputado Gonzaga Patriota
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Em entrevista ao Frente a Frente, que será reproduzida em instantes pela Rede Nordeste de Rádio para 44 emissoras, o ex-ministro Sérgio Moro, candidato do Podemos ao Palácio do Planalto, afirma que seus dois principais adversários – o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula – não têm compromisso com o combate à corrupção. Afirma que a era PT foi marcada por dois grandes escândalos – o mensalão e a Lava Jato – e que tem provas de que os governos petistas assaltaram a Petrobras.
“A própria Petrobrás diz que houve perdas com suborno. Isso está no seu balanço. Criminosos confessaram seus crimes e devolveram dinheiro. A gente viu políticos sendo processados. O que está acontecendo agora é uma falta de vontade política de combater a corrupção. E isso precisa de liderança. E além disso, decisões do STF também têm enfraquecido esse combate. Mas a responsabilidade principal é do presidente”, disse, referindo-se a Bolsonaro, que, segundo ele, também não tem compromisso em acabar com a roubalheira no País. Eis sua entrevista abaixo:
Merval Pereira, no O Globo de hoje, diz que Lula e Bolsonaro estão preocupados com o crescimento da sua candidatura. O senhor é um ameaça a quebra da polarização Lula x Bolsonaro?
Eu acabei de me filiar ao Podemos para construir um projeto para o País. Tenho conversado com especialistas e pessoas em geral para construir um projeto que seja consistente e fundado em princípios e valores. Não tenho me preocupado com esses possíveis adversários. De um lado você tem o candidato do PT e do outro, o candidato do Valdemar da Costa Neto e eles vão construir os seus projetos, embora o Governo atual me parece que já tem algum projeto para o País. Mas a ideia é que nos foquemos na nossa missão e aí a gente ganha a confiança das pessoas.
O senhor está confiante?
Sim. No final, quem vai decidir são as pessoas. Precisamos ter um projeto que melhore a vida delas. Isso envolve combate à pobreza, à desigualdade social e estabilização da economia, pois a inflação está alta e as pessoas veem isso ao irem no mercado e no posto de gasolina e constatam que o dinheiro que elas têm não compra o que comprava no passado. Está vindo, também, um aumento de juros, que é uma resposta do Banco Central, já que o Governo não tem feito sua parte. E uma parte do nosso programa, que também é importante, é o combate à corrupção.
Combate à corrupção é sua principal bandeira?
É uma bandeira que está no meu DNA. Acredito que esses adversários não têm condições de falar sobre esse assunto, já que um, na gestão do PT, foi responsável pelos dois maiores escândalos da história, o Mensalão e o Petrolão, enquanto que o Governo atual desmantelou o combate à corrupção. Eles falam que não tem corrupção, mas o que não existe são instrumentos de controle. Isso tem sido enfraquecido pelo Governo, e foi o motivo para eu ter decido a entrar na disputa.
O senhor se arrepende de ter sido ministro? Já ouvi muito a versão de que se o senhor não tivesse sido ministro seria eleito presidente sem sair de casa…
Vamos voltar os relógios para 2018: mais de 50 milhões de brasileiros votaram no presidente Jair Bolsonaro. Havia uma energia cívica e uma esperança. A gente já sabia que Bolsonaro era um personagem controvertido e já tinha sido um deputado bastante limitado, com declarações polêmicas, mas posso perguntar a qualquer um: “havia uma chance de dar certo?” Havia. Eu era juiz da Lava Jato, estava dando resultados e pela primeira vez nós vimos pessoas que cometeram crimes de grande corrupção, respondendo por seus crimes, inclusive cumprindo pena de prisão.
Mas a resposta do presidente não foi satisfatória. Faltou apoio dele aos seus principais projetos de combate à corrupção…
Eu sabia que iria ter uma reação muito forte ao combate à corrupção. Havia conhecido alguns magistrados na Itália, que tinham vivenciado aquela operação Mãos Limpas e eles me contaram o que aconteceu. Lá, depois de dois anos de avanço, veio muito tempo de retrocesso, pois o sistema político não aprendeu a lição e quis voltar à impunidade de antes. Então, o presidente me convidou e eu pensei que não poderia negar essa chance de dar certo e aceitei. E, durante meu período, eu só trabalhei naquilo que eu prometi que iria trabalhar. Combatemos o crime organizado, conseguimos uma redução da criminalidade, com 19% a menos de assassinato, defendi e autonomia da Polícia Federal.
O senhor deixou apenas pela interferência indevida do presidente na Polícia Federal?
Apresentei o projeto de Lei Anti Crime, mas quando vi que o presidente não apoiava meus projetos e interferiu na Polícia Federal, vi que havia chegado a hora de cair fora. Vale salientar que a Polícia Federal de hoje não é mais a da época da Lava Jato. A gente não vê mais grandes operações. Temos bons profissionais, mas falta incentivo. Quando vi que o Governo havia abandonado essa pauta, saí. Poderia estar lá sendo ministro até hoje, mas não estava lá pelo cargo, sim pelo projeto.
Apostar em Bolsonaro foi um tiro no escuro?
Olha, Magno, não acho que foi um tiro no escuro. Foi uma decisão difícil na época, pois já tinha 22 anos de juiz. Perdia todos os benefícios da minha condição de juiz e era uma situação complexa de carreira. Entendi que havia uma chance de dar certo, avançar como país, e isso valia. Muita gente me dizia que já que o presidente tem esse perfil autoritário, no Governo eu seria uma garantia à lei. Então, achei que tinha esse dever com o País. Mas quando eu percebi que eu era sabotado, saí.
Foi a decisão mais acertada?
Acho que demonstrou coerência de minha parte. Estou voltando agora na condição de pré-candidato ao Planalto porque esse projeto de combate à corrupção e de melhoria da vida das pessoas tem que ser retomado. Também foi uma decisão difícil, mas precisam ser tomadas. Se as pessoas não tomarem decisões difíceis, o País não vai para frente. Inclusive, aproveitando o espaço, queria dizer que escrevi um livro chamado “Sérgio Moro contra o sistema da corrupção” e ele vai ser lançado em Recife, no domingo e todos serão muito bem recebidos.
Há uma versão corrente, principalmente depois da sentença do ministro Edson Fachin, do STF, que todo seu trabalho foi parcial. No livro, o senhor faz essa defesa?
Eu tenho muito orgulho do trabalho que fiz à frente da Lava Jato. Falam muito das minhas decisões, mas elas foram mantidas, pelo Tribunal de Apelação de Porto Alegre e pelo Tribunal de Justiça. Agora, o Superior Tribunal de Justiça (STF) entendeu que existia uma perseguição que nunca houve. O STF comete um grande erro judiciário ao começar a anular essas condenações de pessoas que foram condenadas a crimes de corrupção. Mas as pessoas sabem a verdade. Sabem que a Petrobrás foi roubada, dia após dia.
Como provar que a Petrobrás foi assaltada?
A própria Petrobrás diz que houve perdas com suborno. Isso está no balanço. Criminosos confessaram seus crimes e devolveram dinheiro. A gente viu políticos sendo processados. O que está acontecendo agora é uma falta de vontade política de combater a corrupção. E isso precisa de liderança. E além disso, decisões do STF também têm enfraquecido esse combate. Mas a responsabilidade principal é do presidente.
Quanto aos que fizeram delação premiada e devolveram fortunas, pela brecha jurídica aberta pelo STF eles podem pedir esse dinheiro de volta?
Essa é uma preocupação, mas acho que não chegará a esse ponto. Seria um tapa na cara dos brasileiros. Revela, no entanto, o quanto a gente tem que estar comprometido no combate à corrupção. As cortes de justiça têm que ser severas e precisamos reformar a legislação. Por exemplo, o foro privilegiado, a gente sabe que não funciona. Isso tem gerado impunidade. O que precisamos ter é uma liderança que se preocupe com as pessoas.
Como o senhor está falando para o Nordeste, não poderia deixar de perguntar sobre a Transposição do Rio São Francisco. Qual sua opinião e o que já tem em termos de propostas para o Nordeste?
O Nordeste é uma região importante, tem um povo maravilhoso e criativo. Precisa de alguns incentivos para que possa diminuir as desigualdades sociais. Ainda existe muita pobreza, então precisa ter uma atenção especial e projetos de desenvolvimento econômico. Projetos esses que não podem ser retidos por grupos específicos, mas que possam beneficiar toda a população. Esse projeto da transposição tem um propósito muito importante, pois tem a intenção de levar água a regiões carentes. Mas ele não resolve todos os problemas. E precisa haver cuidado para que não gere problemas ambientais. Isso precisa ser feito com cuidado para que o Rio não pereça por conta disso.
Como ir além disso?
Não adianta levar água e não levar outras coisas que facilitem a vida das pessoas. Por exemplo, facilitar o crédito na região, expandir a atenção a quem está preso na armadilha da pobreza. Um dos nossos planos é criar uma força-tarefa de erradicação da pobreza. Esse programa de transferência de renda, que era o Bolsa Família e agora se fala em Auxílio Brasil, é importante, mas não suficiente para permitir que as pessoas escapem da pobreza. Precisa haver acesso à educação, chance de emprego, saúde. Então, nosso plano é ter uma Agência Nacional de Erradicação da Pobreza.
Esses projetos poderiam ser feitos através da Sudene, hoje um órgão esvaziado?
A governança para essa força-tarefa ainda está sendo construída, estamos bastante distantes de outubro de 2022, e isso está sendo feito com especialistas. Em princípio, a ideia é não criar estruturas novas, mas trazer os melhores servidores dos Ministérios já existentes e criar uma governança dos melhores, que é o que a gente precisa para erradicar a pobreza. Queremos resolver todos os problemas em um único órgão, sem burocracia ou ter que mandar ofício para lá e para cá.
Aqui no Nordeste, Lula tem os maiores índices de intenção de voto. O senhor pensa em buscar um vice do Nordeste?
Trata-se de uma questão prematura. O que é importante é um projeto. A gente ouve falar que o Brasil é o país para o futuro e esse futuro nunca chega. Nós não conseguimos vencer problemas do passado. A gente tem visto corrupção, pobreza e inflação crescerem. A gente precisa resolver esses problemas e olhar para o futuro. É o mundo digital, educação de qualidade, com internet e tecnologia nas escolas. Precisamos preparar os estudantes para os desafios do emprego do futuro. Precisamos falar em energia renovável e conservação do meio ambiente. Temos que nos preocupar com mudança climática e nos inserir de novo no mundo com um país respeitado. Não estou preocupado nesse momento com essa questão de vice.
A prisão de Lula foi justa?
Tenho orgulho do que fiz. A prisão foi autorizada pelo STF em março de 2018. Quem ordenou a prisão do Lula foi o Tribunal de Apelação de Porto Alegre. Eu só cumpri a decisão. E a gente tinha, durante o governo do PT, um modelo de corrupção instaurado na Petrobrás. Isso é um fato inegável. Agora, nunca tive animosidade com Lula. Todas as pessoas merecem respeito. Acho que quem errou precisa arcar, mas isso não significa que a pessoa vá ser movida por sentimento de vingança ou punição. Eu fui movido pela lei”.
Fonte: Magno Martins